quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Memórias 17

Amadora
1-9-1989 Deserções

Causas profundas, mas subestimadas
Vida sexual e Maturidade

A sexualidade aparece muito cedo e atravessa, de facto, um período longo, bastante complexo. Com a adolescência, chega, por fim, a última fase da maturação: acesso à maturidade; descoberta da mulher com quem e para quem ele deseja viver.

À custa de esforços e repetições, recaídas várias, muitas insistências e grandes frustrações; recomeços generosos e amargas decepções, atravessa o jovem este período longo e assaz
importante da sua existência, em que tenta, a valer, disciplinar a sexualidade, afim de vivê-la como ser humano e não como animal,
Deve ser refreada, tornando-se humana e virtuosa. De outro modo, fica ela depois no estado selvagem, tornando a pessoa verdadeiro joguete de paixões vergonhosas, o que é perigoso para a sociedade.
Elementos destes a ninguém interessam, que não têm paz nem a deixam ter. Só alcançando maturidade bastante, pode o nosso jovem viver o amor, humano e cristão.

Descoberta a mulher, fica ainda sujeito a um longo tirocínio, que só está completo, quando na verdade se fixa para sempre em una
delas.a q uem passou a amar, por ela própria.
Enquanto não houver essa fixação, não há maturidade

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Amadora
2-9-198 Cont.
Decisões a tomar.Quando? Em que condições?
Alcançada, pois, aquele maturiade, quer sexual quer afectiva, já pode optar. Entretamto, se não pôde chegar lá,não tem liberdade para o fazer. Está inseguro, receia de tudo, vacila a fundo, na afirmação de si mesmo, diria ate, nos meios de conquista.
É que foi barrada a evolução natural: pré-adolescência, virilidade, maturidade. Basta ser incompleta essa evolução, um tanto demorada ou protelada, Avança em idade, mas pára, afinal, na esfera psicológica,social e biológica.

O caso de um sacerdote, no passamento da mãe... as suas atitudes, reacções e dizeres, como eu já vi, se não vivi até, mostram à evidência, o atraso psicológico e ramos afins. Num sujeito destes, não há de facto bastante maturidade, afectiva e sexual.

A pessoa estacionara, havia muito já.Só tardiamente descobre a mulher, em tempo inoportuno, irremediável já. Não tinha segurança nem sequer liberdade, para fazer opções. Criou, já se vê, uma situação de cunho artificial, para que ele não estava fadado.
É infeliz e não serve a ninguém! Elemento inútil! Ninguém o compreende, passando-se o mesmo, dele para os outros! No entanto, dentro e fora, exigem todos que ele se mantenha e cumpra os seus deveres! É querer o impossível, com toda a certeza!
Como há-de ser feliz, se está desacertado?! Só Deus, por enquanto, é que desce indulgente aos recessos mais íntimos do seu peito esfacelado
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Amadora
3-9-1989 Cont,
Será, de facto, possível o celibato dos padres?
Para responder, suponho existirem, pelo menos, dois factores: 1 .
sujeito equilibrado; 2 . bastante maturidade, afectiva e sexual.

Isto supõe no jovem um longo período, a seguir à puberdade, sucedendo-se as fases da sua evolução, à margem de
obstáculos que prolonguem ou adiem, retardem ou impeçam o que é essencial, deveras espontâneo e universal. ( Refiro-me apenas aos meios naturais)

Escusado é dizer que o método usado, nos anos 30, era contra-indicado. A pressão exercida, já no próprio lar, já no Seminário; a quase espionagem; o resguardo e cuidado que rodeava o jovem era sempre de molde a operar o mau êxito, gerando tragédias.

Quanto mais generoso, simples e dócil fosse o rapaz, tanto maior o perigo de lançar-se no "abismo."Sem maturidade, não há celibato! Mesmo com ela, exige-se oração, vigilância constante e
mortificação, já que é renunciar a um jeito de ser, acima do natural! " Não é bom que o homem esteja só!"

Apesar de tudo, com os meios divinos e também os humanos, fará maravilhas!
Os outros infelizes estão condenados, em sua maioria, a ficar pelo caminho.
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Amadora
4-9-1989 Cont.
Os meios divinos sabemos quais são. Quanto aos hunanos, temos o diálogo, a vida intelectual ou ainda artística, a
sublimação ( encaminhar, em sentido positivo, as energias que restam, absorvendo o tempo nas Letras e Artes ou ainda nas Ciências, tanto sagradas como profanas)

Considero erro grave a atitude assumida por João Paulo II,
pretendendo barrar a onda universal e já irreversível do clero insatisfeito. Em meu entender, devia seguir o exemplo de João XXIII e Paulo VI ou então mudar o nome ( João Paulo). Por que
se afastou deles?!

Todos os padres que fizessem, com bases, o pedido sólido,
deviam ser atendidos, com toda a presteza e boa vontade.
Quem sabe as dificuldades, o martírio constante, o impossível humano que vai naquelas almas?! Quem suspeita da angústia,
gemidos e lamentos que se erguem de seu peito?!

São eles quais náufragos, prestes a morrer, podendo alguém salvá-los do perigo! Se eles imploram é que precisam!

O povo cristão, uma vez elucidado, não se escandaliza, o que não sucede, quando surgem casos que são de arrepiar. Seja
exemplo agora o do Abbé Noyers, de quem o jornal Le Monde falou com acerto e muita argúcia
Em conclusão: celibato livre, como Jesus Cristo exemplificou, dando o Sacerdócio a homens casados. O mesmo fizeram os 12 Apóstolos.
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Amadora
5-9-1989
Rumo a Guimarães.
Entrara no comboio, em Santa Apolónia.,com destino ao Porto. Em Campamhã, mudaria logo, pois a meta final era mais a Norte. Antes disso, porém, haveria depois, mais um transbordo, ao chegar à Trofa.
Bom. Como o tempo urgia, entro apressado, uma vez que a
hora estava em cima. Houvesse ao menos tempo de comprar o bilhete! O meu cartão dourado permitia a redução para metade do preço. Até aqui tudo ia bem.
Instalado que fui. num dos vagóes, acomodo na rede a maleta de viagem e sento-me prestes. Olhando à volta, noto com agrado que tudo corria bem.
Gente educada, boas maneiras, aprumo e asseio! Sentia-me feliz!
Nisto, chega o revisor, olha para o bilhete e diz, sem delongas: "Pode ir em 1ª, mas nesse caso tem de pagar mais! Este cartão só dá para 2ª!
Ouvi o funcionário, sem interromper, dizendo no fim: entrando à pressa, nem me apercebi de que estava em 1ª! Vou mudar já!
Lançando mão dos pertences, enfio então pelo corredor, não sabendo ali quando é que estaria, em 2ª classe.. Nesta conjuntura, vem-me ao nariz um cheiro esquisito. Era o sinal! Estava, de facto, no lugar devido.
Que pena eu tive em mudar de classe! Pensando no caso, lembrou-me o apartheid. Também ele existe, cá entre brancos! Sim! Disccriminação e até desdém não faltam por ai!
É disfarçado? Que importa isso! Não faz doer!

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Guimarães
6-9-1989
Autos de Fé
Estremece em peso todo o meu ser, apenas de ouvir os minúsculos termos!.
Nem era para menos! Tal barbaridade conspurca uma época, melhor diria, os homens de então! Com ser isto assim, os autos-de -fé não cessaram, ainda.

Foi o caso, afinal, referido em Guimarães. Elemento fidedigno do Magistério Primário o trouxe ao de cima! De que se trata? Vejamos então
Havendo triunfado a Revolução de Abril, exaltaram-se os ânimos, criando situações, deveras alarmantes!Qualquer livro ou jornal que então falasse do grande Salazar ou apenas mencionasse o insigne estadista, era logo queimado, na Praça Pública.

Mais: a própria autoridade tinha de assistir! Era obrigatória a sua presença Acho este facto igual barbaridade! Efectivamente, quem há neste mundo que agrade a todos?! Quem existe aí que não cometa erros?! Será isto bastante, para amarfanhar seja quem for,
ignorando tantas coisas que são de alto relevo?!

Só os detractores é que têm direitos?! Os simpatizantes nada representam?! Admito a crítica, mas construtiva, justa , aceitável.
Ingrata má vontade e rancor mesquinho ódio,vingança. e revolta não formam ambiente. para fazer História e julgar as pessoas, de modo equitativo.
Aponte-se o mal e o bem juntamente.
Fazendo assim, ninguém aprovaria os autos-de-fé!


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Guimarães
7-9-1989
Encontro Impensado.

Após 75, nunca mais o vira. Lembrava-me dele. com muito carinho e funda saudade. É que, nesse ano, em que tanto sofri, por terras adustas, já nos areais, a perder de vista, já nas densas matas, tecidas de espinheiras, foi Padre Abílio a mão do Senhor, para dar-noa abrigo.

O bom Redentorista chefiava, em Angola, a Missão do Cuangar, ali bem juntinho à fronteira da Namíbia. Nós, à data, pobres foragidos, estávamos ao alcance dos nossos inimigos.

Nem casa nem pão!
Trabalho e suores tudo ficara, nessa Angola mártir e inesquecível.
Para mais angustiar.nos, vinha ainda o clima, inóspito e duro, cravar suas garras, aduncas, penetrantes, nas almas doridas!

Que futuro, pois, seria o nosso?! Para colchão, só a terra virgem! Como tecto acolhedor, a abóbada celeste!
A esperança fenecera, tendo-se apagado a luzinha da fé, nos homens deste mundo! Entretanto, surge, por Deus, o bom Redentorista, oferecendo abrigo, amparo e pão.

Foi como um pai, imolando-se por nós, sem fugir aos trabalhos que o solo exigia! Havia na Missão um pouco de tudo, para os proscritos, sem dinheiro nem alento! Hortaliças e ovos, feijão e o mais era tudo gratuito! A alma do bem fazer? O bom Padre Abílio,que avistei em Guimarâes, miito casualmente! Alegrou-se
de o ver o meu coração!

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Braga
8-9-1989 Feira Nova
Um dia, por tarde, vem o meu amigo, Antero Tavares e diz, em surdina: " Que tal, agora, um passeio a Braga?"
-- Óptima ideia, volvo eu diligente. Negar-me a tal não é comigo!
Meu dito, meu feito! Ele e eu, a esposa,Belém e o nosso Carlinhos, finalista de Direito caminhamos logo para a viatura, bem acomodada, no rés-do-chão.
Por campos a sorrir, envoltos na frescura que o Minho faculta, desliza o automóvel, com rumo directo à Roma portuguesa.
Era uma surpresa que intentavam fazer-me.
Na verdade, fiquei deslumbrado, com tanto espaço, ocupado ali pelos artigos. Tudo com ordem, enorme asseio, delicadeza e compostura!
As registadoras, que maravilha! É a última palavra, no campo da técnica! Jamais vira tal! Põem-se os objectos em frente da máquina? Tanto basta, afinal, para ela fornecer os dados precisos! Se acaso falasse, não diria mais! Autêntico assombro!

Cada vez mais, é o homem substituído pela técnica moderna! A máquina prestimosa faz a mesma coisa, com grande vantagem.

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Guimarães
9-9-1989
Paisagem Minhota
Em tempos idos, lia com prazer um livro precioso, que tem por autor. se eu bem me lembro, Dom António da Costa. "No Minho" é o nome do livro.

Desde essa data , fiquei apegado àquela porção de terra portuguesa, alimentando o sonho de pôr-me em contacto, logo que possível. Por diversas vezez o levo já feito, a última das quais vai agora decorrendo. Não sei, realmente, que segredo é este ou que belo condão é pertença do Minho! Efectivamente, nunca envelhece, nem perde o encanto

As cores da Natureza, a frescura dos campos, o mimoso das
culturas e o arranjo meticuloso das leiras cultivadas formam um todo que nos enche a alma e jamais se esquece. Entretanto, não é só a Natureza que seduz e enleva o bisonho visitante. As suas gentes louçãs enfileiram igualmente no tablado geral.

Também elas avivam, de forma singular, o formoso colorido e a própria graça das terras que habitam. Suas festas e bailados, como as diversões e assim os trajos, usos e cantares, labutas diárias e a fé das gentes, aliada sempre ao génio expansivo, aberto, risonho e comunicativo, conferem dinamismo, vida e sortilégio à paisagem minhota que, na verdade, é sempte nova, por mais que a visite.

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4Guimarães
10-9-1989
A Força da Amizade.

Em anos decorridos, li numa brochura , esta frase-conselho: " Não deixes crescer a erva, no caminho que leva à casa do teu amigo!!
Achei-lhe então sumo e colorido, razão pela qual a deixo aqui, tecendo para já diversos considerandos, a respeito do as sunto.
Havia 4 anos que tinha visitado o casal amigo, Belém.- Tavares, ao qual me prendem laços antigos e sincera amizade, bastante comprovada, ao longo do tempo. Desde 1950 ou um pouco mais, criaram-se vínculos, harto resistentes, robustecidos ainda , com o tempo a rodar.

Não obstante os anos que tudo alteram, desfigurando até a s próprias gentese mudando as vontades, a nossa amizade jamais sofreu rombos ou teve baixas.. Bem ao invés, tornou-se mais rica
fértil e nobre.
Cáestou agora no lar afortunado que Deus brindou, com belos presentes: o Carlinhos e a Titinha ( Cristina).

A instâncias de todos, venho a Guimarães, sempre que posso, durante o Verão. È um repouso total, um fundo mergulhar
em gratas lembranças... um estimulante, poderoso e forte, de nobres afectos.
Se Guimarães é bela para mim. deve-o também aos vínculos firmes da nossa amizade.
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Guimarães
11-9-1989
"Memorial do Convento"

Conhecia-lhe o nome e tanbém a publicidade que se fazia da obra. Havia, pois, em mim um certo desejo, curiosidade, talvez, em tê-lo à mão, afim de aquilatar, por maneira directa e sem preconceitos, do seu real valor.

Pus-me,sem demora, a lê-lo, com alma, aqui em Cuimarães, onde o meu amigo, o bom hospedeiro, mo pôs ao alcance. Avancei por ele, chegando ao meio ou um pouco mais. Várias insistências, para levá-lo ao fim, não tiveram êxito! Por esta razão, houve de cessar!
Apesar de tudo, fiz o meu juízo, que não é, decerto, fruto dum oráculo nem a última palavra. Os critérios dos homens são sempre falíveis e sujeitos a emendas, quando não até, a reviramentos!
Não proponho, agora, focar.evidamente, o lado positivo, que a obra tem e que eu, de facto, reputo avantajado, em José
Saramago, no qual bem diviso garra de escritor. Entretanto, para o meu gosto não foi talhado, preso como estou aos moldes clássicos
ou seja tradicionais.
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Guimarâes
12-9-1989 Cont,
Vejamos um pouco do lado negativo, segundo o mreu critério. Em primeiro lugar. a pontuação. Desusada ou escassa, torna demorada, se não incompreensível, passos variados do livro em causa. Por diversas vezes, isso ocorre.
Efectivamente, a pontuação é um grande auxiliar, afim de assimilarmos o pensar do autor.

Outro enorme contra é ficar impenetrável a entrada nas páginas. Dá-me a sensação, harto desagradável, de mata densa! O uso de parágrafos e mudança de linha convidam os olhos a fixar-se ali. São quase respiradouros que aliviam a atmosfera, quando esta é pesada, obscura e húmida.

De vez em quando. há golpes na sintaxe e no uso dos pronomes, citando para exemplo o emprego de "cujo".Nota-se ainda o fmi verrinoso de atacar. frontalmente, situações e usanças que merecem respeito e mais delicadeza. Se nem tudo é bom, no tempo decorrido, muita coisa há de valor eterno.Mexer em tudo isto é negar a fundo as nossa raízes!

Os valores eternos são intocáveis! Se alguém não crê neles, deve respeitá-los. como atenção às outras pessoas. que os amam e vivem!
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Coimbra
13-9-1989
O que trago encerrado, no meu coração.
Deixei Guimarães, onde a vida correu, sem dar por isso. Lembra-me, a propósito. o que cita Bernardes, mestre eminente da Língua Portuguesa : " Mil anos, à vista de Deus, são como o dia de ontem que já passou!"
Tudo o que é belo, agradável e bom pronto se escoa da nossa alma! Foi assim, realmente, o caso pessoal! Nem dei pelo tempo! Gostaria de travá-lo, impedindo sua marcha que foi a galope! Se eu tivesse poder!...Mas, por finito, e limitado, fico sem
alcance!
Afastei-me, pois, dum lar incomparável, onde tudo me sorria! Nada faltou de quanto adorava ou em que havia fundo interesse! Experimentei o calor da amizade e a sua influência, na vida presente. É um ponto firme de apoio seguro, uma âncora forte, para descansar, após os vendavais em que a vida nos lança.

Por tudo isto e o mais que aí falta, deixei a cidade, mas ficou para sempre o grato perfune da compreensão, amizade sincera, harmonia sem par!
Jamais esquecerei estes bons amigos, a quem fico grato e muito penhorado.
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Coimbra
14-9-1989
Jardins.
Em qualquer lugar, impressiona breve a existência de jardins, Dão a toda a gente um ar de leveza,, encanto e frescura, que infunde nas almas boa disposição e doce bem-estar!

Por estas razões, uma vez chegado a qualquer cidade,
encaminho-me breve para zonas enfloradas, afim de extasiar-me,
aspirando o perfume e, ao mesmo tempo, deleitando os olhos.

É assaz repousante, dulcifica a vida, gera inspiração!
Como é agradável, sentar-se alguém, relaxando em paz, num banco de jardim, à sombra amiga duma árvore copada, conversando alegre ou seguindo num livro seu belo conteído!

Entretanto, nem sempre é igual o efeito produzido!
Se o relvado é verde, parelho e mimoso; as plantas virentes e bem ensoalhadas; se as flores nos atrem, com seu colorido e perfume
inebriante... é então o cúmulo!
Também favorece a boa arrumação e rigor de simetria!
Tudo isto vi eu, lá por Guimarães e, de modo igual, na Lusa Atenas!
Mas, se olho agora para Lisboa e logo comparo, encho-me em breve de infinda tristeza!
Porquê?! Santo Deus! Sem gosto nenhum! Relvados sem viço! Imundície no chão! Que direi eu?!
Apetece fugir, de olhos bem cerrados, impedindo o natiz de exercer as funções que lhe são habituais!

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Coimbra
15-9-1989
Ao entrar no vagão, deparou-se-me ali um caso lastimoso, que inspirava compaixão, irritava os nervos e fazia pensar. No compartimento, havia dois brancos, em frente um do outro. Quatro pessoas era a lotação. Acontecia, porém, que um vulto de homem, bastante corpulento, se projectava ali, a todo o
comprimento, sustentando a cabeça, a nível superior, rentinho à janela.
Os vizinhos da frente iam constrangidos e muito desgostosos, por tudo o que viam. Reprovando embora, não comentavam, porque, ao nesmo tempo, se enchiam de pena.

Ele, porém, ressonava fundo, inteitamente alheio às sacudidelas que lhe dava o revisor.Tudo infrutífero! Voltavam-no dum lado e logo do outro: o mesmp que nada!
Figurava, nessa hora, o sono da morte, enquanto dos lábios escorria a baba, sempre, sempre em fio! Isto, assim, gerava funda náusea!
Alguém, então, se lembrou do "apartheid" africano.
Não obstante isso, ninguém ali houve que o não defendesse, quando o revisor lhe pediu o bilhete que ele não encontrava!
Gostei daquela acção que todos partilharam,

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Coimbra
16-9-1989
Lagos e Tanques.
Pela sua exiguidade. não assenta bem o primeiro nome que vem no topo. Depósitos de água, no meio dos jardins, são causa de atracção e lugares de enlevo, para toda a gente, de modo acentuado para os pequeninos.

O céu imaculado reflecte-se neles, emprestando às águas sua cor de magia. que é, de facto, o azul! Como espelho de cristal, apresenta-se ali a imagem buliçosa da inquieta pequenada que se revê, com hilaridade, nas bordas protectoras.

E os lestos peixinhos, fazendo acrobacias. quando ali se deslocam, em vários sentidos? Embasbacam-se os meúdos, e até os adultos folgam imenso de os ver actuar!

É,pois, certamente um lugar de atracção que todos procuram.
O que fica exarado apenas tem vez, estando limpinhos!
Inversamente, causam logo nojo, repelindo os visitantes. É o cheiro nauseabundo de várias matérias em decomposição: cascas de frutos; restos de comida; peças vegetais; pontas de cigarros; pedra meúda e latas velhas; paus e o mais!

Estes ingredientes roubam ao líquido todo o seu brilho!
Pois a água?! Turva e poluída, imunda e lamacenta, exala um cheiro que faz arredar! O espanto e desconsolo que tudo isto gera!

Uma desolação! Fica a gente embaçada, caindo no silêncio!
Tão grande é o choque... tamanha a decepção!
Bem me custa dizê-lo, mas de facto, é isto o que vejo, nos
jardins da nossa Lisboa!
Estou agora focando a Praça Albuquerque, de modo especial.
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Coimbra
17-9-1989
Trabalhando em Lisboa, deixo-me levar pela curiosidade, fazendo o paralelo entre as várias cidades. Teoricamente, devia ser Lisboa a servir de norma, pois tem obrigação que lhe advém da classe. Quando, porém, sucede exactamente o contrário disto, fico cheio de tristeza e assaz deprimido.
O caso triste ofereceu-se à vista, no mêsde Setembro, naquelas cidades, em que me detive: Guimarães e Coimbra.
Aprecio imenso o cuidado e esmero que nestas verifico.

Lisboa, realmente , fica sem dúvida, a nível inferior! A classificação é bastante baixa! Ruas conspurcadas, onde tudo aparece, com cheiros e dejectos de toda a natureza! Cascas de frutos, pontas de cigarros, escarros e saliva. Tudo o que importuna e faz arredar não encontro eu, nas cidades visitadas!

Sei muito bem que não é somente das autoridades a culpa do
facto! No entanto, há muito a fazer, para igualar a Coimbra- Doutora e a cidade- mãe, onde veio à luz o insigne fundador do
Portugal moderno!
Como dispõe bem uma cidade limpa!

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Coimbra
18-9-1989
Monumentos
Embora já me encontre, na zona do Mondego, que alberga Coimbra, vai o meu pensamento para alguns monumentos que vi em Guimarães.
Antes de mais, vem a talho de foice a igreja de S. Torcato. Nem eu sabia de coisa tão bela, ignorando também a história curiosa do Santo pregador. Fez-me impressão o caso em foco! Num meio aldeão, já nos arredores da bela cidade, ergue-se o templo, com duas torres.que direi soberbas!

Está ela, agora, em vias de acabamento e esmaga o visitante, pela sua majestade! As torres altaneiras que se avistam de longe, imprimem ao templo um cunho de grandeza, fundo mistério e religiosidade!
No interior, encontra-se incorrupto o corpo do Santo, que teria pregado o Santo Evangelho, após S. Tiago, já em terras da Galiza. já seguidamente, no Norte de Portugal.

Junto do corpo, fiquei imobilizado, remontando a velhos tempos, em que a fé se pregava às gentes da Península.
Queiramos ou não, ficamos sem fôlego, ante um corpo de séculos, que o Céu agradecido preservou da corrupção.

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Coimbra
19-9-1989
Colegiada famosa da Senhora da Oliveira.
É bem anterior à própria fundação do Portugal moderno.
Foi Mumadona a sua autora, reinando em Leão Ramiro II, que era seu sobrimho
Daquela benfeitora conserva Guimarães uma bela estátua, para recordar sua grata memória.

Logo de início, foi ela convento, sofremdo com o tempo várias alterações e tendo finalidades,bastante diversas.

Este monumento, a Colegiada, é dos mais venerandos, pois foi ali que D. João I, rei de Portugal, fez uma promessa a´Senhora da Oliveira: se vencesse os Castelhanos, em Aljubarrota, garantindo assim a nossa independência, mandaria erguer uma formosa igreja, no dito local e faria descalço todo o percurso, de padrão a padrão.
Estes ambos sinalizam os termos duma longa Rua, na bela cidade,
a qual hoje, ainda, conserva, de facto, o nome do Rei.
Juntamente, faria também oferta dum cordão de ouro, cujo
comprimento seria igual ao dessa Rua.

Conservou-se o dito, no Museu da cidade, o qual dá pelo nome de Alberto Sampaio.
Ao que dizem ali, foi ele roubado por mãos criminosas e até sacrílegas, após 74. Junto com ele, desapareceu a coroa real, que D.João IV oferecera à Virgem, se vencesse os Castelhanos, na
injusta Guerra da Restauração.

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Coimbra
20-9-1989
Uma Pousada: Santa Marinha (Guimarães).
Por tarde calmosa, diz o meu amigo, Ribeiro Tavares: " Neste dia, vai ter uma surrpresa! Meta-se aí no carro e não olhe para trás!"
Fiz-lhe a vontade, que não sei resistir a dados convites, feitos por amigos. Ao fim de alguns minutos, subia o veículo o meio da encosta que leva a Santa Marinha.

Robusta construção, feita de granito, logo se impõe e fundo
nos prende. Em redor, um primor de jardim, que fascina os olhos; lá mais ao longe, a sebater-se já, no extremo do horizonte, uma vista deslumbrante!
Agora, estamos já dentro. Alguém me diz então que esta mole de granito, uma quase fortaleza, remonta decerto à era longínqua de Dona Mafalda. Perde-se, pois, na origem remota do Portugal moderno!
Primitivamente, foi ali um convento de frades Agostinhos; mais tarde, porém, seria, ao que dizem, Universidade e já, recentemente, deu em Pousada que, segundo consta é, sem qualquer dúvida, a mais rica da Europa.

Que belas sombras, à volta do edifício e quão repousante é o seu interior! Olhando os móveis, os quadros parietais e vetustas imagens, somos transportados para além do tempo, admirando a fé dos nossos Maiores e as suas realizações, que deveras nos assombram, volvidos tantos séculos!
Funda impressão me causou esta Memória, que a cidade-berço guarda tão ufana!
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Coimbra
21-9-1989
Ainda os Monumentos.
Guimarães para mim era desconhecida, do que muito me pesa! Como Santarém, Évora ou Braga, Coimbra e outras, para não dizer mais, cada passo que dêmos é logo uma surpresa... um
eco do passado... uma voz tonitroante, a falar-nos de outras eras.

Vem agora a pêlo a igreja de S. Francisco, uma obra-prima da nossa arquitectua, Não é este. porém, o aspecto que me prende!
É que ela, afinal. como a de S.Domungos, achavam-se outrora junto à muralha, o que levou D.Dinis a fazê-las deslocar,
pondo-as nos sítios, onde hoje se encontram. Era homem de visão o Rei-Lavrador!

Efectivamente, havia grande perigo de servirem para assaltos, em caso de guerra.Quem descansaria, dentro da muralha?!Escaladas as igrejas, facilmente penetravam no recinto desejado.Por pouco, afinal, o Rei-Lavradir lhe não sentiu os efeitos, quando mais tarde surgiu a guerra entre ele e o filho.
Vale mais prevenir do que remediar!
Além disso, mandou rebaixar u chão exterior

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Coimbra
22-9-1989
O Carvalho-Gigante ( Guimarães).
Com pena imensa, vi.o tombado, ali bem perto de Santa Marinha.

Comoveu-me fundo a sua prostração. Caído no solo, jazia o
arcaboiço, sem alento nem vida, qual traste inútil! Entretanto, ele é coisa de preço, venerando até, pela sua antiguidade! Pois não disseram remontar o seu início ao tempo glorioso de Afonso Henriques?!
Nunca, em vida minha, eu vira alguma vez um tronco assim!
Um diâmetro enorme! Uma corpulência jamais igualada!
Figurou-me, desde logo, o vulto gigante do nosso primeiro Rei. Este caiu também, já de maduro, após longo reinado, mas o dito Carvalho ficou ali de pé, arrostando con os séculos, para dar testemunho e falar aos vindouros.

Embora caído, inerte e vazio, ainda foi eloquente, no que então me disse. Temporais medonhos, ventos furiosos, longas invernias e verões ardentes a tudo resistiu aquele velho tronco!

Tive enorme desgosto de que não fosse amparado, mantendo-o no jeito em que sempre estivera! Por que não ajudá-lo?! Bem o mere- cia, pela sua coragem, robustez e tamanho!
Nem entranhas já tem! Corroído e desfeito, apresenta só casca, aderente a pouco lenho! Apenas desta forma o vento importuno conseguiu derribá-lo!

Fica-te para aí, venerando testemunho de glória e grandeza,
luta e conquistas! Só a negra morte fará que eu, um dia.
venha a esquecer-te!
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Porto
23-9-1989
Embora me encontre, na cidade invicta, não olvido Guimarães e suas recordações.
Cabe agora a vez à grata digressão que fizemos um dia, pela Serra do Marão. Com tanta largueza e tamanho à-vontade, nunca ali passara. De facto, agora, é um regalo voltear, por aquelas paragens. A estrada IP4 lança-nos em breve na grande solidão..

Como há-de ser bela horrenda trovoada, no cume solitário!
Descampada, sim, mas bem arejada, oferece aos olhos espectáculo sem par!
O topo da montanha parece, às vezes, tocar no céu! Que maravilha! A pureza do ar, a solidão envolvente e o silêncio de túmulo jamais esquecerão, no decurso da existência!

Ao longo da estrada, avistámos uma placa, onde lemos o seguinte:"Vilarinho da Samardã"
Logo nos lembrou o grande escritor Camilo Castelo Branco, pois ali passou uma parte da vida.
Não tem ele um trecho magistral, em que descreve os lobos da Samardã?!
Visitámos, em seguida, o Palácio de Mateus, no seu exterior.
Vinhas imensas, a perder de vista; soberbos jardins e formosos pomares: tudo ali vemos, em grande profusão!
Em dias de canícula, suas árvores frondosas vertem na alma frescura sem par!
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Porto
24-9-1989
Contraste.
Viver algum tempo, no Minho fecundo e passar a Trás-os-Montes, é algo chocante e fere, de entrada. Alem, +e tudo mimoso, criador e sugestivo. A paisagem, harto humanizada, fala
de presença, reinando em tudo o máximo bom gosto e arranjo meticuloso. Aqui, dá-se o invés: prima a solidão.

A paisagem agreste, severa e carregada, esmaga-nos logo,
sentindo ali prestes a nossa pequenez, ante a imensidão que se desenha em frente.. Suspiramos, pois, que o Minho nos embale, sorria, nos fale.
Enquanto não chega, uma grande ansiedade se vai engendrando no peito saudoso. Após muitas voltas, em que o ar puro nos encheu os pulmões, começa logo a sorrir o formoso Minho.
Chegados aqui, funda alegria nos ikinvade a alma, pois a Natureza irmana-se connosco. É já terra a terra o nosso convivio e, figurando velhos amigos, que de novo se encontram, não cabem na pele, de tamanha ventura!
Vem, por fim, uma visyta breve ao famoso Museu, Alberto Sampaio. A obra selecta de ourivesaria, ali bem patente, é digna de ver-se.
Quase tudo elaborado na própria cidade! O que mais inpressiona é a Cruz Processional e o famoso oretório do rei castelhano, D.João I. Bem teve de o largar, em Aljubarrota!.

O objecto mais rico era a coroa real, oferecida à Virgem por D. João IV. Mãos criminosas dali a removeram, nesses dias conturbados do 35 de Abril.Assim me informara, em Guimarães.

Idêntica sorte coube também ao cordão de ouro, que tinha 1
quilómetro de comprimento e fora por voto oferecido à Virgem, pelo nosso rei D.João I.se vencesse os Castelhanos.

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Porto
25-9-1989
Ainda Guimarães
Uma vez mais, à velha Colegiada " Senhora da Oliveira", lugar venerando, com traços e vínculos, a que nós, de facto, não somos indiferentes. Pois, na verdade, não corria perigo a nossa independência, nesse ano remoto de 1385?!

Valorosos guerreiros e homens de fe evitaram o desastre. Lembramo-nos sempre de D.João I e Nuno Álvares Pereira!
Entre as promessas que o futuro rei então ali fez, encontra-se esta: construir belo templo, no dito local, em honra e louvor de Nossa Senhora. Ganhando a batalha, cumpriu honradamente.

Lá está de pé esse belo monumento, atestando ao mundo a fé dos Portugueses, o seu heroísmo e valentia.
Para executar o projecto formado, foi suprimida uma parte do claustro, o que pode notar-se, ainda em nossos dias. Bem desejaríamos que não houvessem amputado o formoso claustro!

Exiguidade, quanto ao lugar!
Onde hoje se encontra o belo Cruzeiro, havia, no princípio, uma velha oliveira! Daqui deriva o nome, dado à Colegiada -- Senhora da Oliveira. Motivos bem fortes de orgulho justificado para os habitantes da linda cidade!
Sempre que eu possa, lá irei uma vez mais, para retemperar o meu patriotismo e, juntamente, a própria fé!

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Porto
26-9-1989
O berço do Fundador proporciona assunto, que não se segota. Assim é que vem a pêlo S. Fortunato.
Constara-me pouco antes que o corpo do Santo se encontra incorrupto. Isto, realmente, excitou-me desde logo a curiosidade. O que sai do normal chama breve a atenção. Foi, na verdade, o que sucedeu.
Assentei, pois, em visitar a Igreja que guatda o seu túmulo, a qual é dedicada ao venerado Santo, de nome Guálter.

Não longe da entrada e logo à esquerda, surge.nos o Santo, em cofre adequado, sobre o altar. Ali me quedei, mudo e estático, sentindo a minha alma o peso dos séculos e aquela veneração que os mistérios do Céu despertam em nós.

Feita, em seguida, uma breve oração, partimos dali, rumo a Vizela, por onde o rio, de nome igual, faz também o seu curso.
O meu amigo Antero chamou-me a atenção para as margens fluviais e, simultaneamente, para a cor das águas..

A arborização, harto mimosa, é florescente e de grande porte. Belas sombras estivais se projectam no local, constituindo a delícia do alegre passaredo, que prefere estes sítios, com vista aos ninhos!
Lugar paradisíaco, se não fora a trisreza que as águas infundem! A forte poluição altera-lhes a cor e mata os seres vivos que nelas se encontram.
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Porto
27-9-1989
Um belo dia, recaiu o diálogo sobre Pinhel. A talho de foice vieram, desde logo, nomes diversos de pessoas amigas. Passaram os anos, que vinham já, de 1950, mas a sua lembrança não se dissipou.
É sumamente grato para o meu coração voltar ao passado que ali decorreu, sempre bonançoso e cheio de interesse! Lembrámos, pois, esses vultos amigos, sem faltarem, por igual,
aqueles que a morte ceifou impiedosa! Preenchem a lista o José Ramalho, a Ester Canotilho, Rodrigo e Lourenço.

Fiquei penalizado, ante a informação que o Antero me deu.
No vigor da existência, partiram deste mundo, sem que eu o soubesse, trocando com eles palavras saudosas!

Que o Céu piedoso os tenha de sua mão, concedendo, além
campa o descanso eterno às suas almas! Honestos como eram, o nosso bom Deuselo Eterno Beml
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Porto
28-0-1989 O Caso de Ceuta
Esta cidade, ao Norte de África, ficou a pertencer-nos, já nos primórdios do século XV, data celebérrima, em que os Portugueses, conduzidos então pelo Infante D. Henrique, se lançaram diligentes na grande aventura.

Duas fortes razões actuaram neles: 1 . iniciarmos em paz a
grande aventura: 2 .garantir a segurança aqui e m Portugal.
As duas por três, invadiam a Península, donde os reis da Hispânia os tinham escorraçado.

Era um ponto vital, diria até, um lugar-chave, para os feitos em vista! Bom. Concretizou-se, desta maneira, o sonho do Jnfante, A velha cidade ficou sendo nossa. Por esta razão, jamais levei a bem que os nossos vizinhos a fizessem deles, após a Guerra da Restauração -- 1640, o mesmo acontecendo à Ilha de Ceilão.

Pensava eu ter havido esbulhamento! Afinal de contas, soube eu ainda há pouco, não haver sido como julgava! O Governador é que nos traiu, pois levou os habitantes a votar pela Espanha, ficando sujeitos ao nesmo domínio que datava do ano 1580, data lutuosa, em que perdemos, parcialmente, a nossa independência.
Bem diz Camões, no Poema Imortal: "... também dos Porugueses\ alguns traidores houve algimas vezes!"
Se foi, realmente, como eu ouvi, não é tão odiosa a presença espanhola
Detêm os vizinhos Ceuta e Melilla ao Norte ao África.
O reino de Marrocos reivindica a posse destas cidades e e´, naturalmente, o que vem a suceder.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!"

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Porto
29-9-989 Visita Gorada
Manuel Capela, assim cono eu, éramos professores do Externato, sito em Pinhel.Resolvendo, uma vez, abandonar a cidade, por motivos sabidos, fizemos promessa de novo encontro, na Póvoa de Varzim, sua terra de origem. Teria seu efeito, nesse mesmo ano de 1957, logo que eu obtivesse a carta de condução.

Entretanto, adiaram-me o exame,, por grave deficiência de
ordem visual, e o caso protelou-se, por algum tempo. Assim decorreram bastantes anos mais, perdendo-se o endereço que poderia valer-nos.

Nestas férias. porém, achei casualmente velhos papéis e um
cartãozinho que ele me havia dado, ao fazer a despedida.
Lá fui eu, pois, à rua indicada, para o nosso encontro, pas- sados que eram 32 anos.

Ia satisfeito e um pouco ansioso, pois era um bom amigo, o Manuel Capela.
Com funda emoção, responde uma senhora, por mim interpelada: "O senhor Manuel Capela era o meu senhorio, mas já
morreu, vai para 6 anos."

Fiquei esmagado, ante o sucedido! Um cancro ass assino havia liquidado o meu bom colega.
Porquê adiar tanto algumas visitas?! Se a vida é tão curta!...

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Valongo
3o-9-1989
À Procura de Alguém.
Avistara.me com ela, já um pouco antes de 1943,
aproveitando o ensejo, para fazer um convite: rumar naquela data, a Vide-Entre-Vinhas, onde entraríamos em franco diálogo, no fim dos meus estudos..

Várias razões militavam para isso: sermos conterrâneos; ter a mesma idade; algum parentesco; ideal semelhante;; brinquedos infantis que recordo ainda, com muita saudade

Esfumada embora pelos anos decorridos, jamais se apagou tão grata memória. Trata-se, afinal, de Etelvina Cardoso (Irmã Cardoso), que à data presente, não sei onde actua.

Procurei-a de facto, na Póvoa de Varzim,, onde me disseram que ela se encontrava.. Baldados foram os passos dados! Sempre uma nega, em toda a parte!

Alguém alvitrou que estará no Sardão, em Vila Nova de Gaia. Aqui, porém, não foi já possivel deslocar-me, nessa data, De outra vez será!.
Gostaria, realmente, de evocar o passado, com ela presente!
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Valongo
1-10-1989
O dia de ontem foi grande para mim e para a família, de modo especial para o Carlos Alberto que, nesta vila, fez o casamento.
Actos do género marcam uma vida. É que eles, na verdade,
trazem compromissos, que afectam para sempre. Eram dois destinos: passou a haver só um. Ele uniu o seu com Maria de Fátima.
Tenho para mim que vão ser felizes, pois ambos são honestos, muito sinceros, respeitadores e tementes a Deus.
Além disso, estão apetrechados, para enfrentar os problemas da vida: ele é Engenheiro, e ela Arquitecta

Após a cerimónia, que foi abrilhantada, com harmónio e cânticos, foram os convidados para casa da noiva, onde se efectuou um luzido copo de água. A cifra dos presentes elevou-se então a 74.
Na cave do prédio, erguido recentemente, passaram-se horas de muita hilaridade e boa disposição.
Comidas e bebidas tudo foi a rodos. Bom gosto e arranjo, em todas as coisas!

Nesse dia venturoso. augurei aos noivos muitas felicidades, um porvir sem entraves, um caminho franco, atapetado de flores.
Que o Céu os acompanhe e cumule de bençãos, na carreira auspiciosa que vão enfrentar, Isto e muito mais é o que o tio deseja
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Em viagem
1-1o-1989
Saímos do Valongo, às 11 em ponto.

No carro particular do Engenheiro Fonseca, vínhamos só 4: o motorista, meu sobrinho Isaías, meu cunhado Martins; a mana Augusta e eu também. A caminho de Lisboa, sorria-nos ainda a fagueira esperança, que o tempo de folga havia-se esgotado, não
obstante o desejo de que ele, em verdade, não fora tão curto!

Aquilo que é bom depressa nos foge. Em seguida, mergulhamos breve na realidade, a que temos de curvar-nos. Entretanto, como o negro pão só vem do trabalho, reluz-me a certeza de que o nosso esforço irá produzi-lo. Em tais cogitações eu vinha embrenhado, quando avistei, já perto do Amial, a torre esbelta dos Capuchinhos.

Lembrou-me então o Padre Manuel, que ali me recebera tão
fidalgamente.
Agora, entrávamos em cheio na auto-estrada! Que maravilha! Os belos pneus giravam diligentes, sem trepidação!
Afigurava-se um trilho, deveras fofinho, acarinhando as nossas vidas! Assim fica Aveiro, Colmbra e Leiria.
De vez em quando, o nosso pensamento fugia para o Valongo, rememorando assim a bela hospedagem que nos fora dispensada.
O senhor Ferreira e Dona Mariazinha, o Carlos Alberto e a sua Fatinha jamais esquecerão!
Uma longa viagem de funda saudade e boas recordações!
Se não fosse a chuva e o denso nevoeiro!... Mas onde encontrar rosas sem espinhos ?!

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Amadora
2-10-1989
Ontem, chegámos a Lisboa, pelas 16. Cansados um tanto da longa viagem, encurtámos o serão. Pela minha parte, ouvido o noticiário das 21 horas, fui brevemente para o reino dos
sonhos.
É que fora prendado com dor importuna, atingindo-me a cabeça! Lá fui aguentando. Afinal, dormi regularmente. Na verdade, podia ser pior! Uma vez despertado, pus-me logo ao fresco, na Rua do Embaixador.

Só hoje, de tarde é que vim para aqui. Agora, faltam só 20
para as 18 horas, Foi um dia de labuta: arrumar os objectos,
arejar a casa, pôr a escrita em ordem e mil pequenas coisas, que não deixo descuradas!

Neste momento, apetece-me o repouso, mas falta ainda preparar a refeição. Antes disso, comprar o necessário!
Quem está só não descansa um momento. Tudo lhe incumbe.O
que vale, decerto, para compensar, é a grande certeza de que, após esta vida, outra bem melhor, nos vai sorrir1 É o que me alenta!

Com vista a isso, vou utilizando os meios necessários.
Pois hoje, além do exposto, arrumei também o que havia no Banco e, bem assim, na Caixa G, de Depósitos. Incomodava-me, em alto grau. o número de parcelas. Agora, ficam os depósitos somente a 1 ano. Assim, já posso controlar a escrita corrente.

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Amadora
3-10-1989
Vai longe o tempo, mas não se apagou a marca indelével, impressa na minha alma. Por esta razão, é grato recordar a meninice distante.
Era um dia como hoje, véspera de S.Francisco. No dia
seguinte, realizava-se, na Guarda, a Feira do mesmo nome.

Decorriam os primórdios do segundo quartel do século presente, aproximando-se o tempo da minha adolescência.

Nessa época distante, viajava-se a pé, de Vide-Entre-Vinhas, à capital da província. Por caminhos tortuosos e sendas ínvias,
calcorreavam-se entao os 2o e mais quilómetros, em duplicado. Apesar disso, nada se opunha a que fosse realizada a nossa aspiração.
Em mim, pessoalmente, o desejo enorme de ver uma cidade, pela primeira vez; em meu bom Pai, o desejo insaciável de encontrar por ali, amigos já velhos e harto provados, ao mesmo tempo que fazia também o seu belo negócio!

Para isto vivera, ao longo de 1 ano, incitandome o facto, pois havia dito: "Pedro, na véspera da Feira, arranja as tuas coisas, pois vais comigo ao S. Francisco da Guarda!
Alegria sem par, no meu coração! Nova luz brilha, no Céu da minha alma!
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Lisboa
4-10-1989 Cont.
Durante aquela noite, dormimos em Porco, num velho cabanal, cheiinho de palha. Frio não havia.
Após magra refeição, em taberna conhecida, constante de pão, chouriço e queijo, sem dispensar o amigo de sempre, que alegra, por norma, o coração do homem, rumamos ao cabanal, para descansar.
Escusado é dizer que não logrei pôr olho!! A viagem maçadora , a infracção dos hábitos e o ruído na taberna, foram responsáveis, pelo sucedido!

Alta madrugada, iniciámos a subida, pela Ramalhosa. É
preciso bom físico, para consegui-lo! Eu, porém, algo debilitado e
assaz mal disposto, não sentia coragem! Apetecia vomitar e afastar-me do convívio. Apesar de tudo, mais e mais se vincava o que era indesejável!
No topo da subida, alguém me explorava: " Caro Pedro, já
viste o Mar ou, pelo menos, ouviste as ondas?"
-- Não! Nunca saí da nossa aldeia!
-- Olha, então, encosta a cabeça ao penedo redondo que vês além.
-- Nisto, vou eu lampeiro fazer o que insinuam, fiado que estava, na sinceridade e apoiado ainda na grande boa fé de quem me falava.
Colado à rocha, tento ansioso ouvir no local, as ondas do Mar. Como nada lucrava, unia com força a cabeça ao penedo, fazendo-me ali a pergunta da praxe: " Não ouves?!

--Nisto, mão vigorosa me tenteia a cabeça, arremessando-a logo contra a rocha, enquanto remata:" Agora já ouviste?!
Na minha curta vida, foi esta decerto, a primeira decepção e
logro em forma!
Dali por diante, não seria tão ingénuo, aprendendo, à minha custa, a suspeitar do próximo

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Lisboa
5-10-1989 Cont.
Após tal desaire que harto me desgostou, avisto já perto a linda cidade, que me sorria de lá, com ar festival!
Ouvira dizer, lá na minha aldeia que tinha 3 "r": feia, farta e fria.
Eu, no entanto, habituado como estaa, às casas defumadas, que a mão do tempo enegrecera também, via, desde logo, no conjunto citadino, verdadeiro prodígio! Prédios caiadinhos, a cores diferentes... tão altos e direitos, como nunca sucedera! Que
fascinação!
Perante o facto, apelo à coragem, avançando resoluto e olvidando as agruras que me haviam causado.
Entrava jubiloso na velha cidade! Que ruas maravilhosas! Largas e limpas... a perder de vista!

Afinal, em vez de mato ou palha de centeio, a cobrir o chão, era outra matéria, limpinha de verdade, onde a gente, a capricho, podia estender-se e dormir um sono! Se não fora, realmente, o contínuo tropel de peões e alimárias!...

Com tais divagações e anseios refreados, chegámos ao sítio, onde a feira anual se realizava.

Um mar de gente remexia a toda a hora, procurando tirar lucro e ostentando no rosto, bem como na fala, sinais manifestos,
afim de atrair os vários circunstantes, chamando a atenção!

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Lisboa
6-10-1989
Cont.
Ao longo da jornada, embora apreciasse a "grande, novidade,"havia no meu peito um vazio profundo: má disposição,
falta de apetite, maneiras secas, tendência forte para vomitar!
Levaria imensas coisas, para relatar a minha boa mãe, logo que chegasse à velha aldeia.

O saudoso pai ostentava bonomia e grande à-vontade, o que o levava, pois, a desentranhar-se em ditos jocosos. Com os seus amigos, celebrava o encontro, fazendo uma saúde, em extremo vivida e muito regada! Para ele tudo ia bem. Mal conjecturava o que, pela tardinha, iria acontecer: horrorosa trovoada que bem se aguentou, durante longo tempo, encharcando-nos o corpo e enchendo a nossa alma de profunda angústia,

!Chovia a potes! Sem agasalho, apanhamos em cheio aquele chuvada! Bem eu estranhava que não fugíssemos para os abrigos,
refugiando-nos por lá! Qualquer desvão ou larga entrada, a servir de átrio!
Mas não! As tardes de Outubro eram já pequenas e havia urgência de chegar ao destino, durante o mesmo dia, fosse embora o caso, por noite avançada! Andar, pois, sem olhar para trás!

Foi isto que ficou dessa feira suspirada!
A meu pai valeu-lhe uma doença, que o reteve, de cama, por dois longos meses!
O que gera na vida a falta de meios e a má distribuição dos recursos naturais!
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Amadora
7-10-1989
Decisão à Porta.

Provavelmente, vai ser amanhã, pelas 15 horas, caso não haja nenhum imprevisto. Assim fora ajustado, entre mim e o Zé Duarte. Ao Museu dos Coches, na cidade capital, vai fazer-me entrega do original que intento publicar. Juntará uma carta do senhor Vintém, Ali verei, pois, o efeito causado pelo manuscrito
e as duras condições, agora impostas, com vista directa à publicação.
Vai fazer 14 meses que lho passei às mãos, em Odivelas. Há
três anos já, que segue em bolandas, o pobre original! É tempo demais! Apesar de tudo. bacoreja-me ainda que não é desta vez!

O facto de entregar o meu original, leva-me a pensar que há três exigências que não vou aceitar., Estarei enganado? É o que verei, num prazo bem curto! Haverá cortes enormes?! Também um Diário sofre mutilações?! Não admitirá qualquer género de assunto?! Esta é, de facto, a minha convicção!

Pudesse eu fazer uma edição de autor! Faltam-me as asas, para enfim voar! Chama-se Europress a editora em causa. Nem agora será?!
Em Fevereiro, farei 72! Não dá, certamente para muitas delongas! E tanto original que tenho corrigido, para dar à estampa! Mas quê?! Às Editoras apenas interessa o aspecto comercial! Forma e conteúdo, os meus ideais podem não contar!
Por outro lado, com o gosto pervertido, o leitor não se prende àquilo que interessa.

Só banalidades, assuntos escabrosos, ciúme e rancor e assim adultério; infidelidades; assaltos e roubos; a droga e o sexo; palavras grosseiras! Aquilo que mais prende a sensibilidade e
contribui, a valer, para degradar!.

Isto, porém, não é de modo nenhum o que eleva o homem, quando vive sem norte e à margem dos valores que o Céu criou e
nos fazem ditosos.
Haverá desacordo, entre a minha pessoa e os Editores?!
Havê-lo-á também entre mim e os leitores?!

Gostaria imenso que não fosse o caso!

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Amadora
8-10-1989
Sete horas e trinta, O Sol radioso bate na janela e traz os bons dias, convidando-me à labuta e gerando em minha alma, um tanto envelhecida ( melhor diria "o corpo"), incentivos diversos, e até sonhos belos, que, por má sorte, não poderei realizar.
Não faz excepção o lançamento dos livros, que esperam em ânsia, a hora da saída. Ali jazem, nas estantes e em velhas gave- tas, espreitando o momento que os há-de libertar.

Entretanto, as barreiras são tantas, que harto desencorajam!
Hoje, é um dia fatal, para a minha ansiedade! Pessimismo, talvez?
Desalento e dor, pelo que sucedeu?! Conclusão amargosa,
atendendo somente ao gosto dos leitores? Pelo que me toca, ainda
agora alinho pelos nossos clássicos, estrénuos de fensores e Mes-
tres insignes de uma Língua excelente, falada em breve por 2oo milhões!
Banalidades, gosto pervertido , forma descuidada,é tudo isso, afinal, coisa sensabor, para a minha formação!
Por estas razões, que pode acontecer ao meu pobre original?!

Santo António me valha, que é português e tem cabimento junto do Altíssimo!
Às 15 hotas, surge a tempestade! Poderei esconjurá-la?!
Haverá então possibilidades?

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Amadora
9-10-1989
Explodiu a Bomba!
Esperava o pior, mas a realidade foi muito além!
Efectivamente, sou levado a fazer o que eu não queria.

Em sua carta, diz abertamente o senhor Vintém que, segundo a crítica, não é aceitável, comercialmemte, apesar do valor, humano e literário que a obra revela. Numa palavra, terá poucas hipóteses de saída airosa, no prazo imposto pelo risco editorial.

Sendo isto assim, fui ultrapassado, no aspecto negativo.
Entretanto, ofereceu-me os serviços, para imprimir e logo distribuir, caso eu aceite custear as despesas.

É puxado para mim, dada a incerteza , no tocante ao apreço
dos nossos leitores! É caso para dizer: ou agora ou nunca!
Terei, realmente, de fazer o sacrifício, atirando-me já, sem hesitação ou deixar para sempre o sonho embalador que, havia
tanto, me punha delirante?!

Lançar no olvido o que tantos sacrif'icios acarretou para mim?! É este o dilema.
Por que vou optar? Pensarei a fundo! Vou tentar alguns cortes, para aliviar a enorme despesa, fazendo assim que o
Diário vivido, em 1975, tente inseguro os primeiros passos.

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Amadora
10-10-1989
À busca de Saída
Ontem, sem falta, após o almoço, atirei-me de chofre!
Reduzi o volume, para assim encurtar a despesa do livro
Três horas e tal foram bastantes. Neste espaço de tempo, fiz a amputação, visto que eliminei 55 Diários.

Foi muito difícil a rarefa em causa, porquanto representa facadas em cheio na próprua alma. Apesar de tudo, impunha-se
ainda nova arremetida,, que fizesse outro tanto. A isto obrigará a
falta de recursos. Lançaria um volumezinho, com menos páginas. Cento e cinquenta? Hoje, sem falta vou decidir..
Eliminar mais?
Estou agora ansioso por concluir em breve o trabalho referido, afim de solicitar, do senhor Vintém o devido orçamento, abrangendo a impressão e demais encargos., referentes ao caso.

Em seguida, uma vista de olhos aos Diários restantes, que vão assim formar o corpo do livro. Ficará diminuído em 55 e não
em 100, como havia pensado. Pode ser que um dia eles saiam na íntegra.
Quando tiver asas, já posso voar. Até isso ocorrer, vivo da esperança!
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Lisboa
11-10-1989
Transportes
Vai correndo hoje o segundo dia, que se arrasta o caso.
afectando em extremo. É a greve dos transportes que está prejudicando os mais infelizes, como sempre acontece. Quem não tem voz nem instrução; os que servem de capacho a senhores instalalados, é que sofrem e gemem, sem eco em ninguém!

Todos os outros alegam direitos: eles, porém, só lágrimas têm, para verter!Ambientes assim deprimem e gastam, roubam o sono e tiram à vida o encanto e a graça.. Andar só a pé e chegar tarde, por fim;
enervar-se em excesso; alegar motivos e fazê-lo em vão; barafustar, mas sem resultado: assin é o viver, nestes dias tristes!

Se, na verdade, os ditos grevistas estão prejudicados, por que os não aumentam?! Era necessário este jogo do empurra que tantos danos causa? Se não têm razão, por que fazem a greve?!

As camadas de baixo não têm direitos?! Ninguém, cá no mundo, olha para elas?! Não é isso escravatura, da mais condenável?! Que meios têm elas, para sua defesa?!
Durará tal inferno?!
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Lisboa
12-10-1989
Em Palpos de Aranha
Ao sair de Guimarães, não pude avistá-lo, para despedir-me. Fá-lo-ia depois, ao passar por Coimbra. o que veio a suceder. Foi um pouco difícil encontrar o número: havia uma rua e também uma travessa, com nome igual.

Quando vi claramente, averiguando bem, "Travessa da Matemática", julgava ser ali. Inquiro e esmero-me, para achar a
campainha, mas torna-se vã a minha pesquisa. Avançando alguns metros, já desanimado, pergunto casualmente: haverá também aqui "Rua da Matemática?!
-- É esta mesmo, atalham prestes.
-- Agora, alento-me e respiro mais fundo. Localizo então o número 2 e entro pressuroso, lançando a pergunta, com breves pormenores: reside aqui um amigo meu: desejava falar-lhe. Estuda Direito e dá pelo nome de Carlos Manuel F. Tavares.
-- Aqui, não há ninguém que tenha esse nome!
Fazendo pesquisas, já no interior, dizem-me então que é isso verdade.
Convidado a prosseguir, ao longo do corredor, lá dou com ele, mas achava-se ainda nos braços de Morfeu

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Lisboa
13-10-1989
Recuperação
Abatera imenso, ao longo de 1 ano! Talvez nem chegasse! De 82 quilos, viera de facto, para 69, um pouco favorecidos. Preocupado, a valer, com o sucedido, inicio para logo, as férias de Setembro, rumando a Guimarães, onde levei,
satisfeito, os primeirod 8 dias.

Foi maravilhoso! A boa companhia, os cuidados imensos
com a alimentação e tudo o mais que foi proporcionado, operaram
a mudança. Avaliando o peso, afim de inteirar-me, verifiquiei jubiloso que subira logo para 73!

Peso excessivo não é aconselhável, mas o extremo oposto...
"In medio virtus", como diz o Latim!
A morte proteica é caminho seguro para a destruição! Esta via a nada conduz!

Para trabalhar, preciso de alimentar-me, convenientemente. É o que vou fazer, mas o melhor Médico é, na verdade, o que chamam descanso! Os problemas da vida, os sarilhos que aparecem e tudo o mais, desarranjam, na verdade, o equilíbrio da
existência!
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Amadora
14-10-1989
Igreja de Santa Cruz (Coimbra)

Muito raramente eu passo em Coimbra, que não medite, uns segundos, em frente de Santa Cruz. Se o tempo mo concede, penetro ainda no seu interior, avançando respeitoso, até ao cimo.

Foi o que sucedeu, no mês de Setembro do ano corrente.
Ainda cá de fora, pregaram-se os olhos no ftrontespício, não havendo maneira de fugir, depois, ao grande fascínio.

O que dizem então as pedras venerandas, já um tanto carcomidas pela erosão! Que linguagem a sua, a falar há 8 séculos! E nunca se fatigam!
É sempre eloquente, sentida e vibrante a voz imorredoura! Antes ao invés do que iríamos pensar, ganha mais calor, grande intensidade e até veemência, à medida exacta que vira o tempo e as varias gerações vão caindo por fim, para novas outras lhe sucederem após.!
Que sortilégio aquele e funda veemência, na sua mudez!
Logo ao lado, integrado no conjunto, e no mesmo estilo, segundo me parece, há um Restaurante.
Quanto me chocou, alterando os nervos e roubando, para logo, a boa disposição!
Por que autorizaram aquela actividade, em lugar tão selecto e até venerando?!
Como não surge D. Afonso Henriques, fundador insigne da
nação moderna, irado, inexorável, empunhando sua espada, contra os sacrílegos?!
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Lisboa
15-10-1989
Como insinuei, o gosto da arte, a admiração e até o fervor, bem como o patriotismo, levaram-me pronto a chegar ao fundo, Tudo grandioso... tudo imponente e cheio de lições que a
pedra transmite!
Dois lugares, porém, diria três,com rigor, me chamaram a atenção, de modo singular: o formoso púlpito e os túmulos venerandos de Afonso Henriques e Sancho I.

Que maravilha e primor de finos rendilhados! Que minúcia uncomparável. ostentam as imagens, naquela obra-prima, que é o
púlpito da igreja! Tanta profusão de motivos e razóes, em espaço tão exíguo!
Quanto aos túmulos, nem acho palavras que exprimam o que sinto! Contêm eles as cinzas venerandas dos grandes cabouqueiros da nação moderna e reconquistada!

Reis incomparáveis, denodados e crentes, que firmaram, há séculos, e depois robusteceram e alargaram a Casa Lusitana, pilhada, em parte, pelos povos árabes e castelhano-leoneses!

Sem eles, a rigor, nada hoje seríamos nem cantariam, decerto, os formosos Lusíadas as acções imortais que dilataram a fé, lançando igualmente a civilização, no maior império que houve, neste mundo!
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Lisboa
16-10-1989 Idosos
Em Portugal, dão-se eles à tristeza. O facto lastimoso gera perturbação, nas almas sensíveis, ainda que se encontrem no vigor da vida! E há motivos para isso! É ver o que se passa, à beira de nós! Acima de tudo, as pensões de invalidez, como as de velhice, não chegam ao mínimo, exigido, a rigor, pelas necessidades que a vida apresenta.

Uma vez assim, vem desde logo a temida insegurança, para mais agitar o seu triste viver! Como resultado, procedente da escassez, aparece também a reacção das familias, quer seja disfarçada, quer
ainda explícita.
Será por tais razões e outras ainda que verificamos tantos suicídios, entre os macróbios? Nos auto-carros e assim nos eléctricos, nota-se à evidência tal desinteresse e tamanho desamor
que todo me confranjo, pasmando a valer!

Sentam-se ali jovens e donzelas, fingindo alheamento, se não até desdém pelos dignos seres que vão a seu lado, sofrendo o que Deus sabe, por não terem lugar!

Trabalharam, com afinco, durante a vida inteira; foram gente honesta e deram o melhor para o bem da Pátria. Lutaram sempre, afim de conseguir um viver mais digno, para a sua família. Quanta imolação! Por vezes sucedeu ajudarem outros a subir também e melhorar um tanto a vida terrena.

Que lhes veio daí, chegados que foram à extrema velhice?!
Angustiados sempre, já na própria casa, já fora dela, verificam,
desolados, em todo lugar, que ninguém os acarinha! Quem os olha com amor, apreço e respeito, admiração e verdadeira estima?!
Meramente ignorados, são indesejáveis e tidos por molestos!
Nos meios de transporte, é que vejo, realmente, quanto eles
sofrem! O rosto macerado, em fortes contorçõees; o olhar mortiço; as pernas vacilantes e o corpo em balanço, revelam
claramente o martírio em que vivem! A isto que é já muito,
acresce ainda o mutismo e o próprio desalento que a tristeza avoluma!
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Amadora
17-10-1989
Nem tudo é mau.

Num tempo de egoísmo, em que temos a impressão de que apenas Sancho Pança e o vil interesse dominam os homens,
fenecendo os ideais do famoso cavaleiro que foi D. Quichote,
ficamos surpreendidos, quando surgem casos de extrema gentileza, com espírito aberto ao grande sacrifício e alta doação a
nobres pincípios.
Deu-se o facto algures, no velho Portugal, em antiga cidade, onde, nesta data, ainda residem os seus autores.
Trata-se dum casal, em extremo generoso, que tem por divisa pensar nos outros, para os ajudar. Ele é Juiz, e ela Professora.

Achei este caso tão fora do comum e tão eloquente a lição
proporcionada, que pronto decidi passá-la a escrito, fornecendo
assunto para os meus Diários.

Bem preciso se torna deixar estes factos ao alcance do público, não só para exemplo, se não também para vermos claro que, à beira do erotismo, do álcool e da droga, florescem roseiras que adornam o mundo, exalando suas rosas perfume e odores, que em tudo contrastam com as chagas purulentas!

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Amadora
18-10-1989 Cont,
Passou este facto do modo segunte: ao citado Juiz apresenta-se já, pela segunda vez, certo criminoso que, sendo recidivo, tem mais agravantes. Ele é casado e pai de alguns filhos, que têm pão, se ele o ganhar. De outra fonte é que ele não surge.

Morrerão à fome, se o pai for preso, como é de esperar.
Em últma análise, irão de porta em porta,mostrando à caridade as
mãos inocentes. É este o dilema.
Já ciente do caso, o Juiz não sossega, É de consciência tão grave problema!
A justiça e a lei mandam puni-lo; a humanidade, o espírito da letra e a suma delicadeza duma alma cristã e muito caridosa, ordenam outra coisa.

A que vão recorrer as pobres crianças e assim a mãe?!
O bom do Juíz não dorme que lhe preste, e a esposa solícita, notando o facto, interpela-o carinhosa, dispondo-se a ajudá-lo.
quanto em si caiba! Ele não se abre, mas ela insiste e pede por tudo.
Neste passo, remata breve, com ênfase notória:
-- Sou capaz de tudo, para te ajudar!
-- Garantes casa, pão e trabalho à esposa inditosa que tem a seu cargo as pobres crianças?!
-- Por Deus que vou lutar e, por fim, conseguir!
-- Agora, sim, já fico tranquí-lo, desabafa ele. cheio de júbilo!
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Amadora
19-10-1989
Dizia, em tempos, a Esaura do Chitembo (Angola- Bié) que adiava o casamento: "Este ano, sim, é o ano da decisão!"
O mesmo digo eu, no tocante aos livros que desejo publicar.
Foi anteontem, 17 do corrente, que tal decisão já tomou corpo!

Havia três anos que o pobre original andava de mão em mão! Não podia ser! Não podia, de um modo, tinha de usar outro!
Puxar eu próprio os cordões à bolsa! É um tanto doloroso, mas tem de ser!
Uma vez assente, dirijo-me à Póvoa, de Santo Adrião, pela Rodoviária que parte do Campo Grande!

Duas horas longas de frente a frente com o senhor António, Gerente da Europress, trouxeram conclusões.
Pago a impressão, fazendo a Europress a distribuição. Dói, na verdade, mas vou por diante!

É o filho primogénito que vai já sair, no mês de Novembro, para esttar nas Livrarias, na quadra do Natal

Que o Menino Jesus lhe dê boa sorte . Serão apenas três mil exemplares. Amanhã, pois, já levo o original, com vista ao orçamemnto. Andará, talvez por 900 contos ou um pouco mais.,
ficando o preço de venda em mil e tal escudos.

Isto, para mim, é grande aventura! Fora do assunto... com
escassos meios que venha a precisar para a velhice... ignorado
também, do público em geral, arrisco a valer o meu porvir!

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Amadora
20-10-1989
Na minha entrevista com Bento Vintém, fiquei
elucidado, acerca de factos que eu, neste assunto, não podia ignorar. Dentre eles todos, vem a capa do livro. Nem eu sabia que era tão preciso o dito objecto. Fui posto ao corrente de que é ´primacial e tem de ir à frente , antes de ser posta no devido lugar.
Necessita ela boa concepção, quer isto dizer, imaginação algo criativa, que sirva de chamariz e boa execução, no papel empregado. Lembra-me agora o rifao popular: " Pela aragem se vê quem vai na carruagem!"
É de facto assim!
Movido por tais causas, telefonei ao Serra, que tomou a seu cargo fazer, para logo. andar o projecto. Um amigo dele, muito hábil na
matéria. prontificou-se logo a dar-lhe execução. Chama-se o dito -- Carlos Fonseca.
Hoje, exactamente, pelas 5 ou 6 horas, lá vou eu, pois, a casa do Serra , em busca da capa. afim de entregá-la ao destinatário, que é o Gerente. Estou ansioso por tê-la na mão,que há-de ser curiosa, a servir de reclamo.
Nesta conjuntura, tudo me preocupa, de maneira extraordinária.

São os primeiros passos nmma via escura! Como serão eles?!
Oxalá não sofra decepção, que faça perder o ânimo!

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Amadora
22-10-1989
A Matemática

Tive dois professores, em anos diferentes. conseguindo resultados que divergiram bastante. Na classificação, três valores globais! Com o primeiro, gostei da Matéria; em ordem ao segundo, as coisas mudaram, chegando a detestar o assunto referido. Estudava
constrangido, fazendo enorme esforço,para não perder o ano escolar. obectivo grato que sempre realizei.

Faz-me impressão esta disparidade que deve ter uma causa.
Desapreço notável, sentido pela pessoa? Inclino-me um tanto para este lado! A experiência da vida ensinou-me já. que, por modo geral, qualquer aluno aprecia as coisas, de gostar do professor.

Há excepções bem entendido, mas estas, afinal,confirmam a regra. A este propósito, vem um pormenor que julgo interessante.

A antipatia que me vinha da pessoa, não tinha como causa motivos pessoais, relacionados comigo: diziam respeito a certo
agir com os meus condiscípulos. Por outras palavras: o processo
injusto (no meu conceito), por ele adoptado, em ordem aos discentes,( não comigo") levou-me depois a olhar a pessoa com displicência.
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Amadora
22-10-1989 Consequências de Ordem prática.

No tempo escolar, nâo há capacidade, reflexão e apreço, no tocante aos aspectos que interessam à vida. É o caso
das Matérias, por modo geral, e de algumas outras por modo particular, Isto. sobretudo, nos primeiros anos.

Quando o tempo decorreu, torcemos e orelha, mas já é tarde! Aplico este caso às Ciências Matemáticas. Estudei-as sem gosto nem aplicação!
Daí que hoje, recorrendo a elas, me vejo, tantas vezes, em
palpos de aranha! Consigo ultrapassar quaisquer dificuldades, que surjam no caminho, mas à custa de esforço e várias diligências.
Dá-se o caso agora com os assuntos, referentes aos livros. É
preciso fazer cálculos e recorrer às proporções, comparar os dados, tirar ilações. Entram igualmente em linha de conta as regras de três e as percentagens.

Evidentemente, são coisas simples, mas urge sempre tê-las presentes e saber aplicá-las, no tempo devido, assimilando bem.
Acontece, porém, que a falta de uso e também o desamor que votei às Matemáticas originaram um fosso, entre elas e mim..

Desta maneira, fiquei separado e sempre longe dum assunto útil, que julgava prescindível, na vida corrente.

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Amadora
23-10-1980 Tabaco
Em Portugal, anda-se ao invés. Causa tristeza que seja deste modo. Por que é que a gente não acerta o passo, agindo com senso, equilíbrio pronto e justa medida?!

Primeiramente, houve propaganda, até exacerbada, em ordem ao tabaco. Uma vez infiltrado o vício tremendo, inicia-se agora o contra-vapor... a contra-ordem! Resultado? A gente bem sabe como tudo vai ser! Que pede o organismo, quando já viciado?Não é redução! Aumento, sim! Sucede isto, exactamente, em Portugal!

Porfia a Televisão na útil campanha, mercê do cancro! Não fume, senhor, por sua rica saúde!

Pregar no deserto! Entra, de facto, por um ouvido e sai pelo outro. Assim, pois, vemos fumar em toda a parte, sem atenção àqueles que não fumam e se vêem perturbados, com o cheiro nauseabundo, exalado em breve pelo fumador!

Fumam, pois, eles e elas também, sem importar que os próprios filhos venham um dia a sofrer os efeitos desse horrendo vício!.
Algumas vezes, até as grávidas infringem as leis que defendem a família, começando logo pelos inocentes!
Estes nao têm voz, para erguer protestos!

Como é pavoroso o quadro nacional, em questão de fumo!
É insensato fazerem as gentes ouvidos de mercador, estando em jogo a mesma felicidade e até o bem-estar dos entes queridos!
Quem vai defendê-los?!
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Amadora
24-10- 1989
Kwacha Angola!
Constou recentemente que o líder da UNITA, Jonas Savimbi, visitará Portugal, no mês de Janeiro! Já falta pouco! Dois meses de permeio! Anteriormente, quis vir aí, mas foi.lhe negado o conesntimento pelo nosso Governo

Este facto deixou-me prostrado, Efectivamente, têm vindo cá inúmeros chefes de outros Movimentos, como por exemplo, a
OLP. Por que não Savimbi, natural de Angola e homem de carácter. chefe incontestado e amigo de Portugal?!

Ele sabe muito bem que os bons portugueses o apoiam, com firmeza e desejam bom êxito, nos seus ideais. Que vamos nós desejar, para Angola e seus chefes, senão a paz e a mesma concórdia, o mútuo respeito, ajuda e convívio?!

Ainda bem que os tempos mudaram e, com eles, as mentes!
Venha, pois, Savimbi à Casa Lusitana, onde tem bons amigos e sinceros admiradores, corações generosos que muito o respeitam e deveras o amam!
Kwacha Angola! Desperta, ó Pátria, do longo torpor, estagnação e morte, em que foste lançada! Ergue a cabe ça e mostra ao mundo que agora, finalmente, chegou a liberdade! Vem já rompendo a formosa aurora! Não ouves o galo entoando seus hinos?!
Acorda,, pois, que é novo dia!

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Amadora
25-1o-1989
Continuação de 23-10-1989

A campanha insistente, humanitária e geral, contra o uso do tabaco, pelas graves sequelas que está originando, não só nos fumadores senão também nos próprios abstémios, devido ao contacto, pele proximidade, comsidero-a infrutífera, ao menos em
Portugal. É uma triste realidade, mas inegável!

Entretanto, como nada há que não tenha remédio,forçoso se torna encontrá-lo breve, para se evitarem males bem maiores! Segundo eu julgo, o único processo de obstar ao mal residiria, talvez, no meio seguinte: restrimgir-lhe o uso , quer dizer, encontrar-se à venda, mas racionado.

Imaginemos um caso: fulano de tal costumava fumar 4 maços por dia, sendo-lhe facultados. Se ao dito sujeito vendessem apenas um único maço, já tinha de limitar o uso do tabaco. Não vejo entre nõs outra saída que seja eficiente. Por que nºao recorrer-se a esta dilligência?! Restringir a venda! Eis o caminho que leva ao triunfo e se torna eficiente.
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Amadora
26-10-1989 Actualidade
Comunicou a Imprensa dados importantes, que agitam as almas, gerando confusão e grande nervosismo. Eu convenho nisso, pois outra coisa não era de esperar! Se não, pesemos em contos.
O nosso Presidente aufere um vencimento, que é escandaloso, num país pequeno e já sem recursos: 125o, ao fin do mês; o primeiro Ministro, 940; os outros Ministros, 84o; os Deputados, 44o

Se tomarmos em conta as graves circunstâncias de Portugal, focando especialmente a desvalorização da nossa moeda, as pensões de miséria e o ordenado mínimo, tiramos conclusões que nos deixam indignados. Aos tais ordenados, assim chorudos, acrescem depois, gordos subsídios, viagens frequentes e desnecessãrias ( muitas delas), as luzidas comitivas e o mais que falta! ...

Ora, isto, a rigor, não é Demosracia: é antes plutocracia, atrevida exploração, desdém execrando e assaz repugnanre das
classes himildes, às quais não chegam os magros vencimentos, para comer!
É para isto que vamos votar?! Estou já descrendo e mudando o pensar!
Não vale a pena que a gente apoie quem nos despreza e lança na miséria!
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Amadora
27-10-1989
Desilusão
É feita assim a vida humana. Após a ilusão, segue no encalço o desapontamento! Por mim falo eu. Depositava confiança no Governo actual, que levou o meu voto, no tempo devido; defendi sempre as medidas tomadas, quando era necessário contestar os maldizentes.

Hoje, porém, chegou a descrença. E foram, decerto, os chorudos vencimentos, destinados à cúpula, ante a mísera subida, para os mais necessitados, que me levaram pronto a rever a posiçao. Não posso conformar-me! Se os de cima precisam, tanbém os de baixo! Estes mais ainda, porque a exígua subida é só aparente!

De facto, não vai ela cobrir o que logo aumenta: água. luz e gás; telefone e limpeza; passe. leite e pão; ovos e o mais!
Não será isso troçar dos humildes?! Não é realmente, discriminação?! Não se trata dum ludíbrio?! Não é, a rigor, verdadeiro atentado, contra a dignidade que o Céu criou e sempre respeita?!
Democracia não é isto, afinal! Por que não utilizar os chamados referendos?! Diz o nosso povo que ninguém é juiz em causa própria! Mas as nossas cúpulas vêm contrapor-se ao velho rifão
Por este caminho, não garante o Governo a credibilidade. para fins do mandato!
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Amadora
28-1o- 1989
Mulher aldeã

Era em Lisboa, há pouco ainda.
Sentado num banco, reflectia sobre a vida, observando os casos e tirando ilaçóes. Ensimesmado embora, alguém se aproxima, ficando a meu lado. Nem sequer olhei, o que tenho por hábito. de
modo geral. Entretanto, houve um pormenor que obrigou a reparar: o mau cheiro do corpo fez ali cortar o fio do pensamento
absorvente!

Para não ferir nem chamar a atenção, relanceei o olhar, com bastante discreção. Tratava-se realmente de pessoa rústica. Pelo ar aparvalhado, simplório e ingénuo, denotava logo ser mulher de aldeia.
Isto, afinal, de maneira nenhuma pode inferiorizá-la. O que nos distingue são as boas acções. Aldeã também era quem me deu à luz e, no entanto, amei-a com paixão, à maneira de um ídolo

.Honesta e boa, amável e santa, era o meu orgulho. Não intento, pois, depreciar a mulher de quem estou escrevendo. .Apenas um reparo.
Pensava ela que, vestindo melhor, já estava bem e podia passar!
É o erro dos aldeões! Precisam, sim, de lavar bem o corpo,
trate-se embora de partes escondidas, caso contrário, as pessoas asseadas, que tomm banho assiduamente, logo ficam sabendo que
as mal cheirosas não sabem lavar-se, dando isto em resultado que
procuram afastá-las.
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Amadora
29-10-1989 Pernas
Sendo elas embora uma parte valiosa e muito prestável no corpo humano, dão-me a impressão de coisa banal e sem valor.
Efectivamente, expõem-se a tal ponto às vistas humanas, ligando
tão pouco a seu recato, que me deixam confuso e já sem norte!

Por toda a parte o que se vê são pernas. Há delas, na verdade
para todos os gostos: mirradas e secas, figurando varetas de carregar espingardas; outras há, de pele táo coçada que permite
aos ossos melhor apresentarem a sua nudez.

Numa categoria, já um pouco diferente. surgem outras ainda que aparentam membros de grossos moluscos, a figurar trambolhos, dificultando a marcha.
Aparecem algumas com achaques notáveis: manchas e feridas que afugentam o próximo.
Outras se apresentam, já táo roçadas por depiladoras, que a mesma pele se tornou lustrosa.

Que martírio este para quem passa, na via pública!
Só pernas e mais pernas! Umas, nuas de todo; outras, semi-cobertas; estas, papudas; aquelas, então, afuniladas!Nunca vimos
tanta perna, com tamanha variedade! Já ando enfartado! Que
humilhação!
Estou deveras farto! Não posso mais! Por que motivo não cobrem as pernas, evitando assim este mal-estar aos
pobres mortais?! !Acauteladas até duravam mais, fugindo assim à chuva e ao vento!
De outra maneira, corremos o perigo de ficar sem pernas, passando nós todos do 80 para o zero! Que seria de nós!
Refiro-me, é claro, a quem ficava privado de membros tão úteis!
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Amadora
30 -10-1989 Cont,
Embora enjoado, por ver tanta perna, de feitios vários e, não raramente , com tanta deformidade, sinto imensa pena de
muitas dessas pernas. Já nem me refiro à chuva e ao vento; aos salpicos da lama e ao pendor agressivo de urtigas e silvas; às escoriações que a pedra meúda produz ali; às mordeduras, origindas por cães, insectos e gatos; aos maus olhados (segundo o povo diz) que outrem lhes deite; a mil e uma coisas a que a vida presente sujeita os mortais

Há outro reparo que merece agora breve referência, já que o assunto vem a talho de foice. O caro leitor ou amável leitora não vai imaginar o que me anda na cabeça! É que eu, na verdade, sinto imensa dor! Não é das pernas ambas: apenas de uma que não é minha!
De vez em quando, vejo-a acabrunhada, surtentando em cima o peso da outra! Chego a ter raiva às nossas locutoras ( não a
todas!), por tratarem assim uma das suas pernas

Sucede o caso, estando sentadas. Como acontece? É fácil de expor! Atiram com uma perna para cima da outra, sem contemplação!
. Ela que aguente! Ali fica sufocada e posta à margem, ignorada até. Que tristeza, ó Céus, e que grande abandono! Chega a ser ingratidão! Ela dói-se, reclama em surdina, perde a paciência, e manda por vezes abaixo de Braga quem isto lhe faz!
Mas quê?! Se fazem ali ouvidos de mercador! Se tudo se diverte!
Gabam, talvez, a perna tirana e abusadora, que está por cima,(geralmente a direita!), enquanto a squerda jaz mergulhada no olvido total! Um caso notável de ingratidão e alto desanor!

Propunha eu agora, se as amáveis leitoras da nossa Televisão não levassem a mal, que, uma vez por outra, dessem folga à perna humilhada, arejando-a também e dando-lhe o prazer
de figurar, por igual. Combinado? Espero que sim!

A propósito, vem um incentivo, como prémio devido a esse acto generoso, justo e humano: prometo desde já fazer o elogio da perna humilhada. Como se vê, só tem a ganhar! Se houvesse justiça, tanta coisa se evitaria! Para onde iriam as guerras odiosas, os mal-entendidos, desavenças teimosas e tantos dislates que alastram pelo mundo?!
Como tudo isto seria diferente!
Mãos à obra,pois, (neste caso são as pernas!) e não recuar!

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Amadora
31-10-1989 Bigodes

Nestas águas turvas, jamais naveguei! Embirro com eles, de forma assanhada! Isto, é claro, desde muito jovem.. A princípio, nem sabia porquê, mas havia talvez um tanto de repulsa, mercê do tarro que lhe andava agarrado.
Tenho em mente os anos recuados, que passei na aldeia, no
primeiro quartel do século XX.

Causavam-me estranheza os bigodes enormes, retorcidos nas pontas, que umas vezes baixavam, outras se erguiam, mostrando, por vezes, fragmentos de comida ou restos de muco, presos a eles

Estas causas permanecem, acrescentando o mau cheiro, que exalam de si.Ainda que haja cuidado, lavando amiúde os lugares sombreados, não se evita decerto,por largo tempo, o cheiro desagradável!Nem isso admira!
Se não houvesse, de facto, glãndulas sebácias, racharia a pele, abrindo gretas, aqui e além, o que seria um pavor, devido a infecções e outros males piores, que são apavorantes!

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Lisboa
1-11-1989
Dia memorável de Todos os Santos! Que grande ocorrência! Quantos serão? Incontável, na verdade, é o número deles! Biliões? Triliões? Muito mais do que isso!Todos aqueles que povoam o Céu pertencem ao número. Quem serve a Deus e
morre, por fim, no seu amor, vai para o Céu.

Este facto, deveras assombroso, enche de júbio o meu coração.
É que, entre os demais, se encontram decerto, os meus paizinhos e
muitas pessoas a quem eu amei, as quais me pertencem, já pelo sangue, já pela amizade ou ainda por vínculos de cunho espiritual
.
Que família numerosa, distinta e bela! E pensar eu que também um dia me vou associar, unindo-me a eles, para todo o sempre!
Que grande ventura enche o meu peito, nesta hora solene!
De mim depende, a rigor, alcançar o objectivo!

As boas acções levam para o Céu, O auxílio divino, o rogo dos Santos, a minha aspiração e disponibilidade realizarão o grande sonho
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Lisboa
2-11-1989
Ontem já, homenagem luzida aos Santos do Céu; hoje, por sua vez, tributo amoroso aos detidos ainda, no Purgatório. Isto, de modo especial, neste dia fixo, em memória deles, porque a sua lembrança bem como a ajuda que devemos prestar-lhes, se estende ao ano todo.

Esta obrigação de lembrar, amiude, os queridos mortos e fazer por eles alguma coisa útil, abrange toda a gente.
Quem haverá aí qe não tenha alguém, no lugar da expiação?! Talvez ninguém!
Entretanto, essas almas benditas são-nos queridas, pois nos amaram, com grande enlevo e bastante imolação.

Que fazemos nós, em seu favor? Muitos recursos temos disponíveis: oração em geral; a Eucaristia; a Sagrada Comunhão; a esmola por Deus; qualquer acção a exprimir caridade, para ajudar carentes; actos breves de mortificação, relativa aos sentidos; pequenos sacrifícios; renúncia a coisas que podiam deleitar-nos.
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Lisboa
3-11-1989 Prazer

A 29 de Outubro, ouvi na Televisão uma frase especial, que me chamou a atenção. Por esse motivo, reflecti
sobre ela, merecendo reparos que deixo aqui, devidamente exarados.
Foi num frente-a-frente ou mesa redonda, como usam de chamar-lhe. Julgo haver-se dado, após as 19, no 2º Canal. Um dos presentes atirou com, esta frase: " A Igreja é contra o prazer, que sempre desaprovou, tentando proibi-lo".

Esta frase é falsa. Faz imensa pena que alguém discorra, sem estar ao corrente da matéria a versar!
Vejamos, pois, onde está o erro!
Alimentar-se dá enorme porazer. Acaso a Igreja proíbe a alimentação ou é contra ela?!No tocante às bebidas, veifica-se o mesmo!
Ora bem. Não me condta, realmente, que alguma vez tenha
havido proibição!
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Amadora
4-11-1989 Cont.
Haverá casos pontuais, que a Igreja proíba, revelando-
-contra?Certamente que sim. Mas esses casos representam um abuso, um desvio criminoso, um torcer de factos, que se opõem fromtalmente ao fim providencial que Deus tem em vista, com tal
prazer
Desçamos um pouco, servindo-nos agora de factos mais correntes. Venha, para já, o prazer sexual. A Igreja não o proíbe, se nada for feito contra a finalidade que Deus tem em vista - a
procriação! Absolutamente nada!

Nenhum Moralidta se lembrou disso!
Seria " maniqueu "se tal fizesse! Ora, o Maniqueísmo foi condenado pela Igreja Católica.
Portanto, não há oposição nem proibição!
Não misturemos alhos com bugalhos nem falemos de assuntos em
que somos ignorantes, manifestando incapacidadee falta de autoridade.
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Lisboa
5-11-1989
A propósito dos Santos, em 1 do corrente, esclareceu, na Televisão, uma digna locutora: " Prestamos hoje homanagem aos Santos canonizados que, por serem muitos, não havia dias, ao longo do ano, que chegassem para todos."
Esta frase de modo nenhum corresponde à verdade, tomada em globo
A nossa homenagem é extensiva a todos os Santos da Corte Celeste, canonizados ou não. Quantos lá estão, já conhecidos ou ainda ignorados, havendo feito milagres ou em nada chamando a nossa atenção, pertencem, de verdade, à familia dos Santos.

A grande massa do povo associou o milagre à própria santidade. .
Isso não é exacto!. Toda criatura é chamada à santidade, mas não
necessariamente ao carisma dos milagres.
Os que não foram canonizados e se encontramno Ceu hão-de ser multidões que ninguém pode contar!

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Amadora
6-11-1989 Um Caso mais

Há poucos dias, aguardava, na paragemm, que chegasse o auto-carro.. Enquanto o fazia, olhava em redor, para distrair, observando as gentes que passavam em frente.

Nisto, um cavalheiro avança, do seio dum Comércio, inclina.se um pouco, para a direita, e cospe no chão. Isto exactamente vejo eu fazer centenas de vezes, ao longo da jornada!

Mercê dos hábitos, nem devia estranhar, sinta embora nojo de verificar estes actos imundos! Já o tenho vincado, em outros Diários. É uma coisa nojenta, inconveniente,em extemo poluidora! Causa repulsa!

Entretanto, no caso exposto, foi maior a surpresa! Cuspiu à porta! Quem assin procede fará o mesmo, ao chegar ao local. a
qualquer momento!
Hábitos maus! É como vazadouro, onde o lixo se acumula
Que grande javardeiro!

Isto e o mais, na linda cidade que foi capital do maior império que houve, neste mundo! E às portas já, do século XXI!
Que tristeza me invade! Só gostava de saber se o dito cavalheiro ´é o dono do Comércio!

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Amadora
7-11-1989 Resposta pronta.

Foi há dois ou três anos que o facto ocorreu. A ele, naturalmente, faria referência, nos meus escritos, mas isso não obsta a que eu o relembre, de vez em quando! Tamto o caso se gravou, na minha retentiva!
A frase incisiva duma senhora francesa, ante os meus reparos e grande estranheza foi a seguinte: " Sozinhaos, na verdade, andamos nós sempre, ao longo da vida!"

Deu-me que pensar e jamamais a esqueci. Desceu âs profundezas da minha alma sensível, donde irrompe, amiúde!
Numa sala mortuária, junto aos Jerónimos, encontrava-se um cadáver, sem ninguém por companhia. Apiedei-me, ao notá-lo
e por pouco não chorei! Ao menos uma pessoa! Mas nem isso!

Enquanto olhava, cheio de pena, chega uma senhora, a perguntar não sei quê, relacionado também com o féretro presente.
Fazando-lhe sentir a minha funda mágoa, perante o caso, diz ela emtão o que já referi.

Será, de facto assim ?! Tanto o egoísmo que invade as pessoas?! Viver cada um apenas para si, não se lembando já de que servir é reinar, quando feito por ideal?!
Nem o exemplo de Cristo nos fala à alma?!

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Lisboa
8-11-1989
Em trªes do corrente, fiz entrega da capa ao Gerente da Editora , de nome "Europress -- António Bento Vintém. Trata-se do livro que vai já sair, no mês corrente, segundo eu espero e me foi garantido. É o primeiro de uma série que será um tanto longa, pois atinge uma extensão que eu ninca imaginara.

Efectivamente, como apurei há pouco, tenho de recorrer a desdobramentos, para não maçar os amáveis leitores e simpáticas leitoras com livros grossos. Juntamente, seguiu o primeiro cheque, para dar satisfação a compromissos tomados. A grande ocorrência, pelo que me toca, gera excitação na munha alma sensível!
Será, talvez, como o primeiro filho que espera um casal? Faltando, na verdade, os filhos de sangue, vão esses livros em sua vez.

Desejaria bom êxito, logo de iníci, afim de avançar com mais publicações. Ideal seria lançar cada ano, pelo menos, seis!
Afigura-se o caso em extremo difícil, diria até impossível, mercê dos gastos que o facto requer.
Só com muita sorte poderei realizar "o meu grande sonho"!
Por causa dele, desisti da matrícula, na Faculdade de Letras, sita em Pretória. na África do Sul.
Ao meu Diário de 75 -- A Segunda Noite -- cortei para logo 55 unidades.
Que Santo António lhe faça companhia, para arribar seguro ao porto do triunfo!
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Lisboa
9-11-1989 Bela Sugestão!
O nosso Presidente, Dr, Mário Soares, lembrou com agrado para todos nós, que os povos de Timor fossem integrados na Comunidade, chamada Lusófona.

Ideia maravilhosa, pois tal Comunidade abrange vários povos, quase iria dizer, se estende, realmente, pelo mundo inteiro.
Efectivamente, além de Portugal, fala Portuguès o grande Brasil, que nos próximos anos, atingirá, possivelmente os 2oo milhóes;
Angola e Moçambique; Guiné- Bissau e Cabo Verde; S. Tomé e
Príncipe; Timor por igual; Leste e Índia lusófona

Por que não inserir a nossa amada Índia na mesma Comunidade?!
Fala-se ainda o nosso belo idioma, em muitíssimos lugares, dispersos pelo mundo.
São os Lusitanos da extensa Diáspora, (5 milhóes?), espalhados pela França, Alemanha e Suíça; Espanha e Luxemburgo; Estados Unidos; Austrália e Colômbia; Itália e Canadá, e outras ainda.

Juntemos também lugares diversos, onde se reza em Língua Portuguesa, como Ceilão e Malaca. Não esqueçamos a Inglaterra, a própria Bélgica e também Macau!

Este mundo lusófono é deveras imponente, uma vez que ultrapassa os 2oo milhões( agora em 2007.)
Refiro-me às línguas de maior cotaçáo, no mundo civilizado, cá na Europa, e sua projecção, através do Orbe.
Vai ser triunfal a caminhada histórica da Língua Portuguesa!.

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Lisboa
10-11-198 Diálogo Franco

Há poucos dias, encontrava-me à sombra de copadas árvores, na linda Praça, Afonso de Albuqueerqie. Pensava em mil coisas, matando ali o tempo, afim de iniciar um serviço fúnebre, não longe do sitio .
Eis senão quando avisto um campónio,que ali se divertia, observando os pardalitos a comer as migalhas que uma senhora idosa lhes fazia chegar.
Segundo ele informava, não era a primeira vez que o facto ocorria. A macróbia referida faz-se acompanhar de uma cadelita, por nome Diana.que tem já 10 anos, sendo vitalício o seu B I.

O dito animal, que é vida e encanto daquela senhora, não levava a bem atirar-se o pão às aves do céu!. Ladrava, protestando, enquanto a dona, para a ir calando,ministrava, de raro em raro, um
pedacito de côdia.
Ficámos sabendo que a invejosa Diana está legal e gosta imenso de comer cenoura. Todos os dias, vai uma ou mais, se forem pequenas.
Por fim, diz ela à Diana: Mostra a barriga à tua benfeitora!
Palavras nãoeram ditas, já ela se voltava. É muito espertinha a mágica Diana. Sem ela presente, que seria da velhota?!

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Lisboa
11-11-1989 Cont,
Partindo a senhora com o dito animal, fiquei eu sozinho, com o campónio, no mesmo banco.
Falámos bastante ou melhor ainda, falou ele somente, porque eu limitava-me a fazer perguntas , reduziindo ao mínimo as palavras a usar.
Prefiro. geralmente, que os outros falem, quando me apercebo de que aprendo ali alguma coisa válida.

Dizia o cavalheiro, muito porfioso e assaz confiado: " A ciência agora está muito avançada. Já querem ir ao Sol, mas se lá chegam.
rebentam com tudo! olhe, sabe? Esta gente de agora , esta novidade já não vale nada! É das comidas que vêm contraminadas! Tudo contraminado"

Neste passo, tomo a palavra e digo, sem demora: há uma canja de ave que é uma delícia! Já comeu alguma vez?
Atalha ele, num pronto: " É pedriz! Isso sim! Vale a pena comer? É coisa asseada!"
Alongou-se o campónio em muitos considerandos, utilizando o botdão: " É ou não é?!
Eu então apoiava, dizendo que sim, o que dava incitamento
a que ele prosseguisse!
Ainda agora lá estávamos, se eu não partisse, obrigado pelo
dever
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Amadora
12-11-1989 Cont.
Pelo caminho. fui relembrando o nosso diálogo, vincando certas frases ou termos deturpados. Se referi a conversa, ao menos em parte, não foi para troçar: antes o fiz, para censurar a gestão da riqueza, neste belo país. Não foi ele, no passado, o mais rico do mundo?! E era-o muito mais do que ele próprio julgava!

Após o século XV, passaram em lugares, onde havia, decerto, imensas riquezas! Bastariam as seguintes: África do Sul -- ouro e
diamantes; Arábia , Angola e Timor -- petrólio; Austrália, etc.
Não acabara, se quisesse enunciar, em grande oirmenor, todas as matérias.
Por que é que o nosso povo se encontra, ainda hoje, nesta vida lastimosa?!Uma velha nação, com milhares de anos! Ao longo destes séculos, que se fez ao dinheiro?!
Só contava Lisboa! E o resto do país?!

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Lisboa
13-11-1989
Industrialização da nossa cultura?!

Lamentam os artistas ( foco agora os escritores ), que não haja condições para se realizarem. Efectivamente. assistelhes razão. Se não têm recursos e ninguém os ajuda, como pode então levar
a cabo as suas criações?!

Alguns deles nem sequer as realizam; outros conseguem-no, mas não têm meios, afim de promover a venda estimulante de suas mesmas obras.
Na base de tudo, encontra-se, pois, a escassez de recursos. Se o poder político não atende ao caso, não teremos obras de arte,
empobrecendo a cultura. Dado o caso pontual de o jovem escritor
conseguir ajuda, em Ditadura ou regime absorvente, surgem barreiras e erguem-se obstáculos, agindo assim contra a mesma liberdade, que o artista precisa.

Ficaria, pois, a dita cultura ao serviço do poder, o que é grande mal uma vez que empobrece o património dos povos.
Como resolver a triste situação? Só, naturalmente, em regimes democráticos, ela é possível, embora não por inteiro.
A não ser que se trate duma Democracia que o é 100 por
cento!
Sendo a cultura industrializada, é caminho para a morte.
Se o artista precisa e não encontra saída, adapta.se às vezes, a
gostos deteriorados, que são na verdade os de muita gente.
Em tais casos, atenta-se, de facto, contra o ideal, matando-se, por certo, a criatividade, enquanto se faz obra negativa, ao mesmo tempo.
É.se demolidor e não construtor!

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Lisboa
14-11.1989 Uma Visita
Comecei por ouvir uma voz troante, que muito estranhei. Não era costume falar-se daquele jeito!
Sucedia, pois, que achando-me ocupado, a fazer revisões,
o meu trabalho ficava deficiente e cheio de mazelas. Isto incomodava!
Logo de início, julgava, na minha, ir aquele vozeirão extinguir-se em breve, deixando-me em paz. Aqui, realmente, é que eu me enganei! Em vez de extinguir-se, aproximou-se mais ,
ficando a meu lado.
Oh! Eu que preciso tempo, calma e silênco!
Na capital, é aquilo que mais falta!

Tentando superar a tal dificuldade, nada lucrei. Paciência!
Desisti logo e pus-me a ouvir os recém-chegados: eram eles
Abel e Miguel, velhos conhecidos do longínquo Chitembo, sito em Angola, distrito do Bié.

Durante o encontro, vieram então frescas novidades, relativas a Angola, as quais. na verdade, muito nos alegraram, pois jamais esqueceremos tão belas paragens, a que ficou ligado o nosso coração!

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Amadora
15-11-\989
Surpresas não faltam!

Foi no dia 11 que a bomba explodiu! Embora a situaçao não
fosse ideal, não era de esperar um desfecho assim, firmado em rudeza, desumanidade e falta de senso.

Haverá entre nós bichos da selva?! É a berrar, como fazem os cafres, que se tratam os assintos, figurando temporais?! Em vez se progredir, vamos recuando para a barbárie?!
A Idade- Média já finalizou, em1453!

Não foi, mais tarde, a Revolução Francesa que deu o golpe mortal
nos abusos de outras eras, incluindo, já se vê, a referida época?!
Antigos privilégios, altas distinções, títulos e o mais , tudo foi abolido. Em nossos dias já, surgiu a Declaração dos Direitos do Homem.
Tratando o semelhante como simples animal, preserva-se a dignidade e os direitos sagrados do ser humano?! Eu nem digo bem! Há, de facto, animais que recebem mais carinhos e muito mais estima!
O pobre empregado ouviu um berreiro que o deixou atordoado! Porquê ?! Ainda que fosse com inteira razão, não é dialogando que se tratam os assuntos?!

Que o facto referido, algures em Lisboa, representa uma injustiça, um acto de agressão,, diria até abuso, mas inqualificável, é mais que certo! Para mais, devia dar bom exemplo. Assim lho exige o cargo importante que tem à data.

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Lisboa
16-11-1989 Cont.
De cima, creio eu, há-de vir o bom exemplo e não a violência, o abuso do poder, a agressividade, o tripúdio revoltante, sobre os inferiores!

É assin, de facto, a caridade cristã?! Onde está o diálogo, a boa harmonia, a compreensão, os belos sentimentos de humanidade?! Será essa, acaso, a doutrina de Cristo?! Se não é
isso, vale muito mais despir a capa, renunciando ao cargo.

Atitudes assim desacreditam logo a Religião, que serviria apenas
para fins comerciais. Será esse, de facto, o ideal cristão? É assim que se tratam os pobres retornados, que o Abril infame privou de tudo, incluindo, já se vê, membros de família, sacrificados, lá fora, ao furor inimigo?!

Não interessam nada cúpulas assim, onde apenas viceja interesse e aparências! A fé sem obras é morta, como diz a Escritura. Ou
acaso o Evangelho e a palavra de Deus já foram alterados?! A
imutabilidade não é já um atributo do nosso bom Deus?!

Coro de vergonha, pelo que observo! Servir-se alguém dum cargo honroso, para humilhar e privar do necessário quem foi esmagado, em corpo e alma, pela Revolução de Abril-- 74 que, nascendo talvez, escorreito e promissor, foi logo deformado por quem o empolgou?!
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Lisboa
17-11-1989 Cont,
" As salas A-B-C dão prejuízo! É você que o paga?!"
Linguagem de almocreve, isso é que ela é!. Um carroceiro não diria melhor nem punha tanta ênfase, porque foi berrada aquela objurgatória!

A pessoa visada, que largou o cargo, foi sempre honesta,
meticulosa em extremo, cumpridora e modelar! Se alguma vez, de facto, houve certo excesso, foi em benefício da Instituição, com prejuízo, sim, mas para ele!

Como foi então que veio a surpresa alarmar toda a gente?!
É caso para dizer, como fez no Lácio o orador romano, de nome, Cícero" Oh tempora!Oh mores".

Que se trate alarvemente um empregado, tão exemplar, quase à beira dos 70, coisa é que se estranha e muito censura! Rematada hipocrisia se alberga no peito! Que é, realmente, senão hipocrisia,
aconselhar uma coisa e fazer ao contrário?! Serei eu que não entendo?! Estarei já louco, destinado ao Manicómio?!

As injustiças, porém, fazem-me enervar! Não posso com elas, de
maneira nenhuma!
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Amadora
18-11-1989 Pernaltas
Conheço a palavra, desde longa data. A princípio, no entanto, ignorava -lhe o sentido. Só muito mais tarde alcancei, na verdade, o conteúdo exacto do luso trissíllabo.

Poderia apereber-me de tal significado, atendendo à formação da palavra referida, mas isso, a rigor, não era para mim, que nasci na ignorância e nela cresci, até aos 15 anos., data precisa, em que.fui iniciar os estudos secundários.

Bom. Decompondo o termo, fica patente o que eu ignorei, longos anos atrás: perna alta.Aplica-se o chamo a certas aves, que se fazem notar pelo comprimento dos membros inferiores.

Em nossos dias ( quem havia de supô-lo, em tempos decorridos?!) verifica-se também a sua aplicação em certas donzelas, nas quais só as pernas é que chamam a atenção! Aproveitadas ao máximo, para exibição, notam-se à légua.
Figuram dois espeques, segurando um balão, cheiinho de vento!

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4Amadora
19-11-1989
Trinta e um da Armada
Encontrámo-nos ontem, aqui no local. Se falo no assunto, não tenho em vista fazê-lo conhecido, pois goza de fama, que é bem merecida.
Trata-se, afinal, dum belo Restaurante, que eu drsconhecia.
Como insinuei, reunimo-nos ali, à hora do jantar, após a cerimónia, realizada, na igreja, para administração do Sacramento do Crisma.
Veio D. Albino, Bispo auxiliar, que nos pôs radiantes, com a sua companhia., o que sempre acontece, mercê duma presença que é muito desejada. e nos deixa saudosos, logo que a perdemos.
Éramos seis, no dito ágape. Foi um convívio, bastante animado, notando-se claro haver em todos fundo regozijo.

Quanto a mim, nem tenho palavras que exprimam , devidamente, a alegria que senti.. Havia muito já que deixáramos
de ver.nos, embora a lembrança jamais se apagasse.
Cerca das 22 regressámos a casa, despedindo-nos todos, com grande bonomia. e desejo vivo de novos reencontros, em tempo não distante.
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Amadora
20-11-1989
Rumo Novo
Começar vida nova, a partir dos 5o, origina problemas!
Pois não é já o declínio da existência?! Assim o diz claro o Andrómetro de Spencer, que situa esta fase, dos anos 50 a 56. Mercê deste facto, sobem desde logo as dificuldades.

Tais considerandos brotam da mudança que agora se realiza,
a partir de Lisboa, para viver na Amadora. Durante 9 anos, viveram na capital os meus familiares, o que me levava a ir ter com eles, à hora do alnoço, indo em seguida para o meu trabalho.

Já tinha calo este viver! Por isso, é claro, me custa agora
infringir os hábitos. Em anos passados, nada ne detinha! Ao presente, a mínima coisa me faz titubear! Serei eu o mesmo?!

Bem desejava convencer-me disso! A verdade, porém, é que tudo se complica!
O caso imprevisto, ocorrido, nos Jerónimos, com meu cunhado, agudizou as coisas. Decisão fulminante! Efeitos desastrosos!
Com boa vontade, arranjar-se-á tudo!

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Lisboa
21-11-1989 Uma Prenda mais.
Dizem ser gripe e nisso convenho. Efectivamente, os sinais que apresenta não deixam hesitar: dor de cabwça; ritmo do peito ago diferente; depressão geral; dor vincada nos braços como nas pernas; dificuldade nos movimentos; perda no apetite e o mais que falta.
É um cortejo luzido que me visita agora. A medicina já vai actuando, pois noto progresso: h´sinais de reacção: não molesta a cabeça! O coração, por sua vez, estabilizou ou vai a caminho. No
entanto, ignoro o resto!
Baixarei ao leito? O que menoseu queria era, de facto isso!
Hoje, ao erguer-me, parecia tonto! Já não sabia onde tinha ascoisas!Esquecia tudo! Vamos lá ver como isto será!

A farmácia da igreja forneceu medicamentos que são anti-
-gripe.: gotas para o nariz e alguns suposotórios. Destes, porém, há uma qualidade que exige 1 por dia. A outra aplica-se, fazendo intervalos que durem 12 horas.
Parece-me, à data, que estou a reagir bastante bem. Veremos, pois, se não vou à cama. Não gosto nada! Em último caso!...
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Amadora
22-11-1989
Um Supositório

Conhecia-lhe o nome, ignorando, no entanto, alguns dos seus efeitos. Refiro-me. agora aos efeitos maléficos, pois eles são reais e actuaram ao vivo a noite passada. Não era constante a dor provocada, mas tão amarfanhante, funda e vincada, que me fazia num vime a escorrer água, contorcendo-me com dores.

Que lenta agonia! Que momentos longos e desoladores! Julgava, na minha, que era já o fim. Se aquilo persistisse, com firmeza e constância, não podia suportá-lo! Desejaria a morte, se a Deus aprouvesse! Entretanto, o chamado bismuto, responsável, ao que dizem, por esta avaria, está perdendo o vigor, segundo me parece!

A noite passada já foi melhor! Desapareceu o quebranto geral; a dor de cabeça extinguiu-se também; ganhei energia, de igual passo e maior agilidade, nos membros corporais. Dormir em forma isso é que não! Aguardo com ânsia melhoras completas, para que a faina seja retomada.
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Amadora
23-11-1989
Fiat 600
Tentaram prender-me a um carro-brinquedo . Irei no engodo?! Dizem para aí que é maravilhoso e que foi reparado, com muita diligência. O custo dele vai, para já, a 15o contos.
Peqienino como é, não chega a cilindrada a 600 centímetros.

Entretanto, este modelo já não é recente. Pertence, pois, ao número dos velhos. Além disso, é fraco em potência: dava só para Lisboa e seus arredores. Será de tentar? Há já 10 anos que não conduzo! Fê-los precisamente em 6 deste mês! Apesar de tudo, não era obstáculo!
O grande contra é a minha visão, pois sendo monocular, tenho dificuldades. Há outra ainda: o tráfego intenso, pelas nossas estradas. Há só carros e mais carros, por todo lugar! E nas horas de ponta?! Isso, então, é que é o bonito!

Querendo evitar alguns dissabores, viajaria apenas a certas horas, fugindo assim a tamanhos perigos!
Estes invernos, daqui para Lisboa, com paragens no caminho!...
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Amadora
24-11-1989
Volta na Cidade
Chegada há pouco a minha família, ignora os lugares, aonde tem de ir, ao longo da semana. Mercê deste facto, levei-os
de tarde, a um pequeno giro, por certas ruas de maior utilidade, para seu governo.
Desta maneira, fizemos, de princípio, caras à Estação, identificando antes de mais o CPP e o final da carreira -- Lisboa-Amadora.
Num relance de olhos, avistámos ainda o edifício da Câmara, junto da linha, afim de saberem onde fica o gás

Lá mais adiante, desebocámos então na comprida Rua Elias Garcia, para virarmos à esquerda, um pouco mais abaixo, onde começa a Nuno Álvares Pereira.
Entrados no desvio, nota-se à direita o Mini-Preço, onde minha irmã desejava fazer compras. Assim aconteceu.

Pelas 15 horas, facultataram a entrada, iniciando logo a recolha dos precisos, cujo montante foi, desde logo, a 3 conto e 600!
Uma carestia de arrepiar cabelo, nos tempos de agora!
Quem pode viver?!
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Amadora
25-11-1989 Carta: Ex,mo Senhor, Dr.Savimbi;
Antes de mais, é preciso identificar-me: sou padre
católico e estive em Angola (Slva Porto), de 1972 a 1975, sendo
professor da Escola João de Almeida ( Escola Técnica).

Senti-me feliz, na linda cidade, colaborando sempre com os Angolanos, até ao dia triste -- 8 de Maio de 1975.
Às 16 horas e 8 minutos, ouvi em claro um tiro de espingarda que, horrorosamente foi atingir a Maria Margarida, conhecida também por Guida e Margarete.

Era minha afilhada e também sobrinha, militante da UNITA,
de que sentia orgulho. O grande sonho para o qual vivia era formar-se, dedicando a vida ao Grupo Nacionalista e ao chefe glorioso, o Dr. savimbi..
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Lisboa
26-11-1899
Cont,
Nascida noi Chitembo, amava com ternura a sua pátria africana. Finalista já do Liceu Silva Cunha, iria seguidamente, para Sá da Bandeira, formar~se em Românicas e pôr-se inteiramente ao serviço da Pátria..Não quis a adversidade ( ou antes a Provdência?) que levasse ao termo seus altos projectos, mas tenho a certeza de que lá no Céu, onde já se encontra, pede ao Senhor que dê a paz ao berço natal!

Se ela vivesse, no tempode agora, em que novo rumo se está delineandp para o povo mártir, ia ser tão feliz!
Na Pátria Celeste, acompanha-nos, decerto, maior sendo,pois, a sua influência, em prol da justiça, paz e ventura do povo angolano!
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Amadora
27-11- 1989 Cont.
À data do crime, chegou-me aos ouvidos que o Dr, Savimbi, ao tomar conhecimento do caso infando, pediu sem demora o cartão da sinistrada, juntando os dizeres: " A morte da Guida será vingada!".

Por todas estas razões, quis eu oferecer o meu primeiro livro,(Diário de 75, "A segunda Noite") ao ínclito chefe, que é, na verdade, o orgulho do povo.

Entrarão no prelo, se os recursos bastarem, alguns Diários mais ( 73-74, como ainda uma parte de 72, pois cheguei a Luanda ( aeroporto) a 31 de Julho do ano em foco.

Há mais 4 Diários, ( 76-77-78 -79) escritos já, no Sudoeste Africano, junto ao Dirico (Katere), na outra margem do rio, com Angola pertinho. Embora expulso de lá, o meu coração ficou preso a ela!
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Lisboa
28-11-1989 Cont.
No Sudoeste Africano, ( Namíbia), fui durante quatro anos, professor de Inglès e outras matérias. Em Angola, foram 3. .Apesar de tudo, jamais esquecerei essa terra de fascínio, tão
sacrificada e banhada em sangue!

Tenho, à data,71 anos. Se fosse mais jovem e a paz triunfasse, voltaria de novo para Silva Porto.
A nossa Guida tem um irmão que é Engenheiro e angolano de nascença, o qual é também um verdadeiro louco pela sua pátria.
Quanto haja sobre Angola ou sobre a UNITA é logo comprado! Casou, há pouco tempo, com uma Arquitecta. O sonho
dele é voltar para Angola.
Tem um chefe incomparável, onde é amado e respeitado, o mesmo sucedendo aqui em Portugal e no Sudoeste.
Vários povos africanos estão a seu lado.

Só é pena, realmente, que uma guerra fratricida, horrenda e cruel
esteja ensanguentando o solo da Pátria!
E vão já passados longos 15 anos!
Como eu tenho pena desse povo infeliz, amável e crente, bom e amigo!
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Lisboa
29-11-1989 Contraste

O que vale é isto! Que seria a vida, se fosse diferente o correr dos factos?! Efectivamente, as várias mudanças, altos e baixos, alegrias e dores, tristeza e júbilo, doçura e azedume, preto e branco... sendo intercalados na trama da existência, dão-lhe interesse e conferem relevo, quebrando sempre a monotonia.

Aconteceu-me agora tal confirmação. Dolorosos foram estes dias passados , com noites de insónia, que não tinham fim! Oh! que angústia! Que transes horrendos, sem descansar! Bem ao contrário! Por não dormir, jamais recuparava a energia perdida! Só dados negativos eu ia acumulando

Hoje, porém, já durante o sono experimentei visíveis melhoras. O achacado estômago poupou-me os reveses que eram
habituais. Foi um alívio! Se eu, realmente, não estou ainda a cem poe cento, ando muito próximo. Ultrapassei já os noventa por cento!. Pareço outro homem! É que a vida, agora, apresenta, de facto, outro cariz!
O prõprio futuro deixou de ser negro! Acabaram, por inteiro, as apreensões e cálculos funestos Sorriu nova aurora; trabalho com gosto e desejo ser útil.
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Lisboa
30-11-1989
Jã estamos às portas do mês derradeiro, em 89! Após o corrente que não foi moderado em lances tremendos, vem-nos ao encontro o mês de Dezembro, para finalizar
Quantas lograções, ao longo destes meses! Quantos dissabores, pelo tempo fora! Quantas mágoas fundas, a criar agonias, em peitos amantes!

O nosso povo, apercebendo-se,há muito, destas realidades, com valor negativo, criou o anexim: "Adeus mundo, cada vez pior!"

Mas, afinal, que é que torna o mundo cada vez pior?!
É, certamente, cada um de nós que não cumpre o seu dever! Se
timbrássemos todos em fazer o bem, evitando o mal, ia logo melhorar este pobre mundo!

Ficamos, pois, sabendo qual é, na verdade, a causa primeira de todos os males que afligem a Terra: o feroz egoísmo, desamor e preguiça, numa palavra -- desamor porfiado a Deus e ao próximo!

Entrando o Senhor, na vida particular de cada um de nós, tudo se muda e toma outras cores! Sem Ele, nada feito!
Ditosos são, pois, os que fazem esforço, para melhorar as suas relações, trilhando, por norma os caminhos do Evangelho!

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Amadora
1-12-1989
Como ele agiu

Não lhe sei o nome, embora o facto, em si, pouco ou nada importe. É um cavalheiro que tem um cãozinho e traja bem.
Aparentemente, julguei-o distinto, apoiado, claro está, na sua indumentária e jeito especial como a apresenta.

Bom! Até aqui, tudo à maravilha! Agora, porém, vai mudar
o cenário. Observando-o ali, à entrada geral que vai dar a um prédio, noto desde logo os seguintes pormenores: é antes o animal que o leva a ele, como a reboque, seguindo-lhe, a rigor, todos os
movimentos, avanços e recuos, paragens e arranques.; mantém-se
inalterável a todos os jeitos, meneios e posições que assume o canino.
Fez-me impressão tal jeito de ser! Esperava o contrário, para
assim o caso ficar normal
Decepções e atropelos é o que vamos tendo, ao longo da vida!
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Amadora
2-12-1989 Cont,

O principal ainda não veio, mas acha-se perto.
Fixemos o animal, juntinho às ombreiras da porta referida. Logo que chega e fareja os acessos, levanta a pata, emitindo um esguicho. O dono espera, harto resignado e mostra-se calmo, deixando entrever uma certa alegria. pelo acto canino, o que fez
subir a minha surpresa

Efectivamente, não sei, a rigor, a que devo atribuir o seu regozijo! À imundície, originada então pelo animal?! Ao alívio do cão por haver libertado os produtos tóxicos? Alguma causa haveria!

Sendo o primeiro motivo, deixo aqui lavrado o meu protesto
vivo, inconformado, sacudido e veemente! De facto, origina-se ali
um cheiro pestilento, que vai incomodar os inquilinos do prédio.

Gostaria de fazer, ao menos uma pergunta, ao sujeito importuno, atrevido e sórdido. Ficaria satisfeito, se lhe levassem à porta, cães e cadelas, para ali depositarem o que os seus organismos se recusam a manter, por serem deletérios?!

Respondendo ele afirmativamente, retiro eu já uma boa conclusão: a casa habitada hã-de assemelhar-se a qualquer sentina, jamais lavada! Que javardice!

Quem pode viver, num local assim?!
Às portas já, do século XXI, com milhares de anos de personalidade e só vamos aí?!
Quando acabará este sebento e mísero espectáculo?!

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Amadora
3-12-1989 Folhas

Vejo-as a rodos, em todo lugar, Amontoadas e sujas,
amarfanhadas, já retorcidas, calcadas e mortas! Que sensação amarfanhante! Que pensamentos, lastimosos e tristes, se não geram em mim?!
Já foram encanto, para olhos cobiçosos; maravilha deslumbrante, para artistas de gema; atracção e enlevo para almas de eleição! Agora, afinal, inspiram piedade! Amarrotadas, impelidas , conspurcadas, jazem as pobres na berma dos caminhos!
Encarando nelas, com olhar atento, fazem-me lembrar o curso da vida! Também fui adolescente, jovem loução, com altos ideais. Hoje, porém, quase aos 72, figuo amplamente uma folha do caminho, arrumada... esquecida!
Que tristeza, meu Deus! Como foi possíve operar-se tal coisa, na minha pessoa?!

Apesar de tudo, há enorme diferença, entre essas folhas e o meu
pobre corpo! Elas jamais recuperam o vigor e as cores, ao passo que eu voltarei à juventude, no dia feliz da ressurreição!
O meu pobre sorpo, velho, destruído, dá lugar, por Deus, a um corpo de maravilha!
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Amadora
4-12-1989 Duas pernas... duas saias A moda agarrou, não havendo maneira de fazê-la recuar! Mulheres de calças! A princípio, estranhava-se muito. Depois, tornou-se o caso já tão banal, que cessaram os re peparos. Eram calças bem feitas!

Algumas de las hartoelegantes! A fantasia da mulher criadora e o se u bom gosto produziam maravilhas! Deslumbravam- por vezes, em questão de cor, arrumação de partes, modelos- padrão, originalidade!
Bom. Os anos pas saram e, como tudo,esse gosto curioso foi
degenerando! É o que vejo agora! Cada perna das cal,ças autêntica boca de sino antigo! Por isso figuram tais pernas duas amplas saias, donde a graça fugiu! Dsconformes we amplas, harto
ine stéticas e muito flácidas, engelhadas e com rugas, quando não até, incrustadas de imundície, noto-as aí, por todo lugar!

Lá por dentro, badalam sempre duas pernas esguias, que mal se adivinham, naquela amplidão! Que momentos vazos, secos e vãos! Tempo esbanjado aquele que se gracioso, enfiado em sacos, mal conformados, vira espantalho que tudo afasta!

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Amadora
5-12-1989
Tomei a decisão e fui à Póvoa. Havia já tempo, que andava no ar este enorme desejo: saber, de fonte limpa, como está o original do meu primeiro livro, cujo manuscrito se encontra, realmente, na dita localidade, para efeito de impressão

Aproveitando o ensejo, levei o segundo cheque, um quarto de mil contos, para cumprir, de maneira exacta o que fora acordado.

Às 11 menos 15, chegava apressado a Santo Adrião (Póvoa).
Entregada a encomenda e trocados os cumprimentos, recebi logo novas agradáveis: já se encontra feita a pré-revisão. De momento, está o conteúdo, na foto-copiadora. No dia 7, provavelmente, enviam-me então as ditas orovas, afim de iniciar a primeira
revisão.

Sinto-me, por isso, um tanto animado! A coisa afinal, tem pés e anda! Pudesse eu já, na quadra natalícia, enviar exemplares a quem vou distinguir, pela sua amizade ou provas de estima!
Destinarei, talvez, uma cifra reduzida: entre 15 e 20.
É que, na verdade, os recursos não abundam, ao menos por agora!

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Amadora
6-12-1989

Se bem informou o senhor Vintém, gerente da Europress, receberei amanhã as provas do livro, para revisão. A própria
Editora encarregou-se também da pré-revisão, com o fim imediato de tornar mais leve a minha tarefa. Excelente ideia!

Vou, poia debruçar-me, com todo o esmero, sobre os textos da Gráfica, para dar caça a gralhas deselegantes e anotar reparos que haja de fazer. Para levar ao termo o dito labor, colhi noções que procuro reter e bem assinalar.

É questão de símbolos a pôr na margem, segundo as faltas que for descobrindo. Serão duas revisões que terei entre mãos. Ainda pesam na vida! Após tantas outras que havia já feito, no velho manuscrito! Mas é assim! Perfeição ideal jamais a consigo! Apesar de tudo, envido o meu esforço, para obter o melhor do que for capaz!
Palo Natal e já um pouco antes, disporei talvez de alguns volumes, para oferecer aos bons amigos.

A edição em pleno será posta à venda, em fins de Janeiro ou
melho,r talvez, no mês de Fevereiro..
Deus a acompanhe, nos passos vacilantes que vai tentar.
Correndo tudo bem, irão outros livros para a luz do dia.

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Amadora
7-12-1989
Símbolos necessários para a revisão
O número de símbolos é bastante elevado,. Convém, por isso.
focar só alguns que apesentam, de facto, maior utilidade. Desta
maneira, alivia-se a memória, poupando incómodos que tiram o
sono.
Nas linhas que seguem, vou pois deixar alguns sinais que reputo indispensáveis:
Lisbia........( troca de letra)................| 0
Lisboal......( deitar fora).....................d
deaLisboa....( d. f. e separar.........#
enfreentar....( d........f. e juntar..........-V-
separar........(,,,,,,,,,,,Itálico.................I
juntinho......(...........Sublinhado...........S
distante------(...........grosso.................N
(...........parágrafo..............Z
iLisboa...........( inversão,,,,,,,,,,,,,,,,,?

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Amadora
8-12-1989 Imaculada Conceição

Em Portugal, foi sempre festivo este dia singular, pela crença arreigada no grande privilégio de Nossa Senhora. Ficou logo isenta do pecado original, em atenção aos méritos de Cristo. Era
assim, realmente, desde tempos recuados.

A definição dogmática surgiu apenas, em 1854, sendo Chefe da Igreja o Papa, Pio IX. Após a queda, no Éden, veio prestesmente a condenação, fulminando a mãe-Eva, o pai Adão e a mesma serpente, incarnação viva do próprio Demónio. A este, de facto,
comina o Senhor: "Porei inimizades, entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta há-de esmagar-te a cabeça!
A que se refere ali a palavra "esta"
O texto hebraico e assin a Vulgata de S. Jerónimo referem-no claramente a nossa Senhora. Assim foi mantida a longa tradição,
expressa na imagem de Nossa Senhora

O texto dos LXX refere tal palavra ao Senhor Jesus Cristo,o que parece exactíssimo, uma vez que, a descendência de Eva . à
excepção de Jesus, sendo pecadora, não podia libertar-se, recuperando a graça e outros dons perdidos.

Jesus, como Filho de Deus é que podia fazê-lo.
Julga-se, pois, que a Versão dos LXX, apresentada em Grego, não obstante se tratar de mera tradução, é inspirada. Consta ainda que o Senhor Jesus Cristo citou os LXX.

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Amadora
9-12-1989 Militar esgrouviado
Logo de manhã, encontrava-me na bicha, aguardando auto~carro, para levar-me a Lisboa. Banal ocorrência no viver quotidiano! Muita gente, ali, fazia a mesma coisa. O que, realmente, saía do comum era o frio intenso, puxado a vento que o impelia a descer às raízes do corpo.

Vê-se, do exposto,que já sobejavam as razões do mal-estar.
Entretanto, como senão bastassem, irrompe um soldado, que agrava a situação. Arranca do cigarro, atirando-se a ele, com sofreguidão. Chupa e absorve, deleita-se e goza,, mostrando-se alheio a quantomo rodeia..

Do nariz mal cheiroso e da boca imunda, lança de cada vez baforadas tão densas, que afligem os circunstantes. Estes, por sua vez, calam e dofrem, com enorme deejo de o ferirem na alma.

Como pode ser isto?! Militar de uma figa, a quem serves tu? A teus vícios e paixões? Não é a Pátria que tu desonras nos
próprios cidadãos?! Estes não te bendizem! Vomitam-te dos lábios! Am!aldiçoam-te
Não se deve fumar, em presença de alguém que repele esse cheiro e o não tolera! É droga!

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Amadora
10-12-1989 Atrasos lamentãveis

Sempre me disseram, em tempos idos, que a intensidade, comunicada à voz, há-de estar em relação com o mesmo espaço, onde falamos e ond se encontram os interlocutores. Num espaço
exíguo, a voz acomoda-se, de maneira tal, que não seja ouvida pela vizinhança.
O sujeito importuno que viajava, no traansporte, não quis atender às boas maneiras e regras de conv'ivio. Martelava,pois,
insistentemente, a frase batida:" A gaja agora mete-se na minha vida!"
Doíam-me os ouvidos e já não podia! Na verdade, repetia-se o cavalheiro, com tal nitidez, que parecia até situar-se perto de cada um de nós! Se os mais afastados apanhavam, em cheio, os ditos e palavras, trovejados ali!

Iria nervoso?! Será jeito de falar ou é descomandado?! Seja o que for! O que não podem os outros é ser metralhados, a cada momento, por vozes embirrentas, secas, atropeladas!
Cavalheiro, se ela de facto mexe contigo, é que, certamente, lhe deste oportunidade.
Resolve, em paz, o teu problema e não venhas agora perturbar-nos a nós!
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Amadora
11-12-1989
" Esse é um outro problema que ficará para uma outra vez"
Ouvi esta frase, no programa: "Às dez". O nosso locutor parecia português mas, afinal, eu enganava-me! Quantas vezes a gente se engana, ao longo da vida! Espara-se uma coisa e surge-nos outra nuito diferente! Foi, na verdade, o que sucedeu!

Como é que cheguei a tal conclusão? Não se torna difícil o caminho seguido, para lá chegar! Aquela frase, na sua estrutura, não é de cá!. Utiliza o Francês o artgo indefinido , que a nossa língua dispensa, por modo geral.

Em vista disso, o arranjo luso seria este: esse é outro problema que ficará para outra vez.

A frase viciada é mais francesa do que portuguesa. Não havendo
cuidado em banir tais falhas, mascarra-se o idioma, de maneira tal, que passado algum tempo fica, desde logo, irreconhecível
São erros sintácticos: não lexicológicos! Os que mais ferem a Língua, pois a vão atingir, no próprio cerne!

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Amadora
12-12-1989
Bruxa, Totoloto e Trabalho
Aquela senhora que vi no auto-carro e tanto ansiava pela boa sorte, veiculada agora pelo totoloto, anda muito inquieta, por
não alcamçar o alvo intentado pelos seus desejos.Tentara muitas vezes, mas sempre em vão!

Preencher os impressos, gastar o seu dinheiro e esperar com ânsia o desfecho do jogo era, a rigor, o lidar habitual. Ao sábado, então, maior ansiedade! Bom! -- dizia confiada, como nada obtenho, sendo tudo em vão, recorri à bruxa Desta vez, as coisas vão mudar, com toda a certeza!

Os circunstantes ouviam atentos, mas alguns deles sorriam com malícia. Eu, um pouco afastado, lastimava o erro, a ignorância crassa e a própria ingenuidade, que ali se notava.

Como é possível fiar-se alguém, em coisas destas?! Só a
estupidez será responsável ?! A própria ignorância, em matéria religiosa, também é chamada para estes casos
Bastaria pensar um tanto melhor, para não ver relação alguma entre causa e efeito!
Que atraso lastimável o da nossa gente! E o século XXI
aproxima-se já!.
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Amadora
13-12-1989
Isto vai de chuva! O Inverno passado foi quase enxuto.
Em consequência disso, ficaram as barragens grandemete afectadas, queixando-se as gentes da enorme seca. Previsões lamentosas, suspiros fundos, lamúrias sem fim!

Haveria até razão, para supor, talvez, grandes calamidades!
À data presente. ainda no Outono, as coisas mudaram para o lado avesso. Há várias semanas ( já um mês e tal!) é chuva constante
e graves prejuízos, humidade a rodos, em todo lugar, incluindo na lista as casas habitadas.

Vieram de novo iguais lamentações. Ninguém está contente! com a própria sorte! É já dos livros! Por outro lado, o que agrada a uns descontenta outros. É o caso dum baile, em casa vizinha, onde paredes meias, se vê um cadáver!

Assim corre a vida, ca neste mundo: altos e baixos, dor e prazer, tristeza e alegria, riso e lágimas! Reside o segredo em tudo levar com resignação, oferecendo a Deus os prós e os contras, na expectativa dum mundo melhor, após esta vida tãi amargurada!

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Amadora
14-12-1989
Manga arregaçada

Verficava o facto, durante o Verão e achava motivo que justificasse. Na verdade, sendo elevada a temperatura, impunha-se
logo alterar o vestuário, já na qualidade, já na quantidade, pondo assim a nu certas partes do corpo.

Hoje, porém, notei a mesma coisa, na Rodoviária. Surpreendeu-me este caso. É tempo de chuva e, ao que vemos, arrefece já. Não ser Dezembro!
Junto a mim, eram duas pessoas, com arremangação. Mas porquê?! Como ia absorto em fundo pensar, não fui, com presteza, direito à´razão. Entretanto, levado pelo desejo de saber a
causa, fui-me dando à tarefa de pôr tudo às escâncaras.

Que pensa o leitor, de casos assim? Se já adivinhou, os meus parabéns! Caso contrário, forneço-lhe uma achega! As pessoas em causa eram de estatura inferior à normal, o que levava as mangas além do metacarpo

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4Amadora
15-12-1989
Chegou a Notícia!

Quem espera desespera. Foi assim mesmo, ao longo dos séculos e continua ainda, por forma igual. Ansiar por uma coisa e fazê-lo com alma, por dias e noites, é angustiante e enche o peito de funda inquietação.

Assim me acontece, vai já para três anos. Protelou-de demais esta hora necessária, para realizar o sonho de há muito -- ver publicado o meu primeiro livro.

O assunto em causa não vai a correr, mas ontem, por fim, algo aconteceu que é já grande luz! Pelo telefone, avisaram-me já
de que hoje, sem falta, receberia as provas, para correcção. Fiquei
raduante, com esta certeza! Vou lançar-me na arena, pondo no caso toda a minha alma

Tenho já presentes os símbolos da emenda,( os mais necessários) Revi-os bastas vezes, sentindo-me preparadp para a grande ofensiva!
O que eu precisava era o céu bem claro, para ver melhor e banir os erros ou gralhas do texto. Entretanto, como a chuva atura,
escuso realmente de aguardar melhoria. Farei o que puder!
A Segunda Noite vai então sair, pelo Natal?
Época de enlevo, para realizar um belo sonho! Aunda bem que assin é!
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Amadora
16-12-1989 Véspera de Eleições,

Nalguns sectores, muita agitação! Tenho agora em mente as chamadas "esquerdas"! Nesta esfera de acção, muito se falou,
durante a propaganda. As Direitas agiram como é natural, mas sem efervescência, Num golpe teatral, o Partido Socialista, une-se
prestes ao Comunista, afim de conquistarem a Câmara Maior.

Prevê-se, desde já, que tal aconteça.
Efectivamente, segundo é hábito, muitos não votam. Desinteressados ou desiludidos, ficam em casa, deixando correr.
Ora, todos sabemos que a Esquerda Portuguesa vota sempre em cheio.
Sucede, pois, que as tais abstenções abrem logo caminho ao
triunfo seguro da oposição. Entretanto, se o povo português soubesse interpretar o que vai a Leste, no mundo comunista, jamais apoiaria tal coligação.

Quem não sabe, por ventura, que o tal Comunismo se encontra hoje em falência total?! Até o nome lhe mudam! Antes
querem, ao que vemos,Socialismo Democrático! Não é isto eloquente?! Será o nosso povo incapaz de entender estes factos
gritantes?!
Seria claro sintoma de forte miopia, de cunho intelectual, o que pouco nos honra!
Que fazem lá fora as estátuas balofas dos grandes criminosos -- Estaline e Lenine?!

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Amadora
17-12-1989
Hoje, por tarde, começaram fazendo as suas previsões, acerca dos resultados, Ao que vai constando, inclina-se a vitória para as Esquerdas. Marcelo de Sousa, candidato por Lisboa, é agora apoiado pelo próprio Govern, centrado nas Direitas. Por esta razão, assume, para já, a derrota pessoal este novo candidato.

Pela Televisão, declarou abertamente que se julga culpado, neste conflito. Jorge Sampaio veio igualmente declarar com ênfase, que o PSD e o mesmo Governo tinham perdido.

Bom. Dão este caso por inteiro arrumado.
Vitória certa para as Esquerdas; derrota clara para as Direitas, incluindo o Governo! É assim! Se uma parte ganha, fá-lo desde
logo, à custa do parceiro, O que interessa, no fundo ( o que deveria ser) é a nação: não o Partido, seja qual for!

De outra maneira, é política vesga, que só prejudica. Abrir fendas aqui, incitar além, dizer mal dos outros e coisas no género, não edifca: apenas destrói.
Democracia é bela palavra, mas não se respeita. Não houve
desacatos, bem junto de nós?! Sentimos vergonha de tais demonstrações!
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Amadora
18-12-1989
Passa hoje uma efeméride que sensibiliza a minha alma de filho. A 18 de Dezembro de 1952,( já lá vão, pois,37 anos!) falecia meu Pai,em Vide-Entre-Vinhas. Como o tempo foge! Nem dei por isso! Simultaneamente, afigura-se um espaço
muito mais extenso!

Nunca mais eu vi esse Pai adorável, que a morte cega,,
inclemente e surda me veio roubar! Nessa altura, encontrava-me em Pinhel, onde leccionava os alunos do Colégio, que dava pelo nome de João Pinto Ribeiro.

De lá me chamaram, afim de assistir ao triste passamento
daquele pai amoroso! Já não falou! Quanto me doeu! Penalizava-me tanto ver os olhos cerrados!
As pálpebras desceram e nenhuma força humana pôde já leventá-las! Não obstante o caso, estava ainda vivo!
Como é doloroso viver tais cenas! Não poder alterar o rumo das coisas! Que saudade imensa eu tinha albergada nos seios de alma!

Deste mundo já nada me luzia! Do outro, sim!
Ele está no Céu, porque Deus é bom, cheio de misericórdia,
sempre adorável, justo e santo!
Quando ressuscitarmos, verei novamente aqueles olhos bondosos. que um castanho vivo tornava eloquentes,
Querido Pai, não me esqueças jamais, nessa Pátria ditosa!

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Amadora
19-12-1989
Acabei a " grande faina" que durou 4 dias.. É certo, na verdade, que eles são pequenos, e o céu nublado impede enormemente que eu veja nítido. Para compensar, entrava pela noite, embora transgredisse a ordem do Médico. "Utilizar os olhos, com luz natural, evitando o cansaço. Ao mínimo sinal que
denotasse fadiga, largar, sem detença, a obra entre mãos!

Assim devia ser, mas a luta pela vida não permite, infelizente, que eu siga a rigor o que foi preceituado.
Atentei, pois, contra as regras da prudência, atirando-me de chofre e com grande esforço. Acabei ontem, já por noite fora, a revisão das Provas, que encerram o conteúdo, referente ao meu livro -- A Segunda Noite.
Esta pesada tarefa há-de ter obra de 3o horas.
Para mim, foi pesada e muito fatigante, mercê das circunstâncias: dias pequenos; escassez de luz uso ali de computador; nervosismo inquietante; comoção frequente1
As lágrimas prontas saltm ligeiras, recordando, uma vez mais aquele ano trágico de 1975!

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Amadora
20-12-1989 Cont.
Dificuldades Maiores.

Hesito frequentemente, ao aplicar os símbolos. O que faz isto é a falta de prática. Os primeiros passos trazem, geralmente, sérios problemas! Apesar de tudo, lá fui prosseguindo, com muitta paciência. De vez em quando, aplicava, à letra, o conselho útil do Gerente Vintém:" Quando tiver dúvida, risque a palavra e escreva-a na margem."

Assim fiz, várias vezes. Além deste caso, outro surgiram, para dificultar. Nos primeiros 10 meses, a coisa foi simples. Não senti peso, mas nos seguintes quase desanimei.
O gerente havia-me elucidado: " Mandei fazer antes uma pré-revisão, porque o meu pessoal trabaha apenas, há escassos meses , neste ramo específico"

Em razão disto, julgo que não reviram Novembro e Dezembro.
Por isso, gralhas a montes, palavras omitidas, inversão de letras como de sílabas, erros ortográficos , enfim, ums série de trabalhos
que vieram esgotar a minha paciência!

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Amadora
21-12-1989
Começa hoje o Inverno? Segundo os livros, assim o julgamos. No entanto, há já mês e meio que a chuva é constantte.
A humidade penetra os objectos, ainda os mais recônditos. Estamos saturados! Em razão disto, são já enormes os danos causados!
Algarve e Ribatejo, assim como as Beiras estão aí, na linha da frente! Casas diversas, invadidas pelas águas; campos e culturas... tudo inundado; estradas alagadas e já sem trânsito; casos lastimosos de gente extraviada; barragens abertas, por não comportarem tamanhos excessos!

Sucede o caso em Espanha, o que logo aumenta o nosso mal. Sendo isto assim, muitas pessoas entram em pânico, lastimando-se, com ais e fundos suspiros!

Se Deus não acode, será este ano, em seu final, uma grande tragédia.! Sinal evidente que Deus nos põe diante? Um aviso oportuno, a que havemos de atender?!
Prestar ouvido atento e abrir bem os olhos é grande sabedria!
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Amadora
22-12-1989
" Eu assimilo tudo!"

Durante a viagem, Amadora-Lisboa, há sempre quem fale, juntinho a nós. Mercê deste facto, acompanhamos tudo, queiramos ou não! Só tapando os ouvidos, mas tal não é possivel!

Seria delicioso aprender algua coisa e tomar incentivo, para
eliminarmos vícios e defeitos. Entre tanto, o que sucede não conduz a isso!
Conversas banais, por vezes insulsas ou ainda mportunas e
cheias de malícia é, geralmente fruto da época.
O monólogo de hoje era sustentado +pr senhora nutrida,
anafada e nédia que dizia aproveitar quanto deglutia.

No que me respeita, fiquei maravilhado, por não haver mais ninguém que se orgulhe de tal coisa. Senti-me, nessa hora, tentado a avançar, lançando esta frase: nese caso. a senhora é única! Assimilando tudo, escusa retrete
Pudesse eu também sustentar a mesma coisa!

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Amadora
23-12-1989 Aguardando ansioso
Nãoé caso de surpresa, pois de trata das Provas (cadernos a granel) a que vou já faer a segunda correcção.

Apesar de tudo, espero em sobressalto o seu reenvio, pois estou anelante pela vinda à luz do neu primero livro. Neste mês
já não sai. Será então no próximo.

Ora, sendo assim, jã dormiu um longo sono -- cerca de 15
anos! Não foi ele escrito, em 1975?, quando era professor na
Escola Técnica de Silva Porto?!

Se falo, realmente, em longo sono, outros ainda estão aqui dormindo um sono mais longo! Se os Diários completos já datam,
afinal, de 1967! Mas não é tudo! Alguns dos escritos remontam,
sem dúbida, a 195o! Ali estão esperando, em velhas estantes, cheios de paciência e resignação!

Venha, pois o granel, para que " A Segunda Noite" se faça à vela, em tempo luminoso!
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Amadora
24-12-1989 Consoada

Época de encontros, em que todas as famílias procuram reunir-se, afim de comemorarem a data festiva, reavivando seus laços de amor e carinho! Um tempo favorável, em que as mágoas esquecem, as afrontas não pesam e os problemas não axistem!

Fazem as pazes gentes desavindas; perdoam suas faltas aos transgressores; geram-se laços que prendem as almas. É o Menino-Jesus que nos traz o bem-estar, a paz e a concórdia. A salvação humana é d\Ele que depende. Por nós apenas, total
incapacidade, para a obra redentora!

Por isso, os nossos corações rejubilam agora, entregando~se
em pleno a nobres sentimentos de firme confiança
É a festa da família, o banquete do amor, o festim da paz!

As minhas consoadas acabaram, de vez, em 1974! A deste ano havia de ser a última! Efectivamente, alguém que já não vive
levou o meu sapato, que o Menino Jesus utilizou, de noite, para nele depor uma linda prenda! Foi, como disse, a última vez que tal sucdedeu!
Tinha eu então 58 anos! Desde essa data, o sonho está morto e já não renasce!
Uma bala assassina levou para sempre o nosso encantamento!
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Amadora
25-12-1989
Sete horas em ponto! Debruçado agora na escrivaninha, lanço estas notas, olhando amiúde atravás da janela.
O céu está escuro e choveu, durante a noite, continuando a angústia , que vem recrescendo. ao longo de dois meses.

Tanta gente sem casa! Tantos e tantos que foram objecto de graves atropelos e balas assassinas! O caso da Roménia!

Que o Menino- Jesus se compadeça de nós e nos traga a paz! A consoada, se bem a comparo com outras muitas, não sofre reparos. As pessoas mais queridas estavam presentes. Além disso, o Menino Jesus enviou-me também algumas lembranças

Há pouco ainda, ao abrir, de mansinho a porta do quarto, divisei no chão, pequeno embrulho.
Fiquei deslumbrado! Voltei de novo a ser criança?!Ou é, afinal, a concretização daquele anexim: "De velho se volta a menino"?

Pois é verdade! Aos 71 anos, quase à beira dos 72, ainda remonto a idades belas!Continha um lenço e umas peúgas. Coisas da Cina,
segundo me parece.
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Amadora
26-12-1989 Requiem final pelo Comunismo.

Entoa-se o Requiem à pessoa que morreu. No caso presente, alveja-se, pois, o defunto Comunismo. Fora abalado, nas raízes mais fundas, acabando por morrer!

De tal maneira os povos escravizados se encheram de furor
que, chegada a hora , nada conseguiu deter-lhes o passo.
É, na verdade, uma onda incontida: Rússia e Polónia, Alemanha e
Hungria; Checo-Eslováquia ; Albânia e Bulgária! Falta ainda a China que, sendo embora a primeira a mexer na Economia, cristalizou no sistema político.

A Coreia do Norte e a Ila de Cuba nada já representam, por não terem apoio nem possibilidades! Cairão, de podres!
Neste campo, o erro do Comunismo esteve, de facto, em impor, à força, o Partido Único!, a que todos, se curvariam, sem distinção!

Os outros Partidos, dado que os houvesse, ficariam, desde logo, na clandestinidade! Todas as liberdades eram suprinidas.
Forçoso se tornava pensar como eles1 .
Propalavam os Mestres a utopica igualdade, mas eles na verdade, eram como é sabido, os menos iguais. Negavam frontalmente o pluripartidarismo.
Em nossos dias, o povo reflectiu, chegou finalmente à maturidade e todas as coisas mudaram, de rumo.

Entretanto, só à custa de sangue, crueza e martírio!
Na Roménia, já caíram para sempre 80.000 pessoas!
É esta a factura da sonhada liberdade!

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Amadora
27-12-1989 Falência Económica

A prova provada, se acaso é lícito usar a expressão
dão-na para já os povos de Leste, onde foi aplicado o sistema utópico do Comunismo. Todos eles têm fome, encontrando-se
hoje, à beira da banca rota e pedindo ajuda aos povos do Ocidente

Que mais será necessário?!
A colectivização foi chão que deu uvas, se é que alguma vez produziu tais frutos!

Demonstrado à evidência o colapso total do sistema ruinoso, imposto ao mundo pela força das armas!
A iniciativa privada e o direito sagrado de propriedade, estáo sempre na base de todo o progresso!

Os Estados não devem nunca ser ricos em excesso nem pobres em extremo! Lá diz o provérbio:" In madio virtus!" O zero absoluto bem como o oitenta ficam nos extremos! Ambos eles são harto
condenáveis! Trabalhar para o monte, cujo destino fica vedado, cria suspeitas e mata incentivos!

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Amadora
28-12-1989 Falencia Social

As teorias utópicas dos Mestres em descrédito (Marx, Lenibe e Engels, e outros ainda) garantiram aos povos que o
Sistema Comunusta ia distribuir, equitativamente, os bens materiais.
Perante a nova doutrina, as gentes cederam, poique, em tal caso, cessavam os privilégios, ficando na Terra só uma classe! Deste modo, tornar-se-ia o mundo autêntico paraíso, em que todas as pessoas viveriam bem e seriam felizes. Até lhe chamavam Lei da Pgualdade:
Passaram estes anos ( mais de 70!), e que veio a suceder?
Resultados catastróficos! Fome, por toda a parte; corrupção das cúpulas; miséria geral, atraso e revolta no seio das almas,
acumulaçao de bens, nas mãos de poucos; depósitos chorudos, na Suíça e na América; privação das liberdades; medo e pavor, instalados por todo lugar... Uma calamidade!

Socialmente, falhou o Sistema, pois ainda agravou a chaga capitalista! Em vez da classe única, apareceram várias!
Apenas a miséria campeava por toda a parte, o que veio degradar a situação dos povos!. Em vez de progresso, veio a dacadência!
O povo humilde ficou nas trevas! Locupletaram-se os
mandatários, segundo vemos agora. Foi um desastre!
Folgaram eles, mas escravizaram os povos crédulos!

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Amadora
29-12-1989 Falência Religiosa

Os grandes "Mestres do Comunismo, obcecados pelo ódio e levados ainda pelo falso pressuposto de que era a Religião que impedia o progresso bem como a realização de seus falíveis ideais, arremeteram furiosos, contra o sagrado, harto convencidos e muito animosos!
Julgavam, na deles que, uma vez banido o mito de Deus", tudo seria fácil, trazendo a vitória. Que sucedeu, em nosso tempo?
(data passada) Com os factos à vista, ficou femonstrado quão falsa e falaz é a base que forjaram, assim como os argumentos que raivosos impunham.

Os povos em massa repelem e verberam o odiado Comunismo, sob qualquer forma e decidem lutar, custe ainda a vida, pelos seus ideais, que se opõem frontalmente à feroz Ditadura, que o Sistema inpôs.
O ideal religioso não foi destruído: antes ao contrário, manteve-se actuante e ressurge vigoroso, provando assim que os povos o amam e que por nada os povos o querem trocar.

Negaram a Deus, o que lhes trouxe opróbrio, vergonha e derrota! É Ele o Senhor a quem tudo obedece.
Os seus inimigos ficam sempre humilhados!

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Amadora
30-12-1989
Tais haviam-de ser, aproximadamente, os anos de ambos. O caso a tratar deu-se no comboio, entre Benfica e a
cidade Amadora..Eu, infelizmente, como ia junto deles tive de
aguentar o diálogo vivo, cerrado e agressivo das partes em causa.

Eram como galos, no mesmo poleiro.
Ambos foram longe, sendo mais condenável o jovem insolente, que não olhava à idade nem ao respeito que merecem, afinal, as pesoas idosas: falava, resmungando, como se o outro fosse um garoto.
O mais adulto usou então o processo antigo: você
fecha a porta e fecha-a já!
-- Se eu quiser, pode ser; se não quiser, não é você que vai
obrigar-me!
O grito de guerra estava lançado! A pólvora inflamou-se e feriu. Quem semeia ventos colhe tempestades! Foi. na verdade, o que sucedeu.
Lição a tirar , baseada no provérbio:"Não é com vinagre que se apanham moscas!"
Atitudes arrogantes, ainda com razão. nada já prestam. A
mentalidade, no tempo de hoje, não as admite.!
Moderação e gentileza, sem imposições! Outro recurso fica gorado!
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Amadora
31-12-1989
Balanço Geral

Chegado que seja o fim do mês e, de modo especial, o termo do ano, impóe-se, desde logo, como regra de senso, reunir elementos, afim de averiguar se houve perdas ou ganhos..

Dá-se este caso na vida material, quando se trata de pessoas responsáveis, bastante ajuizadas e muito prudentes..É necessário e,posso dizer, altamenten proveitoso, usar de tal meio.

Efectivamente, quem o não faz segue à deriva, não sabendo jamais se ganha ou perde!Dá isso em resultado ficar às escuras, sem utilizar os meios adequados a uma boa gestão.

Realmente, conhecidas as causas du ano perdido ou seriamente danoso, há sempre maneira de obstar pelo menos, à ruína total: outros recursos; agir diferente, novas medidas! Portanto, requer-se o balanço.
Houve danos? Porquê?Onde está ,exactamente, a causa do
facto?Pouco esforço? Gastos excessivos? falta possível de iniciativa? Esbanjamento?
Apuradas as causas, actua-se já no sentido inverso, rumo ao bom êxito
Ora bem. O que verificamos, na esfera material aplica-se igualmente no campo do espírito.
Mais um ano passou. Houve algum lucro ou, pelo contrário, registam-se perdas?!
Por outras palavras: verifica-se progresso ou antes recuo, na
vida espiritual? Corrigi algum defeito? Limei quinas e arestas que
obstavam afincadas à prática assídua dalguma virtude?

Se desviei, pelo menos, uma paixão ruim, que me vinha dominando, já fiz alguma coisa! Solicitei, para tanto, o nauxílio de Deus?Com Ele por ajuda, tudo é possível!
Combatendo sozinhos, nada conseguimos! Apenas logros,
decepções e tristeza!
Bom, Uma vez aqui, impõ-se uma análise â maneira de agir,
afm de averiguar onde é que reside a causa do inêxito.
Descoberta que seja, inicia-se a luta, afim de obstar logo à ruína total.
É também de aconselhar um pequeno exame à prática diária de alguma virtude e assim ao modo como deve agir-se.
As meias tintas são de repelir! Ou sim ou não! Requer-se no acto firme decisáo, generosidade e bastante prontidáo!

Estando com Deus e n\Ele estribados,, chegaremos decerto ao porto seguro de eterna salvação!
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3 CONTINUAÇÃO DE MEMÓRIAS 17 EM 30-4-2004; ECRÃ 93?

3APÊNDICE
Amadora
2004-04-28
O que vou tratar ficaria melhor, anteriormente. Apesar disso, julgo oportuno acrescentar algumas notas, meras apostilas, como firme apoio ao que ficou para trás.
Querendo alguém estudar a pré-história,, não pode basear-se em documentos escritos,, bem entendido! Pois eles não existem!
Por esta razão é que Alexandre Herculano errou cabalmente,fazendo afirmaões, sem carácter reservado.
O que ele afirmou, de maneira peremptória, devia aprsentá-lo como possível, a qum viesse ler..

Em casos destes, impõe -se o método 'naturalista'', seguido em Portugal por Carlos Ribeiro, Sarmento Martjns e Alberto Sampaio., não falando agora de outros ainda.

O caminho a seguir é este somente: escavar o subsolo, para desenterrar as gratas memórias que nos lkigam ao , passado, obscuro e desconhecido.

Uma vez ao sol, estudam-se os esqueletos, os crânios corroídos, os objectos de uso, a ind´stria já lançada, as reses de caça, o curioso habitat do homem primitivo, e assim por diante.
Em solo português, jaziam enterrados os vestígios mais antigos da indústria humana, Costumam ser: artigos de vestuário, var ada olaria, objectos de cozinha, armas do tempo. já para a caça. já para defesa.
Carlos Ribeiro, a quem já me referi. desenterrou utensílios d a pedra lascada, nos depósitos terciários da bacia do Tejo. Estes objectos foram considerados como produto de factura humana..
Ao mesmo tempo, faziam-se, em França, idênticos achados, confirmando o sucesso de Carlos Ribeiro, aqui em Portugal. Não seria, talvez como o homem actual, mas uma forma de transição, que estaria, decerto, contra o Livro Sagrado. É is to o que supõem grandes especialistas, em Paleontologia..
O que se tem avançado como indubitável é que foi somente no Quaternário médio que o homem apareceu. A teoria do Terciário é apresentada, com certa reserva. Por isso é que falam num homem de transição que estariw, decerto, contra o Livro Sagrado, que apresenta o homem como acabado, no Paraíso Terrestre.

Deixemos a discussão, mas devemos lembrar-nos de que o tal precursor seria anterior aos primeiros pais, Adão e Eva!. Não é de aceitar!
Sendo como dizem, aonde iria parar a origem monogenista da espécie humana?! O aludido precursor ficou sendo conhecido, por ' anthropopithecus' ( homem macaco.
Um facto curioso: em 1884, apareceram, na Ilha de Java ( Imdonésia) em terrenos terciários, os restos esqueléticos dessa forma precursora, um ser de transição, de sentido vertical e com outras características também humanas. Foi designado por 'pithecus anthropus erectus'.
Chama-se eclítico o primeiro período da civilização.

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Amadora
2004-04-29
Em idade mais recente, nos depósitos das cavernas, e em terrenos de aluvião, do período Quaternário, encontraram-se objectos já mais aperfeiçoados, o que denotava a presença do homem e uma civilizaão mais adiantada,
É, pois, a época dos trogloditas e dos caçadores. .
Aparecem, por sinal, as indústrias caseiras: (olaria e vestuário ). É o período paleolítico. Já se faz a trepanação e enterram-se os mortos, nas criptas naturais, O homem vive nas cavernas e abrigos naturais..

Os ossos dos animais são aproveitados para utensílios e objectos de adorno. Aparecem exempols que já revelam gosto artístico, reproduzindo figuras de animais avistados. Verifica-se o caso, nas grutas dos Pirenéus e de Altamira..

Todos estes achados, na Península Ibérica, revelam claramente a exisência do homem, no Quaternárioe duvidosamente, no Terciário.
Terá o homem coexistido com os fenómenos geo- lógicos, que nos proporcionaram a terra peninsular, em que entram, sem dúvida, as formaçõea terciárias dos vales do Tejo e do Sado. Ali apareceram, como já foi dito, vários objectos de pedra lascada! a tese monogenisa, a partir de Adão e Eva?!
A partir da dúvida, poderá tirar-se uma conclusão certa e aceitável?!
Em novas pesquisas, vão-se encontrando vestígios ckaros de aperfeiçoamento, em tudo aquilo que o homemtoca: a pedra, os ossos. o esenho, o habitat, a mesma indústria, seja ela rudimentar. É o período neolítico. Finaiza a idade da pedra
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Amadora
2004-4-30
Nos vários planaltos do norte de Porttgal, pôde observar Ricardo Severo váriadas séries de túmulos megalíticos.
Em algumas estações da Idade da pedra, já principia a notar-se
o uso dos metais.

O primeiro desses a ser aplicado foi, na verdade, o cobre, de que há muito, cá na Península. É no Algarve que vão aparecer os primeiros produtos, feitos de cobre.. Juntando-se este com o estanho, resultou o bronze, que é, de facto, muito duro. É a idade do bronze, cá na Península.
Os factos pré-históricos de Portugal e Espanha têm lugar
à-parte, mercê, claro está, de caracteres locais e cronollogia própria, diferente da Europa.

Durante a idade do bronze, permaneceram, em Portugal, ao menos em akgumas zonas, as necropoles megalíticas ( de dólmens) Regiões houve, no país, em que os grupos familiares se conservaram nos planaltos, sob a idade da pedra, enquanto nos grandes vales e na zona marítima, junto às estradas das migrações, gozavam os povos de civiliações mais adiantadas.

É de tomar em conta o que passa no Brasil: os aldeamentos dos Índios aborígenes, concentrados nos sertões, ainda se encontram na idade da pedra.
Um facto curioso: no exíguo território de Portugal, observa-se a permanência do ser humano, desde as suas origens, evoluindo
gradativamente.
Composição étnica: a população da Penínsua Ibérica era mesclada. As duas raças primitivas já se tinham combinado: (de crânios longos, uma; de crânios largos, outra.) em produtos de mestiçagem. Qual deles foi o introdutor de novas civilizções?!

O elemento primitivo foi o de crânio longo ( dólico- céfalo); o invasor - o de crânio largo, ( braquicefalo). Cabe ao segundo o
papel civilizador. A seguir ao bronze, vem então, a época do ferro. No norte da Península, há jazidas vultuosas e bastante ricas.
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Amadora
2004-05-01 Continuação

Anunciam-se já os alvores da História. Os navegadores fenícios e gregos deixaran legendas de seus roteiros e périplos. Mas interpretar, com exactidão , esses documentos ?!
O que vale são os dados arqueológicos, pois denunciam as formas e caracteres das civilizações; os dados antropológicos elucidam-nos, quanto aos tipos humanos , fundamentais.

As familias, as tribos e as cidades estão colocadas, no alto dos montes, em posições estratégicas. Geralmente, um sistema complexo de muralhas concêntricas defendem e preservam estas
primitivas e curiosas cidadelas. Assim puderam opor-se, durante séculos, às legiões invasoras do povo romano.

A pouca distância, eram postas as necrópoles, cujas sepulturas, com mobiliário fúnebre, são o repositório da história verdadeira destes povos antigos. Os castros e cividades como as necrópoles adrede fortificadas do norte de Portugal foram exumadas por Sarmento Martins.
O estudo exaustivo, levado a cabo pelo grande arqueólogo, reveste, por certo, enorme importância, no que respeita aos dados valiosos , para a história dos povos bárbaros da Lusitânia.

A esses montes, com suas ruínas, chana o camponès "castelos de Mouros": todos cerrados por altas muralhas, impenetráveis.. Deles partia, por modo geral, um caminho subter-
raneo, que levava ao rio ou fonte próxima. Por ali seguiam. em busca de água e levavam a beber os seus animais. Junto à fonte, havia um deus bárbaro que a protegia.

Nrste passo, é de tomar-se em conta o Castro de Sabroso, no centro do Minho Infundem respeito e geram espanto suas espessas muralhas de 5 metros de altura, de grossa alvenaria. Circundam estas um aglomerado de casas cilíndricas, figurando moinhos, com estreitas ruelas, sempre lajeadas.
Este castro-modelo conservou-e estranho às influências romanas. Entre os detritos, aparcem louças, armas, utensílios, e vários adornos: lâminas d e sílex lascado; machados de pedra polida...
Estes dados revelam a persistência, de povos autóctone, .
no solo português.
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Amadora
2004-05-02 Variedade

Há um velho adágio do povo portuguès que reza assim: " Na variiedade consiste a beleza". Sigamos então o conselho antigo: variemos um pouco o tema glorioso do nosso passado, seguindo pelo caminho das velhas amizades que o 25 de Abril dispersou, é verdademas não desvinculou.
Ao neu encontro veio a tragédia surpreender-me, quando em Angola ministrava o ensino, preparando os Angolanos para a independência.
Exilado, em seguida e carente de tudo, senti fortemente pungir-me a saudade, clamando pela família, aqueles e aquelas que leccionara, durante 30 anos, e os colegas de Curso.principalmente o Cabral e o Arnalo C. Ferreira. A estes dois levera-os a morte, sem despedida; a adorada sobrinha fora assassinada no Liceu de Silva Porto!
Nesta grande solidão, tento relacionar-me com alunos e alunas que mais me tocaram. E os endereços?! Sabia lá bem onse encontravam?"Neles tão pouco a mim!
Entretanto, persisti! Quem teina vence.Enchi-me de coragem e prossegui. Foi como um rastilho! A nova propalou-se e
consagui! Ia matar saudades e rejuvenescer!

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Amadora
2004-05-03 Continuação

Foi enorme, sem dúvida, o prazer que senti. ao receber do primeiro uma extensa cartinha,chea de pormenores e ditoa alusivos à sua carreira, por vezes , com espinhos e grandes obdtáculis, mas que ele, porfiando, com ânimo varonil, conseguiu
ultrapassar-

Senti-me orgulhoso e muito satisfeito com o seu triunfo, já que é figura de topo, no meio académico, onde tem brilhado, a
desempenhar uma parte quantiosa de altos cargos , já na Política, onde foi membro do primeiro governo, pós Abril - 74, já na Universidade, onde é Vice- Reitor e Catedrático de Economa, havendo já dirigido essa Faculdade-
Juntamente com isso, manteve sempre a linha, sem aitos e baixos, com a determinação que manifestava já , nos primeiros 5 anos do Curso geral., nos tempos do Liceu. Sempre comedodo, prugente e aplicado, não era invejoso nem prepotente, ao lidar com outros..
Exibicionismo, como às vezes acontece, com certos jovens,
por serem mais dotados e muito orgulhosos, nunc eu notei: Metido em si, falando apenas o necessário, mas com serenidade e
domíno de si mesmo! Por não ser vaidoso nem impertinente,
amesquinhando os outros ou impondo a sua vontade, tornava-querie muito prezado, no meio estudantil.

Quem o não conhecesse. um tanto de perto e co assiduidade, não ia futurar que viesse a elevar-se, de modo extraordinário, como realmente veio a a contecer1
Outros menos dotados chamavam as atenções, de maneira vincada, porque apareciam, falando exuberantes procurando sempre dar nas vistas e tirar proveito, com intuito fixo de superioridade.
O jovem Avelãs não ligava a essas coisas. Entretato, concebeu um dia um projecto grandioso e esse objectivo tornou~se realidade, com a marcha do tempo. Folguei imenso de
de vê-lo alcandorado aos mais altos lugares, no meio académico.

Senti enorme prazer, de fazer-.me sabedo do seu percurso, que foi um grande sucesso. O que eu nunca pensaria é que viesse a casar assim tão perto da minha aldeia! Efectivamente, a 5 ou 7 quilómetros de Vide-Entre-Vinhas, fica o Fornotelheiro.Isto é que eu afinal poderia sonhar!
Vou mandar-lhe alguns livros de minha autoria.

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2004-05-04
Amadora Um Caso Inédito

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