quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Memórias 26

Liceu Linus-Nyangana
1970-05-01
Ontem, precisamente. ao chegar a Nyangana, encontrei uma carta: era de minha irmã. Uma nota alegre, em sinfonia tristonha! Devorei as notícias algumas das quais bastante lastimosas, pensando largo tempo, acerca do facto.

O Quim anda triste... o pobre meúdo! E era tão alegre, nos tempos de Angola! Nas aulas não ri, dizendo os professores que não anda acompanhado.
Que terá o pequeno?! Mudança da idade?! Doença, talvez? Com 13 anos apenas e já melancólico! Que pena me faz o Quim Isaías! Quem me dera regressar, para o ver, de mais perto e prestar-lhe auxílio!
A Gina, então, é caprichosa e gosta de figurar! Isso é bom!
Qem não tem aspirações nunca faz nada! O Carlos Alberto, segundo informação do professor de Filosofia, é traumatizado e cheio de complexos. No entanto, ele é inteligente, pois em Silva Porto brilhava sempre, entre os primeiros! Que o diga, realmente, o Liceu Silva Cunha!

A situação vigente de retornados fá-los tristonhos! Dificuldades, problemas que surgem, nova adaptação a um meio diferente, tudo é barreira que se ergue contra! O próprio clima se torna adverso! Efectivamente, nascendo em Angola, que fica situada, na zona tórrida, não admira nada que tenham frio e sintam
problemas na adaptação.

Também eu me não adapto ao clima do Cavango. Quem me dera em Portugal! Aqui, vivo triste e não sou apreciado nem compreendido! Só eu destoava, no Liceu Shashipapo. Melhor diria: o Nicolau também andava triste! É um cão mediano, mas engraçado e amigo do dono! Ontem, fiz-lhe algumas festas, mas não reagiu!
Pensei eu logo : está doente o pobre animal! Que havia de ser?! O dono partira, em gozo de férias!

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Manteigas
1970-05-02 Uma Ovelha ranhosa deita a perder o Rebanho.
Diz-me com quem andas, dir-te-ei as manhas que tens.. Junta-te aos bons, serás como eles; junta-te aos maus, serás pior do que eles..
A ideia geral, nestes provérbios,é a seguinte: uma companhia determina, geralmente, o viver de outrem.
Se quiséssemos, à data, estabelecer uma proporção. diríamos assim: a influência nos outros é tanto maior quanto pior for qualquer das partes.. É justificável a razão inversa de tal proporção. Com efeito, decaídos, há muito, da antiga inocência, ficou no ser humano, operante e acentuado, o estímulo do mal.

Não dizia já o poeta latiino:"Video bona proboque,deteriora autem sequor!?"( Vejo o bem e aprovo-o, mas sigo o mal?"
Há, por certo, dentro de nós, forte desequilíbrio, que todos sentimos. É, aliás, a marca do pecado e o vestígio da doença, o sinal evidente do paraíso perdido! Todos o sentimos.

Cada um chora o facto. A voz do poeta, latino e pagão, é a voz da Humanidade.que geme e se lamenta,quando atolado já, no seio do tremedal.
Vê, pois,que é mau,, sente amiúde que não vai bem, descortina outra via, mas queda-se impotente!
Só Cristo nos vale, em tamanha aflição! Efectivamente, fora do Senhor e da sua protecção é bem mais penoso sulcar estes mares!
A natureza, já corrompida, nutre-se de prazer,seja ele pernicioso: sim, aquilo que é mau seduz-nos o olhar! Tal como a borboleta, rodeando a lamparina! Que faz ela, obcecada, em volta do perigo?!
Estreitando os círculos, aproxima-se da morte, sendo mais vivo o próprio lidar, a caminho do nada!

Por que não fugimos para longe do abismo?! Por que é que insistimos, em pleno declive, sabendo, previamente, que leva à desgraça?!
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Manteigas
1970.-05-03
Se eu tive algum dia, em que fosse ditoso, este sem dúvida foi o primeiro, entre os melhores! Ó 3 de Maio, dia famoso da Santa Cruz!! Dia cheio, muito meu, uma vez que era dado escolher então o que mais desejava! Consagrado à péla, de manhã até à noite, amealhava alguns cobres, que faziam exultar de imensa alegria!

Como as horas corriam, nesses anos que lá vão! Já quase por noite, vendo acrescido o modesto pecúlio, delirava comigo, sem presença importuna! A roda fatal girou tresloucada, vezes sem conto, mas não pude olvidar essa dita incomparável! Entregue a mim próprio, escolhendo à-vontade o passatempo mais grato,, nem me apercebia de que a vida, neste mundo, era tão espinhosa!
Lucrei alguma coisa?
Logo cedinho, juntava solícito os ramos de oliveira, alecrim e loureiro, benzidos previamente, em Domingo de Ramos. Depois, fazia cruzes singelas que guardariam as searas, em horas de tormenta! A tradição vem de longe; presente o belo símbolo, a dona trovoada, já não fazia dano!

Era este o encargo, nesse dia memorável: ir ao soito do Ferrinho,, à Tapada Burra, ao Lameiro da Serra, à Tapada Ribeira, ao Lameiro dos Felizes, bem como à Roçada, pôr as cruzes nas searas, em lugar saliente.
Algumas vezes, preparavam- se véspera, o que dava maior margem para o jogo da péla, no dia seguinte! Como eram distantes os lugares referidos, dispunha a bel-prazer dessas horas tão gratas!

Havendo comido, bem à lijeira, logo me escapava, iniciando o meu dia. Jogo porfiado, tenacidade, cálculo exacto! Era preciso ganhar as partidas! Outro lema não tinha! Tudo o mais, apenas acessório!
Um dia de liberdade, em que eu me afrmava ... um dia de escolha, em que a vida me sorria!

Depois... foi-me imposto aquilo que abracei e, olhando para mim, aquele que eu via não era eu! Um ser artificial... ente que não sentia! Vida que não se vive! Noite que se arrasta!

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Manteigas
1970-05-04
Quem o feio ama bonito lhe parece!
O conceito de beleza é muito subjectivo, pois varia, realmente, de um sujeito para outro. Vem a talho de foide aqueloutro ditado: "preferências não se discutem!" É exacto!

Como vão discutir-se, não tendo as mesmas causas?!
Se as razões são diferentes, como vai argumentar-se?! Este engraça; aquele já não! Quem sabe porquê?!

Acontece, às vezes, que até nós próprios ignoramos as razões, da nossa preferência.Sendo isto assim, é oculto, na verdade, o motivo de eleição. Porque ama é que gosta e porque ama não sabe.

Haverá então poder que domine o coração, verdadeiro tirano, que, sem piedade, flagela a nossa vida?!
Senhor, que o fizeste e vais acompanhando, sabes como ele é: apetece o que eu não quero e atira-me de dhofre! Foi assim que o fizeste, para amar e desejar, sem medida nem vislumbre que figurem ser honestos?!

Sinto firme voz que reprova tal viver e essa voz é a tua, pois eu sei muito bem que tu desaprovas! Ele anda avariado, é doente e insensato: foi a culpa que o feriu e as tarefas que o aviltam.
Não posso aguentá-lo, nesta ânsia veemente. Vem, ó Deus com teu amor; anda, vem saaaná-lo! Não tardes, não?!

Aqui se prende, além vacila,; chora sem termo, depois já ri!
Não percebo o desconcerto nem lhe vejo remédio!
Desequilíbrio total que me oprime e totura! !; Nada aquieta seus desejos nem cumula tais anseios! Só amar e nada mais a criatura
humana: logo cansa e toma alento, para seguir outra via.
Quem me dera repousar, bem distante de mim próprio. onde a vida fosse calma e entendesse o que ela quer!
Assim, ele é vulcão, empre em chama abresadora, cuja lava me incendeia, mantendo-me ao rubro! Tal calor não suporto, que é demais para mim, Tudo prende e me desvia, do caminho direito!

Ó Senhor de Bondade, ó meu Deus e Criador, Tu não vês a obra tua, sempre em funda convulsão?! Prende bem a Ti este meu coração, que és Belo sem igual!: vem curá-lo depressa, que se perde em anseios, nesta via dolorosa!

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Manteigas
1970-05-05
Ecos de longe, que não morrestes ainda!

Ecos amados que me falais carinhosos, em linguagem que adoro! Ciciar de avezinha que se abeira do ninho, onde esperam, ansiosos, corações palpitantes!

Com ela vem o pão, o conforto, a alegria!
Contigo, ó saudade, vem tudo o que há de belo, pondo logo em fogo o meu coração! Visita-me sempre, ainda a horas mortas, quando tudo é sono, languidez , esquecimento! Que ninguém me importune, quando estejas presente! Vem sempre ter comigo, no silêncio da alma ou quando, agitada, se debate em convulsões!

É amarga a existência! Apesar de tudo, conserva do passado inesquecíveis e doces lembranças, que retenho avaramente. Quando mais eu chorar, mergulhado na aflição, quero ver-te ao pé de mim. enxugando minhas lágrimas!

Nao te afastes jamais. Nessas horas cruéis, adormece e acalenta o meu peito insofrido! Traz-me sempre o teu bálsamo,que adormenta e faz bem!: sofrerei resignado o mal que a vida tem!
Passado tão querido, quem foi que te levou?! Volta ainda, vem comigo ao lugar que não mudou!
Não mudaste, não, que eu bem no sei! Mudei eu, sim, ou alguém me transformou!

Foi estranha vontade, altiva e cruel Do passaado quero apenas o que embale a minha alma, horas belas, dias bons,. a adornar a vida inteira!
Tudo o mais olvidarei! que o dispenso para mim!
Era livre e Deus o quis: virei escravo dos homens!
A princ'ipio não dei conta: os meus olhos não viam.! Foi já rarde que os abri, a chorar enraivecido. Recuar em vão tentei: tudo foi ilusão! Vem saudade , minha amiga, vem me dar a tua mão!

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Manteigas
1970-05-06
Trabalha, trabalha, que Deus dará pão. O homem põe a mão, e Deus a virtude. Não é por aí que o gato vai às filhós! Vale mais um pássaro na mão que dois a,voar. Vale mais um toma que dois te darei. Quem muito abarca pouco aperta. Ter mais olhos que barriga. Vinha e amigos, os mais antigos. Amigos do meu escuso-os eu. Olharia eu para o cu dum cão, se ele me desse pão.
Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Quem não quer farruscas não vai à queimada. Ir bscar lã e ficar tosquiado.. Voz do povo, voz de Deus. Tantas cabeças quantas as sentenças. Cada cabeça sua sentença. Não é o hábito que faz o monje. Pão com olhos,queijo sem olhos, vinho que salte aos olhos Toma lá, dá cá. De vagar se vai ao longe.
Ela por ela. Olho por olho, dente por dente. Ser como unha e carne. Entre marido e mulher não metas a colher. As boas contas fazem os bons amigos. Amigos, amigos, negócios à-parte. Não suba o sapateiro além da fivela! Quem corre de gosto não cansa jamais. Ferver em pouca água.

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Manteigas
1970-05-07
Andar com areia dentro do sapato.Trazer macacos no sótão. Meter -se habitualmene como piolho por costura. Andar aos caídos. Não ter eira nem beira nem pé de figueira. Muito se engana quem cuids. Quem semeia ventos colhe tempestades. Quem mal quer cear. à noite o vai procurar. Não faças a outrem o que não queres te façam a ti. Guarda que comer, não guardes que fazer. Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje. Ouve e cala: viverás vida folgada
Quem cala consente. Quem escuta de si ouve. Tal pai, tal filho. Filho és, pai serás; como fizeres, assim acharás. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Gato escaldado, de água fria tem medo.Quem é desconfado não é fiel. O melhor travesseiro é uma boa consciência.Nem por muito madrugar amanhece mais cedo
Ir buscar llã e ficar tosquiado. Quem não tem barba não tem vergonha. Passar como cão por vinha vindimada. Quem ama não dorme. O amor e a tosse não se ocultam jamais. Voz do povo, voz de Deus. Ir às nuvens.Dar por paus e por pedras, lá das alturas de Santa Catariina.

Dar tratos de polé à imaginação. Amar é sofrer. A fortuna, geralmente, favorece os inocentes. Não é quem madruga, mas quem Deus ajuda. Com Deus não se brinca. Pouco a pouco enche a galinha o papo. Muitos poucos fazem muitos. A união faz a força.
Ai de quem é só.!
Os amigos conhecem-se na adversidade.Pelos espinhos â glória.
Mais pode quem Deus ajuda que o que muito madruga. Quem trabalha vence. O trabalho vence tudo. Queres ser amado? Ama tu
primeiro

Mais pode quem Deus ajuda que o que muito madruga. Quem trabalha vence. O trabalho vence tudo. As palavras voam: os escritos ficam. Águas passadas não movem moinhos! Falar Francês como um basco espanhol. Puxar a vários carrinhos. Fazer ouvidos de mercador. Ir aos arames! Pôr nos cornos da Lua. Pela boca fica o peixe.
Se queres guardar qualqur segredo não o digas a ninguém.. Ir as de quatro. Ir às nuvens. Antes que cases, vê o que fazes.Quem casa não pensa; quem pensa não casa. É como manteiga, em nariz de cão.Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer

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Manteigas
1970-05-08
O mês de Maio entrara sorridente, ostentando na fronte grinaldas e festões. Sendo o mês das flores, outra coisa, decerto, não era de esperar! Além disso, a novidade encanta.
As aves trinavam, saltitando alegres, de ramo em ramo, enquanto ao longe, por trás da escarpa, surgia radiante o Sol carinhoso. A indumentária, de Inverno, já fora arrumada e, no seu lugar, apareciam garridos os trajos de Verão.

Eis senão quando ( decepção amargurante!), a temperatura
baixa, de modo assustador. prevendo-se logo, com dor e ,
amargura, tempo chuvoso e muito frio. Como se isto fora pouco,
o céu ameaçador e deveras carregado, e o ar cortante da escarpada montanha anunciavam claramente que a neve estava próxima.
Quem iria convencer-se?! Talvez na serra pudesse ocorrer!
A gora, no fundo abrigado e já no mês de Maio! Não! Isso não ers crível!
Desta feita, porém, as nossas conjecturas saíram furadas, pois à volta das 14,começavam de cair os primeiros flocos. Eram grossos , grossos e até abundantes, doidejando pelo ar.
Em breve tempo, formavam, no solo, espessa camada,, onde
talvez apetecesse rolar, se não fosse tão fria!

É uma desolação, por toda a parte!
As aves emudecem... os velhinhos trementes acorrem aos tugúrios,
pondo logo ao rubro a cepa arrumada; as crianças, então, largam os brinquedos, correndo pressurosas ao lar acolhedor!
É o silêncio quem reina! Céu pesado e cinzento... e um lençol branquinho a envolver a Terra"

Quem agora mais teme são as plantas em flor! Ouço-as gemer, vergando sufocadas ao peso da neve. Esperam ansiadas que alguém as alivie! Mas quem se lembra de o fazer então, e como é possível?!
O lavrador, entretanto, olha angustiado, através da vidraça.
A urdidura que mantivera antes, no tear da espernça, fora destroçada
A neve, afinal, era para os poetas!

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Manteigas
1970-05-08
Depois de mim virá quem bom me fará. Segredo em boca de rapaz é como manteiga em narrz de cão. Quem ao mais alto quer subir ao mais baixo vem cair. Está frio como burro. Andar à espola fita.Chegar num céu- homem! É pena pecate!! Malaja o diabo!!

Eu seja seja negro como este chapéu! Q uerer é poder! Muito pode quem quer. Não dá quem pode, mas quem quer bem. Quem se mete com maninos fica sempre borrado. Mocidade ociosa, velhice trabalhosa! Quem não é na Beira não é no Alentejo. Quem não tem barba não tem vergonha! O hóspede e o defunto ao terceiro dia fede.
Se queres inimigo, empresta o teu e 'píde-o', O tipo é burro que se farta! Quem merendas come, merendas deve! O direito é do primeiro ocupante, Vale mais um pássaro na mão do quedoid a voar! Vale mais ser invejado que ser pobre..Nem que ele se mate a mim não me dobra! A rico não devas e a pobre não prometas! nõ
sirvas a quem servui nem peças a quem pediu!.

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Manteigas
1970-05-09
Na escola do bom viver, faz-se exactamente como vê fazer! O amor e a fé nas obras se vê. Tempo e maré não esperam por ninguém! Tempo é dinheiro. Muito quer o irmão à irmã e o marido à mulher sã. Quem ganha dois e gasta quatro escusa bolsa e saco.
O amor dos homens é como o salgueiro: pega depressa e solta lijeiro. Não há melhor andar que em nossa casa estar! Aonde vais, mal-aventurado?! Aonde não és chamado?!
Quem se deita sem ceia de noite esperneia! Faz por ser boa: a fama ao ionge soa: muto nais depressa a ruim do que a boa,A verdade é como azeite. De mulher honrada não tiras coalhada.
Muito mais depressa se apanha um mentiroso do que um homem coixo. Para baixo, todos os santos ajudam: para cima, só um e é coixo!. Quem de mel se faz as abelhas o comem. Quem mais se baixa mais se lhe vê a fralda.

Não é com vinagre que se apanham moscas. Capa e merenda fazem boa companhia. Quem se veste de ruim pano veste-se duas vezes, durante o ano. O saber, a rigor, não ocupa lugar.

Mais vale pedir do que roubar. Morte desejada, vida prolon-
gada. Deus vê tudo. Aí vem já quem lhe dói a fazenda! O amor aos 15 anos é como manteiga, em nariz de cão! Na morte e na boda verás quem te honra! Depois de cavalo morto, cevada ao rabo! Nem
tudo o que luz é ouro.. Morreu o bicho, acabou-se a peçonha!

Mente sã, em corpo são. Ser como o cu (indiscreto O amor e a tosse não podem ocultar-se! O amor é cego. Amor e dinheiro não têm parceiro. Vale mais pobfeza amada que riqueza amargurada.

Enquanto o pau va no ar. folgam as costas. O muito dar dói. Gato escondido, rabo de fora! Honra e meia cabeça de gato!
Morreu o padre, acabou a missa..
Se queres triunfar. mata a consciência! I Mrabeau).
De dizes a faer ainda vai muto. Dormia como pedra em poço.

A comida que eu não hei-de comer ponho-a ao lume e deixo-a cozer. Sem alho, não se faz uma alhada. Não perder o ano. por ser abundante, O que abunda não faz mal. Nunca bom cão ladrou em vão.. Quem não aparece esquece. Reze-lhe pela alma! Já não há remédio!
Burro com fome até cardos come! Quando há fome, não há ruim pão! A fome é negrra! A velhice, a rigor, não está nos anos.Água o deu, água o levou! Quem sai aos seus não degenera!
Filho de peixe s abe nadar.
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Manteigas
1970-05-10
Puxar a brasa à sardinha, Vala mais cair em graça do ser engraçado, Muito e bem não o faz ninguém. Nem t odos os dedos da nossa mao são iguais entre si. Meter água. Ter dor de cotovelo! Andar com areia dentro do sapato. Quem nada tem nada vale. também. A pobre não prometas e a rico não devas. Uma mão lava a outra! Quem o alheio veste na praça o ddespe. Quem adiante não olha, em breve atras torna. A cauda, afinal, 'e o pior de esfolar!.

Quem o seu não vê o diabo lho leva! As fazendas riem-se de ver o dono. Coitadinh d e quem não fala! Quem rouba a ladrão tem cem anos de perdão. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.

Cada ovelha com sua parelha! Ovelha ranhosa deita o rebanho a perder.! Ele é, a rigor, a forma do meu pé! Ovelha tinhosa julga as outras por ela. Fazer o bem, sem olhar a quem. Não há cidade que resista a um macho carregado de ouro! O amor e a ausêcia são os pais da saudade. Graças a Deus, muitas ;graças com Deus poucas ou nenhumas! A medida exacta do amoa Deus é amá-lO sem medida
Estão verdes, não prestam! Se queres mandar, aprende a obedecer! No vinho a verdade! Água mole em pedra dura tanto dá até que a fura! O trabalho vence tudo! De um bom niho, vem um mau passarinho!. Querer é poder. Saírem as contas furadas.. Ficar
exactamente como quem não mata porco! Os últimos de todos são os primeiros. Nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou!
Quem tem telhados de vidro não pode atirar pedradas.
Honra e proveito não cabem nunca num saco estreito. A cavalo dado não se olha o dente! A o menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo. Presunção e água benta cada um toma a que quer.

Cada um vai à Missa com o que tem. Se queres ver o vilão, oferece-lhe a mão! Quem à nossa casa não vem da sua nos despede.Longe da vista, longe do coração! Quem teima vence.
Enquanto há vida, háesperança! Quem gesdenha quer comprar!
Onde há lume sai fumo. De vagar, que tenho pressa. Quem vai por atalhos, não sai de trabalhos
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Manteigas
1970-05.-11
Primeiro, nós, e depois vós! Nem a tua alma seja ciente do que a tua alma sente!. Filho de peixe sabe nadar, Quem muito escolhe bem pouco acerta. O que não tem remédio remediado está.
Jogar com pau de dois bicos. Querer sol na eira e chuva no nabal.

Não se pode cavar na vinha e no bacelo. Foge a língua para a verdade. Merenda comida, companhia desfeita. Mais vale só do que mal acompanhado. A palavras. loucas orelhas moucas. Quem não jogou nem perdeu nem ganhou. Dinheir emprestado é dinheiro perdodo
Lenha verde e pão mole faz o homempobre. Quem promete não quer dar. Cão que ladra não morde. Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães! Voz de burro não chega ao Céu.
O vinho torna alegre o cor ação do homem. Para um sim, dois não.

Diz menos do que ouves; ouve mais e diz menos.Deus não pode dar tudo! O Céu não se compra. Ir para o Céu de carrinho
A vida é uma luta! Em castidade, a fuga é triunfo.

Muita parra pouca uva! Prmeiro eu; só depois tu. Mateus, primeiro aos teus! Não deixes crescer a erva, no caminho que leva a casa dos teus amigos. O que ri melhor é o último a rir!, Não faças
mal às atinêmcias que te venha bem. Grão a grão enche a galinha o papo. Vender gato por lebre. Grão enche a galinha o papo!

Vender gato por lebre! Galinha gorda por pouco dinheiro., Ter olhos de lince! A noite Deus a temeu! O sacrifício é a prova do amor. Como fizeres a cama, assim te deitarás. Ovelha que berra bocada que perde! Quer er a alguém como à menina dos olhos

Quem parte e reparte e não guarda a melhor parte ou ele é burro ou não percebe da arte, Fia-te na Virgem e não tentes correr!. O Céu, nossa Pátria , é de o ganha e este mundo é de quem o apanha! Chega quando chega! Nem tudo o que luz é ouro! Pela aragem se vê quem vai na carruagem. Andar de ponto em branco. Pela garganta morre o peix.

Adão, por não ter sogra, foi o mais feliz de todos os homens.
Ninguém diga jamais: desta agua não beberei. Muita honra, às vezes, e pouco proveito. Da mentira algo fica.

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Manteigas
1970-05-12
Mão posta, ajuda é. O homem superior não cuida de badatelas. Quem ama bem castiga, O que é demais aborrece. Quem ama o Beltrão ama o seu cão. Quem quer bolota trepa. Não
se pescam trutas, a bragas enxutas. Mais vale bom governo que boa renda! Mais vale saber guardar do que ganhar. O amor genuíno aguça o engenho. Mãos f rias embora, coração quente!

Dou tanto valor a isso como à primeira camisa que vesti Quem dorme dorme-lhe a fazenda! O comer e o coçar vão do começa r.
Aprende e seràs mestre. Usa e serás mestre. Sem o vil dinheiro, nada sde alcança! Mais vale uma avença que boa sentença. .Cada qual com deu igual. Com perseverança, tudo se alcaça, Os homens, a rigor, não se medem aos palmos, O bom julgador por si se julga.

Palavras leva-as o vento. Quem se não aventurou nem perdeu nem ganhou! Homem prevenido vale por dois. Por todo o Abril, mau é descobrir. Não faltam ocasiões a quem sabe aproveitá-las!.
Umamão lava a outra e ambas o rosto! Grande nau, grande tormenta! Muitos pouco. Conforme for a paga assim será o trabalho.
Quem se faz de mel, as abelhas o lambem! Cur ar a ferida com pêlo do mesmo cão.
Quem azeite mede suas mãos unta. O optimo é inimuo do bom Tudo ´e bom, quando acaba em bem.Quem vai para o mar prepara-se em terra!. Quem se 'mata' morre mais cedo. T anto faz
dar-lhe na cabeça como também na cabeça lhe dar. Morrer de sede, à beira de água. Dar bilha de leite por bilha de azeite..

Em casa de enforcado, não se fala em baraço. De pequenino se torce o pepino. Ovelha que berra bocada que perde.. Dá Deus o frio, conforme a roupa..cada um sabe as linhas com que se .cose.
Cada um sabe a cinta com que se aperta. No melhor pano cai a nódoa. Não há bela semsenão! Ter mais palavras do que obras.
A mecha afinal para o sebo! Quem canta seu mal espanta

Quem vai ao mar perde o lugar. Os novos amores esquecem os velhos-Rei morto, rei posto. Quem vai à guerra dá e leva.. De
noite, todos os gatos são pardo!. Patrão fora, dia santo na loja.
Quem dá o pão dá o coração

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Manteigas
1970-05-13
Amanhã também é dia. Cada doido com sua mania.
Andar com as mãos pelo chão. Teimosos como burro!. Para maroto
maroto e meio!.Mastigar em seco. Ter o seu pé de meia. Querer a algu«em como ^menina dos olhos.. Matar o bicho do ouvido.

A bom entendedor meia palavra bast. Comer o pão que o diabo amassou.. Não deixar pôr o pé em ramo verde.,. Ter mais vozes que nôzes. Pôr as facas ao peito. Estar a pensar na morte sa bezerra. Arrotar postas de pescada. Quem se pica alhos come.
Contar com o ovo no cuda galinha. Picado das bexiga . Quem tem boca vai a Roma.
É pior a emenda que o soneto! Não dar ponto sem nó.
Meter o rabo entre as pernas. O rabo é o pior de esfolar!.Aí é que a porca torce o rabo! Viúva rica com um chora, com outro repica.
Isto aqui é uma República. Dar roda de mentiroso! Não rosa, sem espinhos..Dar dinheiro a rodos! .
.. . . .
. Dar roda de mentiroso. Não há rosas sem espinhos! Diz o roto ao nu: " Por que não te cobres tu?"Pior é o roto que o descosido Meter a viola no saco. Não deitar em saco roto. Sair-se
airosamente de um ambaraço. Vale mais pedir a Deus que aos Santos. Quem tem ver gonha anda magro. Quem espera por sapatos de de funto toda a vida anda descalço!

Ensinar o P N ao Vigário. Não sabe para que santo se há-virar!.. Engilir em seco. O seguro morreu de velho! Cada um é senhor da sua casa. Quem não semeia não colhe! Ser senhor do seu nariz.

Ganhar para o tacho. Amor com amor se paga. Atrás de
tempos, tempos vêm. Não faltam ocasiões. Contar por tin.tin por tin-tin. Tirar a barriga de misérias. Cair como um tordo! Paga o justo pelo pecador! Vozes de burro não chegam ao Céu!
Conforme for a paga assim será o trabalho!.

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Manteigas
1970-05-14
Esperar alguém uma réstia de Sol, quando é habitual,
a ninguém surpreende!. Na realidade, que é que dá vida e cor à existênca humana, senão a luz e o calor do astro amigo?!
Por grande absurdo, privai deles a Terra e logo vereis a que fica reduzida! Cemitério gigantesco, onde a morte campeia!

Amanhã, faz já oito dias. que estamos em gelo.: neve por toda a parte: humidade, frio e vento! Galardão na expectativa?! Não que mereçamos qualquer recompensa, bem entendido! Mas, levados pelo hábito, eram flores e sorrisos o que Maio nos trazia! Agora, porém, o caso ébem outro!

Aguados e chorosos, vamos seguindo pela vida molesta sem
alento nem consolo. Olhamos o céu, com enorme avidez; perscru-
tamos o horizonte; fazemos ainda calculadas previsões. Acertar é que não! Só neve e humidade, constipações e enorme alvoroço!
Como a vida é ingrata! O drama continua...a alma confrange-se!

Valerá bem a pena?! Q ue razão humana se levanta agora, para dar uma resposta, cabal e satisfatória?! Parece que a não vejo! Erguendo, porém, os olhos materiais, e volvendo-os, em seguida, para lá do horizonte, creio enxergar alguma coisa real, que me fala baixinho: esta vida afinal, não é só o tempo! Paralá deste mundo é que ela se prolonga, e tem realização! Olha para frente e analis os factos, à luz de Deus!

Meditei um pouco e logo assenti Por meio do sofrimento, chegamos a Deus, que é meta final. Não foi d'Ele que viemomos?!
S endo issto assim, é também para Ele que devemos tornar
Como a água do Mar! Realizado o ciclo, volta de novo, ao ponto de partida!
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Manteigas
1970-05-15
Anseio e clamo, grito... desespero! Aflição no peito, angústia funda no meu coração! Enregelo e tremo, no corpo e na alma, sem nada me sorrir! Que vida levo eu, se nada me apraaz?!
Se rá isto viver?! Que é o que me aguarda, no fimde tudo?!

Um dormir eterno? O nada, para sempre?! A eterna pasmaceira, com perder a consciência Como seria mesquinho! Seendo assim, era melhor, bem parece, que eu fora um gatinho!

Não vejo os animais deleitar-se e viver,sem mais aspirações?!
Isto, realmente, é ser ditoso!
Agora, a minha vida, cheia, toda ela, de altos desejos,
, é sempre falhada, em suas realizações! Aquilo que mais amo é o que menos possuo e, à beira de água, suspiro e murcho
Que destino e martírio é este, que amarfanhaparecendo alegrar-se aom a minha decepaão! Se nada mais houvesse, para além da morte!:::
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Manteigas
1970-05-16 Funeral de Gente grada

A toda a hora, são efectuados actos funéreos, cortejos frequentes. que rumam, sem delongas, ao cemitério. Hoje, vai um,,
outro amanhã...todos partirão e eu também.
O Doutor António Sérgio realizou o seu papel. Chegado o momento, nem mais um segundo!
Viera sem consuita... ppartiu sem ela!
Foi admirado, se não temido, que a sua pena, vigorosa e activa,´
era espada de dedois gumes.!

Lá foi para o Além Grande mistério que nos deixa estupefactos, perante a morte! A cada notícia, é nova surpresa!
Um ai dolorido... um suspiro magoado! Um encolher de ombros!
Indiferença, talvez! Quem sabe?! E ela a negra vai desbaratando~
pressurosa, diligente, num afã de estarrecer!

Se, realmente, não houvesse eternidade, não valia a pena sofer a desgraça de vir a este mundo.
Com Deus, porém, tudo vai mudar! A nossa dor vai ser fecunda!

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Manteigas
1970-05-17 Manhã

Foi há tanto já!
Por isso o facto caiu no olvido!. Em tempos do Fundão, 1934.
co meçavam os exames de matérias secundárias : Música e outros,
Chegado quera o 17 de Maio, dia con sagrado a S. Pascoal Bailão,,
vinha logo o nervosismo, por causa das Provas.

Valia alguma coisa a bela recompensa que as férias trariam.
Era o remate dum ano lectivo, cheio de angústia e várioos desaires. Isto só que houvesse, era lenitivo para os males da vida!

Férias grandes! Longos meses de Verão, em que eu, apenas. senhoreava os meus actos!
A lvoradas radiosas, quem me dera enxergar-vos, embora de tão longe! Filtradas pelo tempo e já esbatidas pela distância, ainda sois capazes de faze r-me estremecer!

Onde estais vós, que não vejo, há muito, um perfil tão amado sorrir-me do Nascente?! Acenai-me ainda, enchendo de gozo o meu coração! Insuflai.lhe vida, que fugiu, sem retorno; amparai, no seu lamento, um destino cruel! Oh!f´Férias tão amadas, o que vós me lembrais!
Ó meu lar tão querido! Ó pais adoráveis! Oh! Convívio terno de irmão e irmã! Onde tudo foi morrer, numa noite, sem manhã!!
Sombras estremecidas, que procuro e não acho, quem foi que vos levou?!
Campos verdes em flor, embriagando os meus olhos, numa carícia amiga, que trazia boa sorte! Pelo entardecer, formoso remate de funda nostalgia, rumava ao lar amigo, onde a vida me sorria!
Mas que estou fazendo em lamentos sem ec?! Tudo foi e não voltou,,, esse tudo que eu amava ! Ficou só a dor, para companhia,
num cortejo de aflições!
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Manteigaas
1970-05-17 Tarde
Vale mais vergonha na face que mágoa no coração! Viver, para aprender. Aprender até morrer! O diabo sabe muito, porquejá é velho! Dinheiro emprestado é dinheiro perdido! Nunca o
invejoso medrou nem quem ao pé dele morou. Não se vive do ar! Faz o que fazes. Nao digas 'não' a ninguém. Casa, minha casinha!
Merda prò rei e mais prà rainha!

Quem com Deus anda, Deus o ajuda, Boa merda, boas urinas? Merda prò Médico e pràs medicinas!, Quem viver muito, muito há-de ver! Quem tem janelas de vidro não pode atirar pedradas! Cão
que ladra não morde!. Livra-nos do homemque não fala e do cão que não ladra. O dinheiro é mau conselheiro. A galinha da minha vizinha é mais gorda que a minha. Quem vai para o Mar prepara-se em terra.
Não dês que falar a ninguém!. Antes que cas es, vê o que fazes! Ter força de boi. Os três seres mais infelizes: o pdre, o médico e o burro . É como cão e gato! Asdorinhas são as núncias da Primavera, Muito se engana quem cuida Tanto faz fez, como fez faz!
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Manteigas
1970-05-18
A roda vai girando, sem visos de cansaço! Aniosa, de noite e constante de dia, prossegue infatigável seu curso fatal. E eu vejo-a seguir, agitado e surpreso, que mal vivi, neste mundo!

Onde vai já a minha infância tranquíla, a irrequieta adolescência, a juventude que foi torcida?! Noto, alarmado, que a velhice não demorae , dentro em breve, bate â minha porta! Não me lembro sequer de ter vivido! Foi constante deslizar, apressado e imposto, em que eu não tive parte!

Apareci um dia, no tablado humano, por meras razões de carácter económico; seguidamente, agitei-me nele, sem que alguém então me deixasse resfolga. Actuaram sobre mim, como se, realmente, eu fora uma coisa! Habituaram-me à força,, criando novos usos que eu nunca amei; aconselharam também a sempre dizer 'sim'., argumentando com a vontade celeste!

Lamentáveis confusões! Se Deus me criou livre! Se ele nem
impede que O ofenda e peque e podia fazê-lo Que cegueira foi esta que me levou a negar-me?! Sobrepor ao meu ser uma camada exterior... revesti-lo habilmente de um polimento que eu desadoro!
Entretanto, a natureza não dorme nem perdoa tão pouco!
Volta ferrenha, com força duplicada, nada aí havendo que possa detê-la! Sinto confusão de existir, neste mundo! Ser o que não quero! Amar à força, o que desador... ver e fixar o que não desejo...
ouvir ainda o que aborreço!

Como ser diferente, se tudo enxertaram no meu ser ingénuo?!
Operação terrível, contrária à natureza, e, por isso mesmo,, em extremo danosa: a minha vitalidade, extemporaneamente, absorveu a estranha que me fora imposta.

Primeiro fui eu;; depois, deixei de o ser; finalmente, escorracei o estranho, voltando a ser eu, embora ao destempo.
Senhor meu Deus, repõe-me, generoso, no lugar exacto que me detinaste.
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Manteias
1970-05-19
Após uma invernia que figurava infindável, surge, ao que vemos, a ridente Primavera.
Desse longo cortejo, que nãp posso esquecer, avultam que me lembre, chuvas e granizo, ventanias e frio. Por modo igual, também marcou presença a neve indesejável,. Não me lembro, realmente, de coisa no género! Vietam de longe, em grande alvoroço, para ver a Serra, amortalhada de branco. Era, com certeza, um deslumbrante e formoso espectáculo, que jamais esquecerá!

Sendo isto assim, não havia contudo, grande entusiasmo, já
que o frio intenso enregelava,, a fundo, os corpos a as almas!
Esgotara-se a paciência! Ninguém sorria já! A partir de ontem,,
começou prestesmente a subir já a temperatura, que descera 3 graus, abaixo de zero! Às zero horas de hoje, acusava o termónetro 8 positivos!, o que bem revela mud ança notória!

Confiamos, pois, que não seja amostra, esperando satisfeitos que sorria a Primavera, para conforto da alma e gosto do corpo.

De facto, é insuportável um clima desta ordem!
Suspirávanos há muito por esta mudança, prelbanco na mante
a doçura e a beleza da formosa estação! Por essa razão é que agora exultamos ante a perspectiva que se antolha, desde já.

Se não houver decepção, muito há que esperar, das primícias fagueiras, que temos pada já!

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Manteigas
1970-05-20 Saltar uma linha

Coisa banal, dirão, por ventura, mas, tantas vezes, não é bem assim! Aconteceu hoje, na aula de Inglês, â retroversão. Deu coisa engraçada, já se deixa ver e todos riram, mas a bom rir!

Eu, embrenhado alo na construção,, nem dava por isso mas, ,
notando hilaridade e observando melhor , verifico ser geral,
Vejo o Ricardo em esforços porfiados,; a Maria Fernanda igualmente em apuros! De modo geral e ra coisa aflitiva.
Querer alggué rir e não poder, é esforço baldado, pois a Guida escondia-se, atrás do Rebelo.
Mas que temos nós?!
O João ´w sincero e confessa prontamente: Saltou uma linha!
Desço à ewlidade e sorrio, dizendo: sim?! É porque tenho boas ernas!
O que arepia,, no entanto, é saber afinal que a dor de alguém se volve, de pronto, em causa de gozo!
Cono pode acontecer que a afjção me acabrunhe, originando em outros alegria incontida?
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Manteigas
1970-05-21

Viremos o disco:
Um abrigo só meu! Uma casinha, por modesta que seja, é na verdade, uma coisa desejável! Ser minha e só minha, ter a chave comigo e respirar à-vontade! Ah! Cono deve ser bom! Viver em casa alheia... ser molesto aos outros! Não poder fechar a porta e viver em aflição! Escutar o que aborrece e não ter liberdade!

É tão curta!a vida!
Por que não vivê-la de maneira intensa, não olhando â volta?! Dar
ouvidos a outrem... depender de alguém é não ter sensações que
aviventem e confortem!

Aguardar, oprimido, que se diga ou escreva algo de atroz, é morrer, ficando vivo! É cegar, tendo olhos... paralizar , com pernas sãs!
Imaginemos um prédio, em que há drogados, gente do pilha, O mesmo se diga, em casos semelhantes, com gente arruaceira ou dada ao mexerico Será deleitoso um, convívio assim'?! de todos os poderes
Não será bem mehor um simples tugúrio, onde rene a paz, bem-estar e ventura?! O inquilino tem a chave consigo e, uma vez dentro, é rei absoluto, dispondo. a talante.de todos os poderes

3 Pedro saiu hoje.CONTINUAÇÃO DE MEMÓRIAS 26(

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Manteigas
1970-05-23 A Dança das Panelas

Aqui mesmo em frente, vejo-as passar, já sobraçadas,
já pendentes da mão Vai feijão para o domiingo, bem
azeitado e com gordura.
Ao centro da vasilha, avulta enormemente bom naco de carne.
É sábado hoje e pergunto a mim mesmo: qual a razão do fervilhar constante, em que tachos e panelas de variados tamanhos,
são levados, com afã, ali ao Patronato! Creio não me engano, dizendo,, a propósito, que o domingo é descanso.

A panela apetitosa evitará canseiras, permitindo assim divagar
pelo campo. É aconselhável desligar-se umas horas de enfadonhos cuidados e molestos contratempos.

Prato único embora, acompanhado com vinho e pão, é penhor de melhoria e de belo manjar, para a gentedo campo.
Regalo-me em extremo, de vê-los passar, Há-os, realmente de vários feitios e diversos tamanhos, sendo transportados por crianças ou adultos. As mãos que agarram são firmes e robustas ou débeis e indecisas..
Apearde tudo, no olhar de todos, há um raio de esperança, que será realidade, no dia seguinte, em pleno campo! Até os mais pequenos antegozam já o prazer indescritível que o feijão vai dar-lhes.
Vêm na mão; por vezes, em alcofas; umas, de carro, outras à cabeça. Às vezes, são tão altas como os próprios petizes que as levam, a custo.
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Manteigas
1970-05-24 Domingo.

Desta sacada, virada a Norte, alongo o olhar, pelo horizonte. Reduzido é ele, que subidas escarpas se levantam, em redor, vedando-me assim o que desejo alcançar. Se abro os olhos,
dou geralmente com inúmeros obstáculos, quedando-me vencido .
ante o seu predomínio. e grande altivez.

Entretanto, há na verdade que passar o tempo, deixando correr a vida buliçosa, na mira de realizar-se o que um dia sonhámos. Tal sonho é já fumo e do lume que abrasava, resta apenas cinza.

Iludo-me, às vezes, crendo ver lume, onde tudo se extinguiu.
s serras altaneiras, vistas daqui, amesquinham a gente e envilecem até! Tenho de encerrar-me, no vasto fundão, satisfazendo-me apenas com vistas limitadas. Assim, mais à mão, o que vejo são panelas.
Toda a santa noite permaneceram ali, no forno do Patronato.
Cheiram muito bem e convidam para a mesa a carne e o feijão.
Pelo menos 60 já foram levadas à fornalha aquecida.

Esperadas com ânsia, vão depois as criancinhas tirar-lhes a prova. De gosto sorriem, pois é elevado o seu apetite! Os pais entreolham-se, fomentando no peito a chama do amor. Nutrir os pimpolhos,, facilitar a sua vida, levar a seus olhos fulgor e encanto!

E a panela vem descendo, enquanto a alegria vai já subindo. nos seus corações! Amargas noites vão já decorridas, que é muito doloroso ganhar o seu pão!
Apesar de tudo, isso não importa, que o prazer desta hora já tudo compensa!
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Manteigas
1970-05-25
Como é desejável o tempo bom!
.
Após o dia 21, mudou tudo no Covão! Tiritados de frio,
aguados e chorosos, prosseguimos na vida, cheios de amargura!
Um dia após outro, devassamos o hoizonte, angustiados e tristes!, Mas então a Primavera , que a todos acarinha, não viria visitar-nos?!
O Inverno, sem fim, trazia-nos castigo, merecido e justo
" Não há mal que sempre dure"! como reza o provérbio. Assim aconteceu, " Mais vale tarde que nunca!" - foram estes seus dizeres - e nós, enregelados, saudámos, com jóbilo, a doce Primavera!
Seria verdade o que estava em presença, após meses de
invernia, em que a vida era escura e os dias servidões)! .
Quem nos dera, em outros climas, lá no Algarve, possivelmente, ou na Catalunha, fosse até na Califórnia ou na
Ásia Menor!
Ansioso como estava,, punha-me a chorar, invejando para logo outros seres mortais, enquanto plnneava arrancar, finalmente do Covão tenebroso! Já rogava só mal à enor me desdita, que então me oprimia, pensando, à data, que o mês de Maio repararia seus erros!
Foi já tarde, é verdade, mas a todos alegrou, sentindo-nos felizes com a amostra do tempo1 Quem a pouco se habitua um nada o satisfaz, e a vida continua, hostil e mordaz!
Venha a luz e o calor, o sorriso e a alegria;... reine a paz e a ventura.... fujam para longe o crime e a guerra!,

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Manteigas
1970-05-26
Os Colégios de Província irão ter, no porvir, uma existência efémera. Em verdade, pelo novo decreto,é dado à 6ª Classe matricular-se, de pronto, no 3º ano. Sendo isto assim, deram golpe mortal às Escolas médias, no Ensino Particular,

Com um 2º Ciclo assaz reduzido em circunstâncias destas, que lhes está reservado? Quem os vai frequentar, nos primeiros dois anos, com ensino gratuito?! Por outrp lado, como vão preparados'!

É certo e inegável que há, felizmentw, no Magistério Primário, elementos bons, mas eles não são em em franca maioria!
Demais, há anos já, que se foge do Magistério, por estar mal pago. Postas assim as coisas, frequentaram-no apenas os que a fortuna ou o talento vieram indigitar, por grande escassez.
Claro se deixa ver que há sempre excepções, as quais, por sua vez, comfirmam a regra.

Temos, pois, o ensino em via directa, para ser em globo oficializado. Por um lado, o Ciclo Preparatório: pelo outro, a Escola Primária bem como a Tele-Escola..

Que resta aos Colégios? Fechar suas portas! Despedir os professores! Que faço eu, pois, no Colégio de Manteigas?!
Não será chegada a hora exacta, para me ausentar?! Ficaria, neste vale, onde o Sol é passageiro, haja embora amizades?!

Já passaram 13 anos, ensinando de contínuo, sem lugar para descanso.Que me aguarda agora?! Acena-me, ao longe, o esplendor da capital. Faltarão ali, onde há tudo em barda, liçõe sparticulares?! É provável que não!,

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Manteigas
1970-05-27
Em princípios de Agosto, a mana vai partir. São 4 boquinhas a chamá-la amiúde, pedindo pão e fartura. Há que
trabalhar e fazer economias! O futuro das crianças e sua formação demandam sacrifício e também separações!

Vou sentir-me isolado , inteiramenre só , após um ano de belo convívio, que me lembrou o passado... esse tempo ditoso que foi e não voltou! Habituei-me aos pequenos que fazia quase meus,
vivia a fundo seus diversos problemas; convivia gostoso, em festas e passeios.
Esqueci-me até de que era só e vivi na ilusão, para a dor redobrar. Pois que me aguardava, a não ser a pouca sorte. que me
empolgou ao nascer?!Algo mais eu queria ou podia alcançar?!

A esperança já morreu. nada resta do passado! O que vejo são destroços, em momtões aglomerados, assoberbando meu peito, que, oprimido não descamsa.
Lanço os olhos em redor: logo espessa nuvem os vem impedir e, procurando outros céus, esbarro nas montanhas.

Que fadário é este que me segue diligente, alegrando-se do azar que me vai retorcendo e me torna infeliz?!

Este grande poder que se esmera em torturar-me, vem na minha zaga, todo cheio de ufania! Que posso eu fazer, envolvido nesta rede?! Quando tento libertar-me. é que vejo, angustiado, como sou incapaz de torcer o meu destino.

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Manteigas
1970-05-28. . ..
,: Oito e 25. Ao longo da Rua, caminham apressados alunos e alunas!Faltam apenas 5 minutos! Urge acelerar,para fugir
a desgostos. Não que é ingrato começar novo dia por uma censura!.A estugar o passo é que todos se ocupam, ganhando rapidez. E eu, de sono lento e cabea pesada, escrevo estas linhas.
Ficam elas, na verdade, para recordação duma vida tormentosa, que se vai extinguindo... um sopro assaz débil, que, a bem dizer, não espera já qualquer renovação!

Quem me dera fugir deste vale tenebroso,, em que tremo de frio, nos Invernos sem fim! Tudo o que é bom e provém da Natureza, escasseia no fundão! Por isso, a vida se escoa, derramada no chão! Ergo olhos aguados, devassano o horizonte, ,numa ânsia incontida,para assim fugir a esta escuridão!

Mas, coitado de mim que não consigo, afinal, transpor e vencer as barreiras alterosas que se erguem defronte! Vão tocar lá nos céus, onde as nunens imperam e eu quedo-me impotente,, rojado no meu nada!,
Asas belas que eu tive, quem ousou desligar-vos, privando-me dum bem que era meu e só meu?!
Já não posso voar, pelos mundos sonhados, e a saudade é maior, quando tento fazê-lo! Dói-me a vista. É penoso alongá-la mais do que posso! Estas serras vão tragar-me, com seus dentes agudos!
Quem mandou, irreverente, que eu viesse perturbar um silêncio milenário?! Quem me disse, impemsado, que era muito bom respirar estes ares?! Engano foi, certamente, que me obriga a sofrer, não havendo medicina, para curar tanto mal!

Vem, ó morte, com teu véu encobrir a minh fronte.... vem tirar-me a pouca luz, que fere ainda os meus olhos! Não demores!
Suspiro vivamente, por um mundo melhor, em que as ross sejam pão e as estrelas minha luz!

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Manteigas
1970-05-29
Os irmãos Alexandres já lá vão encantados, procurando na nontanha o pasto viçoso. O doce rebanho é agora seu viver - ocupação da existência, razão que os alenta!

Atrasados mentais, quando levam seu gado, é então que sorriem. Um, à frente, a guiar, outro lá na rectaguarda, ei-los já pressurosos, a caminho da pastagem!
As ovelhas, conhecendo-os, vão também satisfeitas, por ouvirem a seu lado o vozear de amigos!
Um pouco adiante, segue o cão alentado! Vai ufano, importante,,
agindo com brandura, que o gado é já pertença!

Também eu, curioso, os sigo maravilhado, até à curva fechada do horizonte importuno, onde morre o meu olhar, desejoso
de ir além... Pressentindo viatura, dobram logo seus cuidados,, com grande atenção! Que é preciso cautela! Quando a rês não acata o que foi determinado, ralho não falta, por parte de ambos.

Aquilo que um diz é logo repetido, em apoio do outro, não vão elas julgar que entre os dois irmãos possa haver discordâmcia! São
dois, na verdade, mas um só no querer!

Como é repousante ver, em nossos dias, tão profund união!
Se me cruzo com eles, é então o melhor! Desconfiados vão seguindo e olham de través, com freceio enorme de que eu resolva
comprar-lhes o rebanho amado! Então, aproveito, já puxando da carteira´, já sorrindo e abeirando-me das ovelhas tão queridas

São protestos acendrados a dizer que as não vendem, pois a vida é tdo aquilo que se agita em redor!
Oh! bons manos Alexandres, como eu invejo esse viver! Quem me dera ser simples, contentando-de pouco!

Entretanto, minha louca aspiração vai limando todo o ser ou
em ânsias que matam ou desejos que atormentam.
Quem medera se eu e vivaer como vós!

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Manteigas
1970-05-30 O Pardalito do Beiral

Desta sacada, em frente do Patronato, enxergo amostras que alvoroçam o peito, A dois metros apenas ou coisa que o valha, medito a fundo no azar de muita gente.

Quem me dera ser ave - murmurei para os botões.
Ai! pardalito feliz, que já tens um lar! Alguém te desviou, insinuando-te ideais bem opostos aos teus?

Bem feliz é que foste: a escolha foi tua e eu invejo, nesta hora, essa dita sem par.Estás contente? Pudera! Tens casinha abrigada, onde vives ditoso, a criar os teus filhinhos! Adivinho tudo, no arquejar de teu peito... no desvelo e canseiras que te chamam sem demora! Teu olhar é terno, brilhante e carinhoso! Ditosos os filhinhos que acarinhas, beijando!

Só a mim foi vedado por homens bem duros,que sentisse arroubar-me um carinho filial!Também eu os não vejo com olhos de amigo! Quem arrancou, do meu peito vazio, as fontes da existência?!

Duros sois e atrevidos! Quem vçs deu tal poder, que arrancásseis um 'sim' a quem vive do 'não'?! Horrorizado fiquei de atropelo assim! Eu não ser o que qiero, mas o que outrem deseja!
Mutilar o homem todo, mudando-lhe o rumo a seguir na vida!

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Manteigas
1970-05-31 Os meus Amigos
Estas palavras perderam o sentido, como tantas outras
cujo alcance e efeito não passa de som. No tocante a fruto, nem o conheço nem o espero.
Os poucos amigos a quem me apeguei também oa ignoro,. pois agem de maneira a dar a impressão de me julgarem morto.

Que lhes importa a eles que eu ande ou não ande?! Que eu viva ou que morra?! É isto o que resta de tudo o que amei, pensando ingenuamente ser uso imorredouro!

Como fui logrado! Julgava eu que os ditos amigos eram sempre fiéis, em nada se alterando! Até os mais chegados, em que o sangue fala! Quase tudo é vão, neste mundo volúvel! Só Deus e a virtude é que persistem. O que existe a mais, quer certo quer falso,leva-o o tempo que nada perdoa.

Amizades da infância levou-as a morte, bem como a diistância. o egoísmo ou o tempo. Que resta, pois, de quanto amei?!
Cinza já fria, que o vento dispersa e jamais reunirá!
Mas nem só eu me posso queixar, já que isto se estend e ao géneo
humano.
Houve, na verdade, amigos sinceros, que julgo sorrirem do Além distante. Se não fosse a morte! Ah1 Cono se ria feliz! Alguém, de facto, seria parreira, apoio e conforto! Mas que façeu, relembrando agora o que a morte esfacelou?! Vale mais não pensar! O olvido totai, se fosse possível, seria ideal!

Bem sei que devaneio em tudo quanto penso. Pois não é admissível que, em nossa desventura, nos sorria o passado?! Não
é humano e deveras racional erguer olhos famintos, para o lugar da abundância, onde nunca faltou amor e ventura?!
"Não deixes crescer a erva, no caminho que leva à casa dos teua amigos"
Recordo agora tais dizeres e quase me arrependo de quanto acima escrevi. Terei sido eu o verdadeiro culpado?
Se foi assim, disso me pesa e rogo me perdoem os amigos sinceros, bobs e dedicados, que julgo existirem, mas se fecharam, por culpa só minha
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Manteigas
1970-o6-01
Derradeira semana a dizer-se completa! Dá isto, na verdade, um pouco de alívio, mas não é de estranhar, pois que vai passando o longo ano lectivo. Quanta diligência! Que trabalhos canseirosos! É um vasto poema, formado por cantos, entremeados de dor, que se foram escrevendo, no silêncio da da alma,, havendo por testemunha o olhar do Senhor!

Como é bom chegar ao fim! Respirar fundamente, sem horas a contar! Erguer tão somente, quando já é tempo! Não, a chamo alheio! Haver a impressão de que o mundo todo nos obedece já e que a tudo nos sobrepomos!

Então não é duro contrariar o meu ser, para seguir um relógio?! Que tem este a dizer-me?! Quem lhe deu credenciais, para se impor, arrogante, à minha vontade?! E eu, por minha parte, ,reconheço tal poder ?! Como sou parvinho!

Avanço então como quero: ficarei, realmente, ao sabor de mim próprio, sem aulas nem horários que me têm desgastado! E
para quê?! Se algo de belo houvesse construído! Se a um nobre ideal houvesse consagrado a minha vida inteira! Mas não! O mal que fiz é talvez superior ao bem praticado!

Deus tenha compaixão, que é bom e clemente,! Que eu o mereça, não vejo motivo! Entretanto, seus méritos divinos, acumulados no Calvário, dão-me confiança e bastwnte ousadia, para esperar, lá no outro mundo, uma dita sem igual!

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Manteigas
1970-06-02
No 2º ano, foram 18 os alunos propostos, No 5º, afinal, havendo em conta a massa geral e olhando também ao descuido havido, ao longo do ano, podemos dizer que não são muito poucos,
já que outros Colégios propõem menos, e o nosso total não é avantajado
Ora vejamos.: o 5º de Letras apenas tem 12; Já o 2º sobe a 28. Olho, nesta hora, com grande ansiedade e alguma incerteza, para os nossos resultados, embora a consciência esteja tranquíla.

Na verdade,trabalhei, desde início, o que dá serenidade e um pouco de alento. Apesar de tudo, com exames tão falíveis, e sempre sujeitos a contingências várias, nenhuma certeza podemos assegurar! Quantos factores, alterando o curso do que havíamos pensado! Esperanças logradas, altos anseios qu deram em tragédia...
De remate: uma interrogação, para a qual não há fresposta!
E quanto a dispensas?! Doze no 2º e três no 5º?.Neste calcular, é tudo nebuloso e cheio de surpresas! Vamos ver, então , o que a sorte nos reserva!

A vida humana é feita de lograções, eriçada de espinhos,
entretecida em acúleos. A cada passo, eles se deparam!
Quando nos julgamos libertos deles, é que mais espicaçam!

Esperemos, no entanto, e haja confiança! O pessimismo é um conselheiro, harto irracional e, bastantes vezes, agente deletério,!

Havendo tais dispensas, ficava contente!
Que mais desejar, se os 4 melhores abandonaram o nosso Colégio)! Era a selecção, podendo até dizer, a fina flor do nosso 5º ano! Sem matéria prima, impossível brilhar!

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Manteigas
1970-06-03 Festa anual de S, Sebastião.

Ocorreu no domingo. Como é já uso, foguetes em barda
esfuzilaram no ar, originando ali grande nuvem compacta.
Diferente das outras, melhor diria, talvez, uma nuvem de fumo, uma vez que, só resíduos tóxicos lhe formavam a essência.

Houve de fechar as janelas da casa. e revestir-me de grande paciência, visto que eu sozinho não corrijo o mundo!.
Entretanto, que pode ter isto com o Santo Oficial?! É com festanças de lautos banquetes que se honram os Mártires?!
Com foguetes, contados aos centos, em girândolas sem fim,
que se exalta a sobriedade? !

O ruído interminável e assim as libações, em honra de Baco,
chegarão às alturas, onde o Santo culmina?

Cristianismo verdadeiro ou pelo contrário, só aparências?! Admitirá o Senhor que assim O enganemos?! Para quê exibições e provas do género?! Não é com isto, efectvamente, que se honra a Deus e aos Sabtos do Céu! Procissão e cortejos, pregações e litanias, aparato e cantos , mas tudo com fé!

Exagero assim nunca foi de louvar! A virtude é meio termo. Não vamos aos extremos procurar o equilíbrio! A que vem a loucura expressa deste modo?! E que pode contra o Céu um ventre avinhado?! Eu protesto, desde já, contra estas festanças, em que o ventre é senhor a que tudo se curva!

Haja festas, sim, mas despidas, por inteiro, do visco untuoso, em que a mente naufraga e a carne tripudia!

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Manteigas
1970-06-04
Da minha janela, voltada a Sul, distendo o olhar, que se
crava receoso, na Fraga da Cruz. É muito alta e cortada a pique,
figurando, às vezes, tocar no Céu, ainda por cima das altas montanhas. As próprias nuvens lhe prestam vassalagem, considerando-a rainha e senhora das alturas.,cujo sumo império se não discute.
Não raro, tenho inveja, aqui no fundão, metido entre escarpas,
alterosas e graves, que me tornam mesquinho. Mas que fazer?!

Por que vim enclausurar-me, ainda em verdes anos, dando assim ares de que já não existo?! Como posso eu viver, sem luz nem calor. afastado, com violência, dos poentes saudosos e bem assim das auroras radiosas?! Majestade suprema, esplendor e glória...
tudo o que prodigaliza uma bela manhã; melancolia, dor e saudade... tudo o que oferta um dolente pôr-de- Sol, tudo isso, afinal, e o mais que não digo, ficou sepultado. neste longo Covão!

Maditando solitário, no silêncio do meu quarto, olho furtivamente e lá volto eu à Fraga majestosa, que se ergue empertigada, recortando-se além no azul do céu. As neves e o frio não são para ela coisa de monta! Vendavais e tempestades , granizo ou geada,
chuva ou nevoeiro,... tudo isso é ninharia, para a sua grandeza!

Invejo-lhe o destino, pois arrosta denodada, contra as forças brutas da Mãe-Natureza!
Que lhe importam ninharias que ao homem atormentam?! Em
extremo despreza o que outrem receia, para cumprir serena o destino glorioso que Deus lhe traçou!.
Ao centro do percurso, que me leva, em segundos., à Fraga da Cruz, encontra-se o Cruzeiro de S, Sebastião, a falar-me de glória, poder e grandeza.
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Manteigas
1970-06-o5 .Luz, calor e harmonia! Gelo, ruído e sombras! À beleza sem igual do primeiro conjunto opõ-se a fealdade, relativa ao segundo.
Estou em frente do radio, às 7 e 30. Sintonizo agora a estação de Sevilha, na Radio Nacional de Espanha,afm de escutar o exerc+icio de Alemão, pelo Doutor Espich.

Mas qual carapuça! A Emissora de Lisboa, ciosa provavelmente, da congénere estrangeira, apresenta em simultâneo, um programa reles, bem contra-indicado, para tal ocasião música moderna, em que barulho a rodos e frequentes dissonâncias constituem, ao que julgo, o elemento primário.Batem, batem e tanto repetem, que é mesmo um horror! Nada melhor para enervar!.

Interessados ao vivo, por algo que nos chama, fica à nossa mão, sem poder alcançá-lo! Como alguém sequioso, à beira da água, olhando para ela,sem poder chegar-lhe!

Suplício de Tântalo! Melhor fora não vê-la! Ao menos, decrescia o martírio! Mas que seca esta de passar meia hora, ansiando penosamente, sem lograr uma aberta! Os ponteiros do relógio deslizam sem parar e não há, neste mundo, força que os detenha!
Algum poder mágico ali os faz girar,, pois figuram diabretes, apostados em magoar! Quem dera, por vezes. ser tão poderoso,, que a minha vontade fosse dona e rainha,, tudo submetendo a seu
firme querer! Mas nao! Engulir em seco e nada mais!

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Manteigas
1970-06-06
Agora, em Junho, a 5 negativos! É obra de vulto o clima de Manteigas! Após uns dias quentinhos, em que o termómetro foi a 18, vem este fresquinho enregelar os ossos! Como resistir a estas mudanças?! As chapas de ferro estranham tais coisas, pois se dilatam, voltando a contrair-se, à medida que o tempo se vai alterando. Poderia não senti-las, sendo eu, na verdade, tão sensívell às coisas?!
Mas, afinal, por que é que me lamento?1 Não vim eu livremente e saio de igual modo?! É verdade tudo isto, mas vivo já
de hábito! Por mal que esteja, só com esforço retiro a pedra que ´
oprime e esmaga! A própria miséria faz jeito imenso, pois só a muito custo a vou alijando!
É triste,bem triste a sina do homem, cuja vida se emaranha
em fios desta ordem, cerceando os movimentos e privando-o assim da própria liberdade
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Manteigas
1970-06-07
Dia bem triste, assaz lamuriento e harto pesado! Sol não
existe, cá para nós, que as nuvens o encobrem! Sentimo-nos gelados! A tiritar, como no Inverno, assim exactamente, vamos arrastando e perdendo a vida. De nada vale o espreitar, em jeito
inquiridor,, as altas cumeadas, nestas montanhas! Para quê olhar
assim?! Desdita é pertença!Não há que fugir-lhe!

Seria tão bom vislumbra,à distância, o astro criador! Acariciado nos seus raios de ouro e beijado por eles,, suportaria a existência, com rosto prazenteiro! Distante, porém, vai-se tudo esboroando, na voragem do tempo! Ele nada esquece e premedita a hora de levar-nos também!
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Manteigas
1970-06-08
Aquilo que é bom avalia-se apenas, se já não existe. Belos dias de sol que alegráveis a Terra, onde estais vós, que não vos encontro?! Que vendaval temeroso afastou para longe o que era delicioso?! Jamais voltareis, horas tão gratas dum passado que já foi?! Que mal é que eu fiz, para me roubarem tão grande ventura?!
Noites e dias...invernos se fim... primaveras fugidias que não chegam a sorrir,... ameaços frequentes que prometem e juram acabar com o Verão! Como é apavorante, angustiador e cheio de tédio!
Viver neste inferno que me traz enregelado...viver a toda a hora numa angústia de alma, confesso e porfio que não dá gosto nem produz alegria! Fugir para tão longe, que não ficasse lembrança! Desertar em abalada que ninguém descobrisse!
Não sei bem o que digo! Será, talvez, melhor esquecer o passado!
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Manteigas
1970-06-09 Hospedagem

O hóspede, em geral, é um ser estranho que só dá prejuízo! Se for um dia apenas, é música e sonho; se vai a dois,nem aquela nem este; sendo já trªes, volve-se tudo em franca maçada.!,

Quem ama ruídos?! Se fora assim o inferno, horrível se tornara! Simples amostra do que o hóspede seja capaz, nesta vida mesquinha: transformá-a em brevenum inferno vivo!
Hóspedes ingénuos que ledes estas frases, ponde-vos alerta!
Não deixeis, ingénuos, que vos peguem das orelhas e atirem para a rua!
Antes da visita, pensai tr<
es vezes Deveis fazê-la ou tentar outro rumo?1 Ao longo dela, examinai o ambiente. Ao mínimo indício, não olheis para trás!
Vereis abrir a boca, sorrir a prestações, ausentar-se ami+ude quem desejaríeis que estivesse perto!

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Manteigas
41970-06-10 Algumas expressões da minha aldeia.

Que rico batatal! É realmente, um louvar a Deus!
Que belo aninal! Benza-o Deus! Comprei um porco, com sua licença! A minha mulher, Deus a tenha em glória! A minha mulher que Deus lá tenha! A mminha mulher a terra lhe seja lve!... A minha mulher no Céu esteja!:::
Eu seja preto como este chapéu! A vida são dois dias! Parvo é quem se aflige! Quem se aflige morre mais cedo!
Vale mais um toma que dois te darei. Se queres ser feliz, mata a ambição! Visitas secas não agradam a ninguém!.

Quem não tem cabeça não precisa chapéu. Olha o pedaço de asno! Aquilo, afinal, são favas contadas! Foi cortar logo, atar e pendurar! O que tu precisavas eram umas sopas de cav
alo cansado!.Quem medera ser pássaro! Quem corre de gosto não cansa jamais! Aquilo para mim é qual manteiga!

Nem oito nem oitenta! É no meio que esté a virtude !
Presunção e àgua benta cada um toma a que quer! Quem me dera ser livre como o passarinho! Fura como piolho, ao longo da costura!
De Espanha nem bom vento nem bom casamento. Até ao lavar dos cestos ainda é vindima! Enquanto o pau vai no ar, folgam as costas!

Estuda que se desunha! Filho de peixe sabe nadar! Quem sai aos seus não erra! Rosto frio, coração quente. Dar à imaginação tratos de polé. Tudo muda, se altera e, por fim, se acaba: só Deus e a virtude é que permanecem!. Fazer castelos no ar. Ter mais barriga que olhos.Quem muito abarca pouco aperta! Quem muito deseja, pouco alcnça Estar-se marimbando para outra pessoa.. Olho por olho, dente por dente!
É o pai ingerido! É isso mesmo, sem tirar nem pôr! Ensinar o Pai Nosso ao cura. Padre de aldeia que bem cante e bem leia. Pum
aqui e lá fora o cheiro! Muito pode quem Deus ajuda! O poovo, em geral, precisa de três "f ": festa, farinha e forca! ( Napoleão), Chover
na boda é bom sinal! Quem se deita sem ceia, de noite, esperneia!

Cama já, que estás como uma bola! Está um trabalho como as tuas trombas! Podes limpar a cara a ele! Beber chá, em pequeno! A morte é como o ladrão: vem naquela hora, em que menos se espera!Não faças mal, às atinências que te venha bem! Quem o seu não vê o diabo lho leva!

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Manteigas
1970-06-11 A maior Aspiração?

Aspira qualquer homem a ter uma filha!
Quantos sonhos irreais... quantas esperanças a vida não repele!
Apesar de tudo, o anseio permanece, inquieta e avulta. Um sorriso
carinhoso, lábios frementes, olhos tão lindos, que as estrelas pasmam... semelhantes ( quem sabe?) aos olhos de nossa mãe!

Braços prontos e hábeis, que a desraça impele;mão dextra e carinhosa, que o mal ergue em prece! Coração generoso, que o amor acende logo, pondo tudo em fogo,até alcançar os últimos recessos do peito envolvente!
Que bênção do Céu! Que suprema ventura! Balbucie orações
ou corra ligeira,. é fada prestimosa, que adormenta horas más!

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Manteigas
1970-o6-12
A medalha cobiçada apresenta seu revés. É, quantas vezes,bem diferente do que havíamos pensado! Se atento nos factos, que é o que me dizem? Vejo filhas que o não são, em extremo ansiosas, por deixar solitário o ber ço amigo, onde foram embaladas!Por vezes, espreitam diligentes a hora da partida!

Rec anto de fadas, converte-se, então ,em negro inferno! Já não que rem esse arrimo, que é forte e carinhoso: esse peito que as gerou, em amor e ansiedade!Treze anos mal cumpridos, logo sondam no além, uma luz que adormece e gera. prestesmente sonhos cor de rosa. Tudo o mais já não conta e é barreira odiada.

Vão em busca do sonho que negaceia, à distância, Haja embora soluços,,dolorosos suspiros,: não importa já isso, que é preciso viver!
Como sofre, então, o peito, ansioso e oprimido, não podendo suportar o acesso imprevisto de uma dor sem igual!

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Manteigas
1970-06-13
Viver muito, neste mundo, mão é, a rigor, ter largos anos Na verdade, quantos não vivem, intensamente, em escasso tempo, em escasso tempo! Para exemplo chocante, vem logo Santo António,cuja festa hoje passa.- Faleceu aos 30 anos ou um pouco mais!
Não é muito, não, mas foi suficiente, para alcançar a paz celeste! É indubitável que viveu, em cheio a vida na Terra, embora tão breve! Vemos, pois, que não contam os anos, mas sim a capacidade ddee sentir e amar. Um nobre ideal, servido com paixão, arranca doações que não podem explicar-se!

Grande Santo António que deslumbraste o mundo, com saber e santidade,, alcançando em breve o que muitos não lograram, , por meio de longa vidam, faz lá na Altura, que eu ame sempre ao Deus que nos criou.
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Manteigas
1970-o6 14
Fui à Covilhã provar uns casacos. Não que sejam muitos. já se deixa ver!, Apesar de tudo. há quem tenha menos,
uma vez que, há dias, levei 5 novimhos, quer dizer, a fazenda
necessária, para trabalhá-los. Além destes, a sobrecasaca e três
pares de calças novas, para ligar ao conjunto.

Quem foi tão parco, ao longo do tempo. é agora modelo que toca no extremo. Diz o ditado: Quem ficar que o ganhe!
Só minha irmã é que podia leva r-me a fazer tal coisa!
Era, na verdade, um tanto mesquinho, pos tinha só um fato, há não ei qiantos ands!
Presetemente, veio a desforra!: 13 pares de calçado; 90 peças de roupa branca; lenços 15; pares de maias, 14; 4 pijamas e um belo roup-ao; Não será demais?!

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Manteigas
1970-06-15:
Assim Deus me salve!A vida á assim! É a vida!. Ninguém se encontra à sua vontade! Ninguém está contente com a sua sorte! Terrivel palavra o não!.Nem aos calcanhares lhe chegas! Ser uma jóia de pessoa! Ter resposta pronta. Tê-la debaixo da língua.
Ser como a pólvora. Ir aos arames, por tudo e por nada. Ir às núvens, por da cá essa palha!ra. Ser como o vidro.! Obter uma
coisa, por 1o réis de mel coado! O lisonjeiro não dá pão a ninguém.
Crescer a olhos vistos..Toma lá, dá cá! Quem quer dar não promete.
Ferrar o cão e fugir. Andar de espora fita Agora é que deste no 20! Isso é chover no molhado! Isso era ouro sobre azul! Nadar em mar de rosas.
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Manteigas
1970-06-16

Nem tudo o que luz é ouro! As aparências iludem.
Muita parra, pouca uva. Ter mais vozes que nozes. O que tens é léria. . Quem dá parece-se com Deus. A lisonjeador ouvidos de mercador! O que não dá pão não interessa!
Quem não dá não tem amigos. Amigos do meu escuso-os eu. O bem tende a comunicar-se.Quem o feio ama bonito lhe parece.

Quem ama vê tudo cor de rosa.Quem nada tem nada vale!Tanto tens quanto vales. A bom entendedor, meia palavra basta!.
Perceber tudo num ai! Perceber tudo no ar.!Trabalhar em onda curta. O teu´é meu, mas o meu não é teu!.Tamto me dá, como se me deu! Não se me dá disso para nada!

O que tu queres sei eu! Obra bem começada é meia acabada!
Andar com o juízo no ar! Fazer castelos no ar! Fazer castelos na areia. Nunca dar que falar! Agradar a gregos e tróianos. Pôr nos píncaros da Lua.Pôr nos cornos da Lua. Ser mais papista que o Papa .
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Manteigas
1970- o6-17
Ser um pela frente e outro por trás. Aquilo é um espirra-canivetes! Olha que te como a alma! O que ele precisava sei eu!
Saíram-me as contas furadas!Já me nevou na cabeça! Ter pêlos no coração! É como a pele das cobras! Oh! raça de víboras!.

.Pôr-.lhe as pêras a três. As contas faço-tas eu! Heii-de fartar-te de futebol! É firme como a rocha!É o coração dum anjo! Tantos Anjos eu tenha, à hora da morte! Quem me quer não quero eu!
Palavra de rei não volta atrás! Andar com cara dde e poucos amigos!
Trazer cara de pecado! Andar de bigodes assanhados.! Ser pau para toda a colher. Ser desmancha-prazeres. É um bom serás. Os maus haviam-de ser como ele! Por ele, não vinha o mal ao mundo! Se todos assim fossem! Parece que não há-de partir um prato!. Atirei-me a ele, como Santiago aos Mouros! Dois a um depenam-no! A união faz a força.

A cavalo dado não se olha o dente. Enganar o mais pintado!
Pintar o caneco! Dar por paus e por pedras.Ferver em poica água. Cada cabeça, sua sentença! Andar de cordas altas. Andar de cordas tensas. Fazer o ninho detrás da orelha!. Deitar poeira nos olhos.
Não é quem se pensa! Despedir-se, à `frances Ovelha que berra bocada que perde. Nem burro queres água! Louvor em
boca própria e vitupério! Não se r de boas contas. Não se d á por vencido!
Coragem até Almeida!. É dos que arrota grosso! Aquele é dos meus! Se eu fosse a ti, não ia lá. Dois a um metem-lhe uma palha no cu. É como agulha em palheiro! Andas a lapidar por uma sova! Tantas fazes, que apanhas! Olha que te desfaço nas unhas!

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Manteigas
1970-06-18
Começaram as Escritas! Vai grande ansiedade, por esse
mundo luso, em que as almas se agitam e sofrem corações
!
Cont, de Memóras 26:18-6-1970
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Manteigas
1970-06-18 Já começaram as Provas Escritas.

Vai grande ansiedade, por esse mundo luso, em que as almas se agitam e sorem, por igual os coraões. Nesta hora, tudo se afeia: a sala de Provas, o cenário envolvente, vigilantes assíduos e os ponteiros do relógio.

Momentos houve, em que eram lentos;agora, porém, são vertiginosos, precipitados!; a Natureza, já menos bela! o,
mesmo ar, pesado, opressivo!

Qem se cruza na rua, passa indiferente e assaz alheado! A
insegurança tortura e amesquinha. A vida é tão dura! Um ano perdido.... sacrifícios baldados... esperança fagueira que o Demo leva!.. Será tudo assim?!

Na aula do 5º ano, presido, nesta hora, à lição de estudo,
enquanto os alunoa, diligentes e prontos, remóem noções.
Faltam alguns, verdade seja, apesar de tudo, ainda conto 7. Leitão e Gabriela, Isilda e Machado,, Maria Fernanda, António Manuel e João Adelino.
No primeiro tempo, leu-se em comum o plano geral da nossa Epopeia; de momento, estão revendo conceitos, e recordando o que haviam esquecido. Aplicam-se a valer, não se ouvindo aqui o mínimo ruído. Fora assim todo o ano, correria tudo bem!

Faltam ainda: Ricardo e Luís, Teresa Quaresma e Teresa soares, Margarida e Lurdes. Destes 13, há 7 propostos: Margarida e Ricardo, João Adelino,, António Manuel,. Isilda e Fernanda, e
Gabriela. Dos outros 6, a Teresa só vai a Português e à secção de Ciências. É já maio. Por causa disso, é-lhe permitido fazer por disciplinas..
Espero tranquílo que os alunos propostos, fiquem aprovados. Os outros irão, muito provavelmente, engrossar a turma, no próximo ano.
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Manteigas
1970-06-19 Sobrinha e afilhada:

A nossa Guida já fez 4 Provas. Falta somente a de Francês.
Devido ao fim de semana, efectua-se depois, na segunda-feira. , 22
do corrente. Gostaria. a valer, que tirasse 17.. Seria para mim regozijo enorme, pois lhe quero muito. Não tivera ela os traços da avó, a santa mulher que foi minha mãe
Linda, recatada e muito caprichosa, de carácter impoluto, é, na verdade, um encanto de criança!

Quando ela for para Angola, ficarei mais só!
Desprender-me dela afigura- se duro.! Já lhe quero como filha e não prescindo fácil de seus beijos e meiguices. Ver minha mãe, de linhas tão moças, até, quem diria, nos proprios defeitos!...

Se eu lhe queria tanto, agora pois, que Deus a levou. ficou na Guidinha seu retrato natural, Agarrada como ela, decidida e ser- viçal, é-me grata companhia, nestes dias solitários.l

Pouco tenho a que me apegue! É já nada o que possuo.
Esta vida foi um sonho que os homens destruíram.
Nada prezo da existência nem encanta o meu peito! Foi ela
quem me disse que eu era enjeitad o!,

Assim tenho vivido, em imenso desconsolo, oprimido o coração , a alma flagelada! Em que vou descansar, firmando o meu viver?!
Sinto bem claro que tudo me foge, limitando a minha esfera!
Nada fica, pois, e eu, sozinho, vou gemendo angustiado, até que a morte, em seu lidar, venha põr-me em descanso.
Tu, Pai do Céu, jamais abandones quem é tão só e não pôde viver.
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Manteigas
1970-06-20
Amanhã, solestício do Verão, é o dia maior. O Sol criador, no movimento aparente, atinge o zénite. Começa, pois, o
Verão desejado, acabando assim a estação das flores! Frio e chuva
é o que temos desfrutado! Até quando este gelo que precipita a morte?! Virão ainda alguns dias quentes afagar os nossos membros?! Ou a vida é isto mesmo. sem esperança nem consolo algum?!,
Aih que pena eu tenho de viver em tal fundo, onde a noite é quem domina e a treva não se esvai! Quem me livra, generoso. que
aborreço, transportando meus olhos a horizontes sem fim?! Venha um braço libertar-me , forte, bom e ousado, que eu não quero, que eu não quero adormecer, neste vale temeroso!
Quando a luz se acabar, seja a morte a fazê-lo.
Volte prestes o disco e parta para longe esta minha tristeza., não ser esmagada ou envolta em sombras!
Haja uz e alegria, vena mel e meiguices; fuja tudo quanto odeio; fique eu só, no meu mundo!

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Manteigas
1970.06-21
O maior dia do ano e também da minha dor!
Horas longas que não passam... amargos dias inindos! Procuro tarde o que não tive! Rebusco em vão o que não tenho!
À minha roda, há solidão e vazio. no meu peito!

Bem queria acer tar meu destino cruel, mas é ele que me empurra, sem eu interferir! Um viver aparente, em que falha o querer!--- uma vida postiça, em que outrem comanda

Se o meu Deus não tem pena que me livre deste horror, então sim, vou chorar minha sorte cruel! Mas eu creio e não me engano: Ele é bom e carinhoso... um portento de beleza! Vergará o meu destino e serei então feliz!, vivendo eternamente, sem gemidos nem angústia

Mas agora, como sofro, aguentando o fardo triste duma vida a mm imposta! Algemaram-me em criança,, explorando a ingenuidade ,bem como a ambição: foi traçado o meu caminho, através de mata densa. So espinhos encontrei e daquilo quebuscava somente aparências!
Eu, no entanto, sinto falta enorme dum amor operoso, que sorria para mim, nestas horrrrrras de amargura. Estou faminto de amor... sou louco por algo mais. que a muitos foi dado: porçãi inalienável de todo o ser vivente!

Viesse alguém perguntar-me se eu queria este fardo, pondo luz, na minha, treva..., esclarecendo bem o que era vida presente...
Eu, porém, era anjinho, a deixar-me guiar. Hoje é tarde e só lamento o que fizeram de mim!

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Manteigas
1970-06-22
Não é vergonha alguénha trabalhar: vergonha é roubar! É a tia das massas. Achar a forma do seu pé!. Homem prevenido vale por dois!. Serem inidos como unha e carne. Quem é o teu inimigo? O ofcial do teu ofício. Dá Deus o frio conforme a roupa! Mais vale boa nomeada do que cama dourada. Cria boa fama e deita-te a dormir
Os homens não se medem aos palmos! O hábito não faz o monge! Guarda-te do homem que não fala e do cão que não ladra.
Quem boa cama faz, em boa cama se deita. Na terra dos cegos, auem tem um olho é rei.. Quem atrasado vier comerá do que trouxer Para quem não quer está sempre a mesa posta.

Não basta um alho, para fazer uma alhada! Bons dentes são os que não deixam exceder-se a língua. Tende um lugar, para cada coisa e ponde cada coisa no seu lugar. A cada hora basta o seu mal. As horas são seguidas, mas não parecidas Quem mal fala sua boca suja!Pagar o justo pelo pecador.

Tal paga tal cura. Quem espera desespera. Na necessidade se prova a amizade. Se queres saber quem é o vilão, mete-lhe a vara na mão!Dar o pé tomar a mão! Da mão à boca se perde a sopa!.Mãos frias, coração quente!. Entre irmãos não metas as mãos!
Maria vai com as outras!. Faz bem a vilão, morder-te-á na mão!Não há regra sem excepção! Quem não semeia não colhe!
Poupa a cozinha: aumentarás a tua casinha! A noite é boa conselheira. Palavra dada não volta atrás! Cria o corvo, tirar-te-á o olho! deve, já sabe o que fica. Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem. Tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica ao portal. Quem vai à guerra dá e leva! Quem paga o que deve sabe o que fica. Passar de cavalo a burro .

O que não se faz, na Santa Luzia, faz-se ao outro dia. O dormir é meio sustento. Quem cala consente ! Quem dá e torna a tirar ao inferno vai parar! Quem dá parece-se com Deus. Quem dá mal as cartas perde a mão! O cavalo engorda com a vista do dono.
Todos os rios vão dar ao Mar. Quem tem boca vai a Roma.

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Manteicas
1970-06-23 Véspera de S,João

O que este dia me vem lembrar! Velhas usanças do meu tempo de menino, que jamais esquecerei! O rosmaninho, tão rescendente, era então procurado, por montes e colinas., com vista a perfumar as ruas da aldeia e fazer, do msmo passo - pelas fogueiras - a diversão desta longa noite.

À volta delas, ruidosos cantares se elevavam nas alturas, enquanto os mais novos saltavam animosos, no intuito de salvar os montões em chamas. Ao perto e ao longe, ardiam, crepitando, os cheirosos rosmaninhos. Tudo isto deleitava os folgazões do S. João.

Na pequena aldeia, luziam por toda a parte enorms fogueiras,
encanto inocente de crianças e adultos.
Após o jantar, vem tudo para a rua. É noite do S.João! Ressentimentos, ódios e malquerenças não têm lugar, neste dia bendito!
Apenas regozijo, prazer e harmonia, bom entendimento!
É a noite das fogueiras, a noite gloriosa do rosmano perfumado destas fogueiras e dos belos cantares, à desgarrada. O sono e a preguiça fogem para longe! Se não têm quartel!..

Não entendo bem que relação tem o mártir com estas fogueiras, mas creio tratar-se de algum simbolismo. S. João Baptista era um homem ardente que todo se punha ao serviço de Deus.! Tão grande era o zelo, que a tudo renunciava, para agradar ao Senhor.

Que mais oferecer. além da própria vida?!
O Santo de hoje imolou-se também, como viva testemunha de uma fé que não mente... uma crença radicada que não se fica pelas meias tintas
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Manteigas
1970-06-24 A Mãe aflita

Foi o caso a seguir, no regresso da Guarda, Havendo já passado Famalicão,, depara-se-nos à vista, em curva da estrada, um belo ajuntamento,
Bucolismo, inocência, era na verdade o que estava ali.
Jamais presenciara, em dias da minha vida, cena tão meiga e tão
comovente. Solícita perdz, com vários perdigotos, pouco mais volumosos que os próprios ovos, donde tinham saído, caminham para nós.
Sustenho em breve a marcha do carro e olho arrebatdo para
a bela ninhada. A mãe extremosa, logo que sentira o ruído assustado,, chama ra-os todos para junto de si, mas sem resultado..

Eram buliçosos,, bastante acriançados e de todo inexperientes. À sua pequenez ficavam devendo a causa de tudo:
olhar apalermado para o nosso veículo, enquanto a mãe,assaz angustiada, e muito pressurosa, tentava encobri-los, de asas frementes, e arredá-los para fora da via.

Ouvindo fechar a porta do automõvel, atira-se breve para o outro lado, já quase sem tino, Eu, de momento, é que não resisto!
Quero vê-los todos, junto de mim e, semdo possível. agarrar alguns.
Os pobrezinhos é que não obedeciam â mãe angustiada, em
grandes apuro.s. Cada um para seu lado, iam sem pressa, não tentando esconder-se.

O que faz a inocência! Agarro então dois, com firme intenção de os libertar, mas a Gina e a Guida é que não consentiram, preferindo levá-los e dar-lhes comida.
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Manteigas
1970-o6-25 Aspiraão gorada.

O centro de inter esse, na hora que pasa, reside, já se vê, nos perdigotos. Infelizes embora, mercê das circunstâncias, queríamos, sem dúvida, que eles se criassem, não obstante os cuidados, a ter em seguida, e o dinheiro a gastar!

Constituem agora o encanto dos pequenos, salientando-se logo a parte feminina, Oferecera um a cada uma delas

Quantos desvelos, praticados sempre, com extremos de mãe! Até um ninho de fofo algodão! Calculem bem! Água ali também não faltava, ministrando.lha a espaços, com jeito de santas! Fora tudo previsto e bem calculado: alimentação, bem fragmentada; bebida, a horas certas;habitação,c+.muito agasalhada, fazendo-se desde agora, projectos variados, para um futuro próximo.

Bem lhes fiz ver que não se criavam, mas tudo repeliam, se não era contestado! Os meus argumentos eram logo invalidados,
apresentando razões, que me tolhiam o passo
Disseram às amigas que logo se alarmaram. recomendando prudência.
Se a Guarda Nacional tivesse noticia,haveria d esgostos. Caso fosse tnformada, viria logo prendar-nos com boa multa: uns
300$00!. Vejam lá! Por bem fazer, mal haver! Isto assim, não anda direito!
Os oerdigotos lá e st-ao ainda, e, ao olhar para eles, e ouvi-los pipilar, figuro dois filhinhos, arrancados ao lar, carpindo eternamente sua dor sem igal!

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Manteigas
1970-06-26 Morte inglória

Os passarinhhos vão emagrecendo. Com a tristeza, aumenta, a olhos visto o seu definhamento! Dá-me pena imensa ve-los deste modo. A princípio, esgueiravam-se velozes,,caminhando arteiros, em todos os sentidos. Vendiam alegria, sem nada os molestar. Era um gosto fitá-los! Vivos e activos, inocentes, brincalhões!

Folgávamos imenso de vê-los assim, arquite ctando já uma franca gaiola, onde pudessem brincar e ser felizes.
Hoje, porém, que é o terceiro dia, não pensamos já de modo igual!
Nada, creio eu, se pode esperar! As pernitas vergam amiúde, ao peso do corpo.; a cabecita pesa e normemente, não sendo já capazes de mantê-la erguida; o seu olhar virou mortiço, perdendo o brilh que era peculiar.
O que era centro de radiosas esperanças volve-se, desde já em fonte de amargura! Onde havia movimento, calor e vida,, instalou-se agora o veneno mortífero que a todos abrange.

Que pana eu sinto de havê-los segregado, em tenra idade!
Pudessem eles prover ao sustento!! Os seus irmãozitos, bem mais ditosos, encontram-se agora de papo cheiinho, bem abrigados, a toda a hora pelas asas maternas!

Estes pobrezinhos já se viram de costas, não sabendo nós então qual é a barriga ou o lado inverso!. Que destino cruel Que forçs poderosa os trouxe a Manteigas,! Vendo a luz solar em tgterras de Valhelhas, trouxe-os o destino a estas paragens, em que tremem de frio e vão agonizar!
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Manteigas
1970-o6-27 O 4ª Dia
Falassem os perdigotos, iam agora , por certo, queixar-se de mim, chamando-me tirano. Chego a ter remorsos de haver causado a sua desventura! Não foi para isso que eu os desliguei da grata companhia! Mas eles não resistem a golpe tão duro e nada lisonjeiro!
Debatem-se ali em fundos estertores de lenta agonia, que me fazem tremuras! Rebolam-se trementes, dum lado para o outro , velado o olhar e já sem efeito! As mesmas pernas deixaram de actuar; as pálpebras inúteis desceram imenso. S ó o coração funciona ainda. Pelo arquejar, nota-se bem que a vida os anima.

A duração não poser muita!
Por que fui tentado a arrancá-los à mãe? Queria, sim, torná-los felizes, junto de mim, arranjando gaiola, arejada e franca, onde nada faltasse.
Esqueci-me no entanto de que eram recém-nascidos e que, apartados da mãe, viriam a morrer!
Quando agora me lembro da graça infinita que mostravam no lidar,
oprime-se fundo o meu coração, invadindo-me a tristeza!

Ó lar amigo, fonte de bênçãos, graça e amor!
O vosso lar querido, a vossa providência, afastada para sempre,
trazem à memória esse lar ditoso, onde fui tão feliz!

Estou de costas voltas, porque já não aguento a presença amarfanhante, o demolir sacudido, a prostração e aviltamento, em
que fiz mergulhar os pobres órfãos!
Perdoai-me então, queridos amigiinhos: eu prometo, desde
agora, nunca mais repetir esta feia acção

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Manteigas
1970-06-28 Mais adágios e Provérbios

Dá-lhe uma e promete outra. Quem promete não quer dar..De enganos está o mundo cheio..De esperanças vive o homem, até que morre. Quem espera sempre alcança. Quem espera desespera.
A última coisa a morrer é a esperança. De boas vontades está o mundo cheio, O muito dar dói. Não me batas no cu, que me dói a cabeça.
Prega, mas não batas no púlpito!. Enquanto o pau vai no ar, folgam as costas. Em casa de ferreiro, espeto de pau! Dar a casca, por pouco. Dar por paus e por pedras. Santo de pau carunchoso
Contra a preguiça cacete! Jogar com pau de dois bicos. . Ser pau para toda a colher.. Andar aos paus. Assentar um pau nas costas.
Um pau na mão e o pão na outra. Usar varinha de condão!Não fora a varinha mágica! Quem dá o pau dá o pão. Sem pau, não andas!
Ah! belo cacete! Só se perdem as que caem no chão! Eras bom para pau de vassoura! Ah! bom pau de marmeleiro! Para sair, nuunca é cedo A fome e o frio metem a lebre a caminho! Deitar as mãos a cote. Quem precisa tem que andar!

Quem não trabuca não manduca! Quem o alheio veste na praça o despe! Quem espera por sapatos de defunto, toda a vida anda descalço! Quem quer vai, que não quer manda! uma coisa é dizer, outra fazer! Trabalhar como um galego! Trabalhar como um negrinho!
Trabalhar como um mouro! Do trabalho vem tudo. A preguiça é mãe conselheira. Dar um tiro no trabalho Só trabalha quem não sabe fazer mais nada! Trabalha, que Deus dará pão. A preguiça e mãe de todos os vícios. O trabalho vence tudo Trabalha se queres proveito! Trabalhar é honra!

Trabalhador bom não acha a ferramenta ruim, Quem não trabalha é pesado a outrem. Foge do preguiçoso como o Diabo da Cruz! Mocidade ociosa, velhice trabalhosa. Quem trabalha não é pesado a outrem Quem trabalha não aborrece. Sem trabalho, nada vem. Honra e proveito não cabem num saco estreito

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Manteigas
1970-06-29
Quem boa cama fizer nela se deitará. Quem semeia ventos colhe tempestades. Árvore boa dá bons frutos. Árvore má não pode dar bons frutos.. Do mal não pode vir bem. Uma consciência tranquíla é o melhor travesseiro. Conforme semeares, assim colherás. Não faças mal. às atinências que te venha bem.
O mau julga os outros por si. O mal e o bem à face vem.

O bom julgador por si se julgaVer o argueiro nos outros e não ver a trave em si. Quem tem padrinhos não morre moiro. Quem a boa árvore se chega, boa sonbra o cobre. Vale mais só que mal acompanhado. É pelos frutos que a árvore se conhece O meu é meu e o teu é de ambos!. Misturar alhos com cebolas. Ena!
Que grande marmelada! Era como agulha em palheiro!. O corpo guarda-lhe a alma!. É apagador de concupiscência. É pau de virar tripas. É um unhas de fome!. É como carraça!. Ser capa de alguém. Morrer por guloseimas!. Ser doido com alguém. Ser louco por pêras
Os olhos são as janelas da alma. É a m~~ae ingeida. É isso, semtirar nem pôr! Deste no aixe!. Acertaste no alvo. É pontaria que não falha! É pontaria de caçador!. Se fosse melhor não prestava!.
Aquilo eram favas contadas! Saíram-te os cálculos furados. Saíram-te as contas furadas?! Era manteiga para mim! Trazer o rei na barriga!
Não é moita donde saia lobo! Saíram-te os lobos ao caminho? Trazer cara de poucos amigos!. Parece que te devem dinheiro! Dis
fracos não reza a História! Fazer das tripas coração! Armar à inportância!. Fazer-se valente! Fazer-se desentendido! Fazer-se de novas! Não se desmanchar! Estragar o arranjinho! Ser desmancha prazeres. Fazer-se rogado Fazer-se tolo. Fazer asneira. Fazer-se pacóvio.
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Manteigas
1970-06-30
Fim deste mês e também do semestre! Como tudo o que finda, vai-se Junho embora, envolvido num manto. em que há, sem dúvida, esperanças goradas, desilusões amargas,!

O princípio é sempre mais belo! Não fora a esperança, que a vida humana tornava-se indigesta. O fim, porém, dá logo o remate e,com servtriste e deveras opressivo, não tira, jamais a esperança de alguém. Esta é, na verdade, qual Féniz dos bosques, essa ave lendár
ia, que renascia das próprias cinzas!
O Mês vai findar e, com ele vão também sonhos lindos que gerei, anseios altos que premiam,, enormes dores que passaram em vão! Agora, Julho aproxima-se e traz desde logo, um cortejo florido, que vem dourar toda a nossavida: o belo sole a mágica luz;
as férias desejadas: a montanha e a praia; as viagenns lá fora.

Mas quanto enumerei fica dispendioso. O dinheiro foge e não volta mais! Ganha-se pouco e gasta-se muito..Por outro lado, se alguém paga tarde, ninguém sabe o que é seu!. Não há previsões que possam fazer-se nem projectos a traçar! É tudo nebuloso! Ao cortejo triste que nos acompanha outro vem juntar-se, mais soberbo ainda, o que o torn insuportável.
A cruz da vida, já de si tão pesada, avoluma e agiganta-se,
porque algumas pessoas não cumprem o dever Quem lhes deu margem, para servir-se do que não é seu=!
Já lá vão 6 meses!Pode aturar-se?! Em nome de que lei ou de alto princ´pio?! Em noma da consciência?! Não é isto roubar?!

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Manteigas
1970-07- 01
Decorre a minha vida sem interesse, levada em tropel, na voragem do tempo. que nada respeita., melhor didria até que me
traz enjoado, sem esperança que luza no meio, onde agora sofro.
Movimento sem norte, vida sem brilho, acção que não é vida, resfolgar penoso de quem vive oprimido

De Deus amoroso não posso queixar-me: é bom e paciente!
Dos homens, sim, me queixo eu, que operaram, sem rebuço, , a minha desventura! Tantos, aí no mjundo, seguiram a capricho , o rumo preferido!! A mim, porém, joguete fatal de numen encoberto, falsearam-me a vida que não posso aguentar!

Mais que um horrendo fardo é els insuportável: enche a alma de gtédio, ao passo que a detesto, com todas as forças de que sou capaz!! As v´´arias picardias de qye fi objecto,; o papel d cobaia que me fizeram eercer; o ambiente desumano , em que fui retorcido,... tudo isso repudio e vomito da alma.

Que mevai a mim que outros sejam dóceis=! Em que fui enriquecido, pela acção puritana que nem usava sequer, no falar corrente, a palavra 'amor'?! Que é o que eu lucrei, de outros serem ingénuos?! Em que fui contemplado, aplicando a mim os ditames odiosos, que me destruíram?!

A personalidade vi ei eu esfacelada, já trdiamente, quando era impossíveln remediar a situação=!
O meu estino de homem foi destroçado barbaramente, por quem abusou da sua autoridade, tornando-me infeliz!
Que podem mais que eu esses raros portentos que se arrogam poderes e coonsideram árbitros?!

O tubo digestivo é igual em todos, na enrada e na saída que,
naturalmente deve ser mal cheirosa!

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Manteigas
1970-07-02
Vai cardar a Melo, que lá dão adiantado. Fizeste um trabalho como a tua cara! Ai! Faz uma companhia que é muito linda!
Uma coisa é ver, outra dizer! É como o vidro! Oh! Aquilo é pólvora!
Ferver em pouca águaQ! Venha o Diabo e escolha! De um mau ninho sai um bom passarinho! Adeus mundo, cada vez pior! A mulher é o céu deste mundo! E a mãe é o sol deste céu!

Andar no pilha! Estás-me a gozar! Servir de pau de cabeleira.
Não ter dois dedos de testa! Ter uma aduela a menos! Pelo nome não perde! Filho de peixe sabe nadar. Pede como cego! É um cego a conduzir outro. A união faz a força!. A vida está presa por um fio de lã podre! Foi por um triz! Por um triz não caí!Por pouco, não fui ao fundo! Conseguir uma coisa por 10 réis de mel coado!

Não estar para amar! Passar entre Cila e Caribdes. Com a espada da Damoccles suspensa! Não ter eira nem beira nem pé de figueira!
Ter um bom pé de meia, no canto do baú É uma arca fechada!. Andar com arcas encoiradsa!! (encobrir). Ele há-de saber quem eu
sou!
Ter a vida segura por um cabelo! Afinar pelo mesmo diapasão Ir à serra por pouco!! Ainar o jogo por alguém. Fazer-se rogado! Não ser de cerimóni! Ser tudo para todos.Cada qual com seu igual! Cada ovelha com sua parelha! Quando naasce um sapo, nasce uma sapa. Quem a boa árvore se chega, boa sombra o cobre.

Quem bom á bom fica! Ama e faz o que quiseres ( Santo Agostinho.Quem com Deus anda Deus o ajuda!

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Manteigas
1970-07-o3
Paga o que dever e sab erás o que te fica! Andar de cabeça levanada. Andar de nariz no ar. Andar à saquita. Andar à ra rasca..Vender gato por lebre. Passar o conto do Vigário. Fazer
estrangeirinhas. Fazer-sw de mel e ser comido pelas moscas.
Se queres um amigo, dá-lhe uma sova. Se queres um inimigo, prejudica-o nos interesses. Quem o ganha a cantar, cedo fica a chorar.
Fazer-se importante. Fazer-se desentendido. Fazer-se arteiro. Fazer-se engraçado.Fazer-se atrevido. Fazer-se importuno.
Fazer-se ingénuo. Fazer-se mosca morta.Fazer-se papa-açorda
Fazer-se janota. Fazer-se archipante. Fazer-se tarola. Fazer-se burrinho. Fazer-se rico. Fazer-se de novas. Fazer-se modesto. Fazer-se sabedor. Cobiçar o alheio. Malhar em centeio verde.
Bater em ferro frio. Nao fazer boa liga. Hoje não se fia. A sogra e
o furão só dão lucro debaixo do chão.A mim não me enganas tu!

Quando tu nasceste, já eu cá andava! Quando tu nasceste, já eu comia pão! Ainda há-de vir o primeiro! Querias tu meter-me as mãos nos bolsos?! Ir buscar lã e ficar tosquiado! Dar com o nariz na na porta.Dar com a porta na cara a alguém. Andar de beiça ca´da. Andar embeiçado. Ser bicudo! Andar de trombas caídas. Andar
de trombas. Andar intrigado. Meter a viols no saco. Ser como
viola em enterro!.Quem tem unhas é que toca viola! Quem ma avisa sa meu amigo é Correr atràs de foguetes!.

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Manteigas
1970-07-04 Linguagem de Mercado

Intempestiva e desassombrada, ela surge fluente como água inquinada, que não brota da rocha. Ningúém vise alterar as praxes antigas Era tempo mal gasto... vocabulário perdido! Aquilo, na verdade, é ritual taxativo! Há-de seguir-se a impressão do momento que rompe forçoso, escabreado, violento, como as circunstâncias ali impõem.
É a linguagem do próprio carroceiro, harto agressiva e desmesurada, mas a única adaptada e capaz de fazer mossa!
Julgo não errar, dizendo a propósito, que, nem assim, o público se move!
Foi hoje na Praça. A tia S, Pedra tinha figos à venda.Tenho para mim que lhes chamam 'lambazes'. São eles grandes, de pele escurecida, com largas aberturas. É precisamente o que os faz cobiçados. A vasta clientela devora-os com os olhos e pretende amassá-los, de mãos consporcadas. À volta deles, enxameiam curiosas e bem interessadas, muleres e crianças, espiando atitudes e inquirindo já, sobre os novos preços..

Foi, na verdade, em um destes momentos que a tia S Pedra,
exasperada, com muita raão, e cheiinha de zelo, irrompeu furiosa em palavras descompostas, que fizeram rir uns e pasmar outros.:"
"Aqui não mexem com as patas!"
Dêmos para já que esta linguagem não é modelar!
" Nem a mais pintada! Vão mexer na p, quw os p. !"
Como vemos, o estilo é o mesmo! Se não é corrente nem tem suavidade, ele é expressivo,de tipo repentista, e assaz agitado!
Atendendo somente à causa motora, dão-lhe razão. E a tia Sampedra exulta de júbilo, porque defende, ao mesmo tempo, interesses próprios bem como os alheios!

É o que exprimimos da seguinte maneira: com um só tiro. matar dois coelhos!
Esta cena que aliás é banal, por ser repetida, revela, a fundo. o atraso social e a falta de civismo de alguns serranos. Não têm pejo de manchar os figos, atraindo a ira e provocando, ,simultaneamente,doestos e motejos.Palpar os frutos, virá-los bem e revirá-los, deixando ali estampado o selo pessoal e ani-higiénico, enche-os de orgulho. Tudo isso é nada nem conta na vida! Levar depois os dedos ao nariz emporcalhdo ,gera prazer e é filho do hábito

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, Manteigas
1970-07-05 Festa anual de Santa Isabel, da Hungria.
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.Se não erro muito, era ainda tia da nossa rainha, de nome igual.
A homilia é planeada, segundo as leituras, através das quais domina o seguinte: interesse de Deus pela nossa ventura
Nesta mira, o Senhor do Céu é chamado O Altíssimo e, às vezes O Terrível, convidando a vivermos, no temor de Deus.

A oração da Missa alude claramente à infalibilidade, no tocante, já se vê, aos planos de Deus.
Por sua vez, a Epístola convida a sermos puros, já que a impureza
conduz ao inferno.
Por sua parte, o Evangelho exorta a fugirmos dos falsos profetas que, por modos gentis e maneiras suaves (vestidos com pele de ovelhas) se apresentam a nós,, como arautos da verdade
e modelos perfeitos de santidade.

Ve-se, pois, sem dúvida, que a ideia- mestra é o zelo de Deus pela salvação de todos os homens.
Em obediência a tal desígnio, revela-se um Deus como Juiz; exorta-nos de pronto a aceitar a acção da Divina Providência, que nos orienta na vida; ; pede também que sejamos puros, e ganhemos o Céu; roge instantemente que fujamos sempre das más companhias, para que não fallhe o alto plano de santidade.

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Manteigas
1970-07-06
Eram 10 e 30, quando fui ao Colégio, no intuito de ajudar o 5º ano de Letras, nas seguintes matérias. Português e
Inglês, e também, Francês. Rebera, pouco antes. o convite para isso. O nosso João Clara, secretário-ajudante., aviaara-me já, comunicando o que dissera o Director do Externato

Eu , realmente, já estva de sobreaviso, pois o Tó Manuel e o João: Adelino havam-me pevenido. Apesar de tudo quis marcar presença, mostrando assim que não fujo nunca às minhas obrigações
O que sucedeu é já bem notório,, pois só tive 'cavaco' na Secretaria, fazendo correr o tempo e criando e criando apetite para um belo almoço! É um regalo chegar a esta altura!

Saturado enormemente de aulas e exercícios, é com alvoroço e alegria incontida que vemos aproximarem-se as férias desejadas!
Aquilo enerva e até indispõe!pre o mesmo, invariavelmente! Chega, por vezes, a fazer enjoo!, Tabpmbém não faz mal a referida atitude,
visto que eu sei muito bem estrem habilitados!

Os que não estão vão agora preparar-se?! O 5º ano é feito de vários elos. Se algum faltar, adeus exames... adeus resultados, que encham de alegria! Tudo pass a na vida e o que mais seama é que foge mais veloz! Em contrapartida, o que se deselja é o que menos se alcança!
\Aguardemos então os nossos resultados! Não serão de assusar!, Mas há-de haver pior!
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Manteigas
1970-07-07 Sabedria Popular

Santos de casa não fazem milagres! O casamento e a mortalha no Céu se talha. Duro com duro não se faz bom muro!Fazer de um argueiro cavaleiro. É melhor ser aguilhão que boi. Mais vale ser deseado que aborrecido. Não há rosas sem espinhos. Quem se queixa alhos come. Se o mal não dobra galinha não prova. Nem todos podem ser iguais! Saber levar a água ao seu moinho! Uma coisa é dizer, outra fazer! Sair da lama e meter-se no atoleiro
Quem com ferros mata com ferros morre. Nao se devem acordar as moscas que estão a dormir Quem anda à chuva molha-se. Ninguém foge ao seu destino! O que o berço dá a morte lho leva. Chegar-se o ouro para o tesour o. Erva ruim não a queima a geada. Um d edo não az a mão!; uma andorinha não faz o Verão!
Com as glórias perdem-se as memórias. Quem tem vergonha anda magro.
Trabalho bem começado é meio acabado! Brincadeiras de mãos nunca acabam bem! Mocidade ociosa, velhice vergonhosa! A
cada dia dá Deus a dor e a alegria. A ocasião faz o ladrão!. Gastar cera com ruins defuntos
Antes burro vivo qe sábio morto! Quando nasce o Sol é para todos! Vozes de burro não chegam ao Céu! Casamento, apartamento! Quem quer casar quer casa. Quem tem maleza tudo lhe dá nela! Palavra de rei não volta atrás! Vale mais o pior arranjo que a melhor demanda! A medida de amar a Deus é amá-lO sem madida!
Casa, minha casinha, merda pró rei e mais prá rainha! Nem lá vai nem faz falta!Andar no mundo, por ver andar os outros! Dar por paus e por pedras! Chover a potes! Estar frio 'cuma' burro! Corria que se desunhava! Até os olhos se lhe riam! Fizeste um serviço como a tua cara! Beber chá em pequeno. Mamara educaão.
Ter unhas de fome! Só ter pele e osso! A vida são dois dias! Não vare a pena afligir!Por dois dias que a gente cá anda! Se não fossei porquê!... Andar de ponto em branco!

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Manteigas
1970-07-08
Aos poucos, faz a ave o seu ninho! Os bons livros são os melhores amigos,. Um lugar para cada coisa e cada coisa no seu luga.r no seu lugar.O diabo não é tão feio como o pintam! É bom estar sempre preso a duas amarras.Pedra que rebola não cria musgo! Roma e Pavia não se fizeram num dia. Meter o Rossio na Betesga!
Tantas vezes vai o cântaro à fonte, até que láfica!. Há males que vêm por bens. Dar às de Vila Diogo! Uma pequena faúlha pode originar um grande incêndio. Ter liberdade completa. Ser livre como a ave. O homem propõe e Deus dispõe. O mal vem às braçadas e sai às polegadas. Uns comem os figos e a outros rebentam os beiços.
Uns fazem-nas, outros pagam-nas. Cá se fazem, cá se pagam. Quem as faz paga-as. Num lado se põe o ramo, noutro se vende o vinho. Sem dinheiro, nada se faz. Cada qual come do que gosta.
Cada passarinho gosta do seu ninho. De noite, todos os gatos são pardos!. Comer adiantado. O sono é meio sustento. A legra-te, cesto, que vais à vindima. Quando nasce um sapo, nasce uma sapa.
É preciso mahar o ferro, enquanto está quente.Enquanto pau dá a casca é que se lhe tira. Casa, onde não há pão, todos ralham e nenhum tem razão! Governa Maria, em caa vazia. Sem trabalho, nada se consegue. Quem boa semente deita à terra bom grão colhe. Não há bela sem senão! Patrão fora, dia santo na loja. A fome é ruim conselheira. É um lorpa consumado!. Despedir-se à francesa!
Cesteiro que faz um cesto faz um cento!. O caminho é para a frente!. Não se pode prometer mais do que se pode dar. Quem adiante nãolha atrás torna. É chover no molhado! Cheirar ao pinho do caixão.
O peixe come-se por via do tempero. Estar a dar a alma ao Criador.Dar bilha de leite por pote de azeite! Ter a subsistência assegurada. O aceio e a higiene são os dois melhores médicos.

Em casa de ferreiro, espeto de pau!. Depois de casa roubada, trancas à porta! Construir sobre areia. Quem parte velho paga novo.
Usa w earás mestre! Dar com o nariz na porta!. De uma caada, matar dois coelhos.

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Manteigas
1970-07.-09
Ando zangado, mas sem razão ou talvez melhor,
por motivos pessoais. Se a caua é íntima, por que não debelá-la?!. Desta maneira, surgiria a paz e a serenidade. Entretanto, não .
decdo.
Prefiro estimular aquilo que é morno fazendo surgir denso temporal! Aspirações íntimas, desejos secretos que não têm saída
nem realização ... pens amentos inúmeros que não foram sensatos,, tudo isto se côa, no peito em chaga.

E eu fico impotente, finando-me angustiado, às portas d a ventura! Ela acena-me então, mofando da minha ânsia, e rindona bom rir, de tanta ingenuidade.
Sofro e gemo, descoroçoo. Efectivamente, isto assim é tormento, deveras insuperável! Querer e não poder!.Sonhar com o óptimo e ficar logrado, cabendo-me o péssimo! Desilusões é só o que eu tenho... em número tao grande,que lhe perdi o conto

Mas, por que hei-de ser eu o verdugo de mim próprio?"
Continuare,i para sempre, este jogo sem graça?! Dominasse algum dia, meus desejos veementes.... fosse eu moderado, tudo era diferente! Mas não! Quero tudo em largueza, sem peso nem ms«edida,. Além disso, é um desejo aliciante, profundo e intenso.

Como vou satisfazzê-lo, sendo eu impotente?! Já não, falta a experiência , que é mestra da vida! A quem tomo por norma? A quem busco eu pois, ou emtão a que aspiro, neste mundo cruel?!
Vai tão alta a ventura, que não posso alcançá-la!

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Manteigas
1970-07-10
Mais una vez o circuito de sempre: Manteigas , Pousada e, por fim, Gouveia; Celor ico da Beira, Guarda e Manteigas. É-me grato o percurso, pelo mero facto de havê-lo feito
na companhia amável de minha santa mãe, quando era tão feliz!

Sinto-me ali outro,, julgando, às vezes, que as pedras me falam, os rochedos me saúdam e tudo quanto vejo sorri para mim!
Ouço vozes misteriosas, que deleitam meus ouvidos; imagino diálogos, travad os entre seres que muito se amam; vejo até pairar
belos vultos queridos, que nem a mesma eternidade consegue desvanecer!
Ali, sou bem diferente, pois me sinto remoçar e a minha alma canta, enlead a e feliz.Gostaria de ficar, meditando e revivendo,
enquanto o meu coração, em fundo alvoroço, havia de ser ditoso!

Quem me der a viver lá, recordando o passado, na ânsia ardente de encontrar-me com alguém!! No silêncio pessado que a minha alma envolve, há um mundo ruidoso, com vida e alegria.
O que é mau e importuno logo foge paara longe, erguendo-se, à minha volta um perfume inebriante! Que doces harmonias, ..suaves canções, inolvidáveis sorrisos, a embalar a minha alma,
ador mentando a dor!

Oásis ameno, pois logo o prazer me visita diligente, sem quebra nem pranto! Cono pude abandonar-te, descendo à liça)!
Aqui onde morro, sem esperança de vida, redobra o n
meu mal, e ninguém ma vem â mão!. Não fora a luta ingente que a vida me inpõe, contigo ficaria, tão querida e amada!,

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Manteigas
1970-07-11
A pós um dia que fica inesquecível, de novo cá em baixo, onde tudo me falta. O próprio ar se inclui, Sinto, na verdadr, o peito constrangido... a alma cansada! Não me dou, cá no fundo, orque amo as alturas,onde, em que tudo é mais puro.

Se há feras na serra, em nada me perturbam.
Eu adoro a montanha,,e, de igual modo seu cortejo lizido,em que entra a solidão, com o silêncio por noivo.. Esta defesa é escassa, para formar um cortejo, mas lá vão acompanhando mil vultos indistintos.
E eu sigo com eles, animado e jubiloso,, esquecendo os dissabres e olvidando tudo o mais..

Até mesmo cá em baixo, onde tudo se agita, numa lida insana, que nos força ao movimento, eu sonho e deliro, alheando-me de tudo.

Somente ao acordar, é que noto, de facto, a minha presença, irreal e vazia: um corpo sem alma, vida fictícia... pois o mundo é outro, lá perto daas nuvens! Um mundo bem difrrente, onde tudo é amor... donde foi repelida a intriga soez, que dana as coisas!

Sinto espinhos a cravar-no cerna de meus pés, já tão doloridos e, enquanto eu grito e me vou debatendo, ninguém, que eu saiba, ouve o meu lamento! Vou-me estorcendo, com dores audas, rebolando e gemendo, mas tudo em vão! Ao passo que a vida se
vai finando. remédio não há!
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Manteigas
1970-07-12 Como o povo sente

Se maior fosse o dia, maior a romaria! Cada mocho a seu soito! Casa de pais, escola de filhos! É o pai ingerido! Quem sai aos seus não erra! Filho de peixe sabe nadar. De um bom ninho sai ruim passarinho!. Árvore boa dá bons frutos. As obras estão de harmonia com a pessoa.. Arvore má dã maus frutos. A ofensa é anto maior quanto maior for a dignidade da pessoa. Quem não tem vergonha to do o mundo é seu. A ofensa é tanto menor quanto menor for a dignidade sa pessoa. Quen não tem barba não tem vergonha. Palavras leva-as o vento. Não te fies em lérias! Quem se
mete por atalhos nunca lhe faltam trabalhos!. Quem vai à volta, vai a casa. Só morre quem Deus quer. Não há semente mais grada que a língua Livra-te da sogra que eu te livvrarei do diabo!

Isso fia finoQ! E le não dá ponto sem nó! Já tem pano para mangas!! Custou-me os olhos da cara! Quero-lhe coco à pupila dos olhs! Pôr-se na alheta! Dar às de Vila Diogo!Cavar terra para trigo
Fazer das tripas coração. Não ser capaz de partir um pratot. Quem
muito abarca pouco aperta! Tenho das que o diabo enjeita! Quem
não é na eira não é na Beira. Para grandes males grandes remédios!
A mulher sem pôr o pé faz pegada! Tão pecado é roubá-lo como deixá-lo ir. Deus quando cria uma alma quebra a forma!
Os olhos dizem o que se
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Manteigas
1970-07-13
Foi ant<viva e colorida, que não esquece jamais,.
Desta vez, queria a regateira impingir uns abrunhos que, por modo nenhum, chamavam a atenção.
Ela, porém, tem que viver, o que lhe aguça o engenho e faz, por vezes, colorir o fraseado
" Uma lavagem às tripas! Quem quer lavar as tripas?! Não andes sujo, meu povo! Quem comer disto c. mais m.. por toda a parte!"
Os abrunhos, no entanto, continuavam no cesto, enquanto se doía o c.oração da pobre vendedeira!
" Não andes sujo, meu povo"
E a voz da regateira vaia assim reboando, nos ares da Praça, enquanto longe e perto se cruzam olhares de inteligência! Quem não d
esejar tal arranho nos ouvidos, procure afastar-se!
Os modos gentis e as palavras discretas não é ali que devemos procurá-los! O que nos cativa, pela beleza moral não
existe ali! O normal ambiente de nontanhas carregadas, em que as rochas seculares, estadeiam negrume e esvurmam rancor são moldes apropriadod a feitios agressivos. Por outro lado a falta de higiene proporciona vasto campo, adverso também à higiene mental...
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Manteigas
1970-07-14
Ocorreu ontem, precisamente, a seguir ao almoço
Fazia diligências, para sair do Patronato Nov, quando vozes ikfantis,disputavam dprimazias, dizendo, com insistêmsia: A mim, a mim!
Que havia de ser?! Um esgrouviado, leve e careca, sustentava amoroso a filhita nos braços,, dando-a a beijar àquelas petizes,

Enterneci-me com este quadr.
Averiguando memlhor, fiquei então sabendo que a mãe jogara a vida ao p^-la neste mundo. Ficou esta bebé, sem a granda amiga,
a partir daquela hora.mas, ao que sei, Deus lhe guarde o pai que é
doido por ela!
Trazia-a nos braços,eliz,enternecido, fazendo trejeitos que
davam logo para cismar!.,Observei-o da sacada, e confes,o à puridade, que não foi possível conter as lágrimas, naquela hora!

Uma cena delirante! Um quadro patético!
Juntino ao peito, abroquelada ainda por braços vigorosos. a inocentinha nada temia!. Estava escudada pelo grande amor do paizinho afectuosos que é tudo para ela.

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Manteigas
197'0-07-15
A Gata
É, não haja dúvida, uma obra notável que a famosa escritora, de nome Collette. legou à nossa época! Dizem e porfiam que se trata, arugorn de uma obra-prima. e, se realmente o fazem, é porque acham motivo.

Eu, porém, tendo embora em conta a opinião da crítica,, navego noutreas água. É ortgtnall, isso não contsto, na medida em que apresenta factos, inespe rados,, bem fora da expectativa. Com efeito, assemelha-se, em parte,, a Steinbeck dos Estados Unidos
Sensibilidade, exagerada em extrmo, que se encaminha, já desvirtuada num sentido condenável - os animais.
Como é aceitável que uma simples gata prenda mais o ser humano do que uma mulher?! Já se varreu o juízo da cabeça hunana? Que pode fazer uma simples gata, cujo mundo restrito e de nível inferior fica tão distante do mundo racional?!

Tanbém não acho nada verosímil que este animal ou outro qualquer pudesse ocasionar o divórcio do casal! Concordedem ou não, é ponto assente que uma tese qualquer tem de ser verosímil
Seria tudo isto fruto de corrupção)! Exprime a dita obra esse estado de coisas?.
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Manteigas
1970-07-15 Queda de um Anjo
O imortal Camilo é sempre avantajado em suas concepções. Com olhar de lince, no romance passional, apresenta ele enormes desvarios,em que geme o boração, debatendo-se impotente, nas vascas da agonia.

Calisto sossobrou.. Nem isso admira, pois Santo Agostinho viu cair, no seu tempo, cedros do Líbano! O que está de pé não tem estabilidade, podendo acontecer o que menos se espera! O normal, no homem viajor, não éimutável! Só Deus o é!
O credo político de Calisto Elói mudou-se a breve trecho, abjurando logo de suas crenças. Assim também a maneira de ver, quanto à moralidade.

A virtude sólida pode, efectivamente, retardar a queda mas tanas vezes, por falta de prudência, oração frequente e correspondência à graça de Deus, que respeita a liberdade, não vai impedi-la. O homem, sucede anuúde, é vítima fácil de graves preconceitos e do mesmo ambiente. em que viu a luz; adquire, sm pensa, hábitos postiços,, aos quais obedece maquinalmente.

Um dia, porém, abrem-se os olhos, ficando então em plena luz! Nessa hora exacta, repudia tudo e verbera a todos, condenando, inexorável, os que armaram em oráculos e severos patrões!
Só Deus é patrão e Senhor de tudo!

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Manteigas
1970-07-17
Anunciaram, pela Radio que as Provas Escritas do 5º ano vão ser repetidas. A notícia alarmante veio de Lisboa, qual raio infando que a todos fulminou! Nunca se vira tal nem era de esperar! Outra solução, mas esta, nunca! Desta maneira, é o justo quem paga aquilo que não fez!",

Ainda se os inocentes fossem poucos! A impressão, no entanto, é de modo contrário! Afugura-se. porém, injusta e danosa,
enquanto aborrecida e assaz condenável Efectivamente, quem paga o mal é aquele que o não faz. Não se aplicando este mesmo princípio, vai medrar a maldade e incutir novo ânimo

Daí, pois, tanta apreensão, e tamaaho desconsolo! Seria difícil ajustar alguma vez, arranjo equitativo, a contento de todos.
O certo, porém, é que esta solução desagrada, altamente! São
milhares de inocentes , enquanto os rapinadores hão-de ser provavelmente, grande minoria!

Acrescentemos a isto as despesas dobradas, o olvido da matéria e mais aquilo que não se diz!,
Aguardamos, confiadosm mas a coisa é bem séria!,.

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Manteigas
1970-07-18
A prefiguração , quando aplicada, é lição magistral, que nos obriga a pensar. Foi o que hoje sucedeu, na cidade sanchina.
Um colega meu, bastante mais velho, - atribuí-lhe 80 anos ou coisa que o valha, entrou açodado na C.G.D, precisamente, à hora, em que ali me encontrava
Eu trajava à paisana, enquanto ele, insensível ao calor, envergana sereno, trajo clerical. Devo ser franco. Eu não aguento . o preto retinto, o cabeção molesto e o casaco enorme, cuja extremidade ia abaixo do joelho davam-lhe ali um ar patriarcal.
Em tempos idos, seria talvez, olhado com respeito, vendo na pessoa o homem de Deus, o pastor zeloso e amante das almas.
Hoje, entrou ali como um de tantos, e os seus modos graves ,o ar patriarcal e a sisudez, quase inalterável que se evolavam da fronte veneranda não chamaram a atenção!

Se alguém, por acaso, olhou para ele, foi para troçar. embora a neve, instalada na cabeça. exigisse, de facto, maior sensatez.
Pediu um impresso, estando a preenchê-lo, cerca de uma hora! O que faz a velhice!.

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Manteigas
1970-07-19
Faz hoje 10 anos que fui Europa fora, com rumo à Suiíça. Por ali me gsstei, durante 15 dias ou coisa que o valha
qual devoto peregrino, preso da luz e das belas paisagens. E de sonho real esse exíguo país,! Quem uma vez lhe sentiu o fascínio
jamis o olvida!.
jamais o esquece!! Há 5 anos, voltei a passar, quando vinha da Bélgica. Assim matei as saudades!. Entretanto, foi de relance e fora de ocasião,.Na verdade, o mês de Setembro vela, em grande parte, o encanto das momtanhas e a magia dos lsgos!
Era quase ao Sol-pôr!
Em Lausanne, junto do Léman, que dara extasiado, para rever,me, nesse espelho, todo ele de cristal, fogo e ouro, àquela hora de suave melancolia!
Bem olhei eu, mas, infelizmente, o avanço da estação operara
o desencanto, Em Julho, sim, há-de procurar--se aquilo queu, em Setembro, deixa de existir: o remanso deleitoso, cuja edénica beleza não tem rival! Espero voltar, logo que possa, afim de saciar-me, de meu vagar, no cantinho ideal, onde pode viver-se em plenitude.
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Manteigas
1970-07-20
Primeira aula de uma série chata e inesperada..
Quem pensaria num esforço igual, nesta época do ano?!
Era costume, sim, ver quase ultimadas as Provas Orais do 5º ano, já finalista. Agora, porém, vão ter início as Provas Escritas, pela segunda vez, a 27 de Julho.

Quantas angústias, anichadas no peito! Quantos suspiros, já estrangulados, na própria garganta, onde ficam retidos por amargura sem par?!
Há, pois, que dar aulas, quando lembram as férias, além de banir imveterados hábitos. Falece o ânimo...destrói-se o alento, foge a bonomia! É um tempo ingrato que decorre forçado, não havendo maneira que o torne aceitável!
Que fazer, pois, nesta conjuntura?!Cumprir o dever? Satisfazer vontades alheias?!

Não estava ele já bem cumprido?!
Quando o homem se esgota, lançando à terra a semente promissora, numa luta persistente, que nem tréguas admite, chega estafado ao fim da carreira! Não lhe peçam mais nada! Impotente já e deveras exausto,, são logo baldados todos os esforços, para leccionar com sério proveito!
Assim eu me encontro, à data presente, Lutar, sem coragem, presenciar desinteresse, observar pasmaceira, quando não algum tédio, eis o que espera o infeliz professor
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\\\\Manteiigasas
1970-07-21
As Provas Escritas haviam terminado.

Subira a encosta, a poder de sacrifício, encontrando-me agora, no cume da montanha. Olho deslumbrado, pela vasta serra espraiando-se a vista, em, zonas sem fim. O ar é mais puro e o céu aveludado, fica mais perto; o peito desoprime-se... o coração alvoroça~se!

Como é agradável saborear o fruto de imensa dor, no remanso da serra,que encanta e seduz! Mágico sonho de horas, sem fim! Castelos áureos de fadas amigas... tudo, enfim, é como realidade! E eu, agora, senhor de tais domínios

Correram bastante bem as minhas Provas Escritas!: Senti-me feliz e assz corajoso!
Sem temer o futuro, eu cantava satisfeito! Medir-se algém comigo não podia imaginá-lo,
porque eu trazia no peito o fermento da grandeza! T Antes ser o que sou que ver-me algum dia rei idolatrado! Se tudo vinha a contento, que restava fazer?!

Arroubado e feliz, estava desfrutando minha grande ventura, quando olho à minha volta e , choroso, me apercebo de vendaval destruidor! Que se tinha passado?! Eram nulas as Provas e deviam repetir-se!

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Manteigas
1970-07-22
Tarde quente de Julho!
Que havia de e sperar-se?! Não é este, por ventura, o mais quente dos meses?!
Apesar de tudo, fui ao Externato. O Director pedira e, como ignoro a palavra 'não'
resolvi-me de vez, Pensava direito. Em circunstâncias destas, é criminoso abandonar
os alunos!
Um mês de esquecimento; nervosismo irritante; insegurança nos Pontos... enfim,
um somatório enorme,,apto, na verdade, a fazer cismar quem se tem por valente!! Não
devia hesitar. Ajidar os mais fracos... pred tar auxílio eficaz aos que estão amargurados
e se jujulgam inseguros afigurava-se logo obra meritória!

Quanto mais agradável não havia de ser dormir, em vez disso, uma boa sexta! Mas não! O dever a cumprir não admite subterfúgios! Ponho-me logo a andar, sob a intena canícola, fazendo assim caras ao Externato da vila. De vez em quando, olho suspeitoso,,
na mira de ver alguém que leve o msmo rumo. Nem vivama! Já teriam chegado?! Fazia a
pergunta aos meus botões!

Estugo o passo e qual o meu espanto, ao ver a testada, sem um único aluno!
Entro pressuroso e, bemnão tinha chegado, em frente da sala, já via escancarada a porta da aula. Nem um sinal que denotasse presença de alunos ou aluas!,
Havia, sim, outos que não eram estudantes: o carpinteiro. mulher a dias e o amigo João Clara, cuja voz ecoava por todo o Cinásio, Aguardo uns momentos, para avistar-me
com ele
Interrogado,, mostra-se desgostoso. alegando sincero que eu tinh cumprido. e que wea assim porque não precisavam! Lá era com eles! No f undo, acabei ali por lhs dar razão, sem deixar de lamentar a minha ingenuiddade-

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Manteigas
1970-07-23
Oito horas e trinta.

Desta varanda que o Sol já beija,, agora de manhã, contemplo, admirado os utentes da via. Cada um deles vai ao seu mister, pois é forçoso cumprir o dever! De todos, porém, os que mais se afadigam, hão-de ser, na verdade, os alunos do Colégio.Agora um, logo outro, ei-los a caminho do nosso Externato.

Vão pensativos, alheados até, uma vdez que a História é mestra da vida. .
Levam a cabeça cheia de Matemática. pois que, relmente, não é e brincadeirass!
Demais, a ocorrência do passado próximo. é boa lição, que não esquece jamais!
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Cataclismo verdadeiro, que não deixa ilusões! Ruir estrondeante, que oõe não raro, os cabelos em pé!! Desmoronar global, dum sonho tão amado!
Quantas canser as e aulas a mais, As próprias férias se vão desentranhando em sabedoria!
Não admira, pois, que os pobres alunos se encaminhem desejosos , à fonte da Ciência! Só Matemática e Física, por igual O oresto é morto... nem conta na vida!
Redundará em glória para os outros professores=! Será este, de facto. o reconecinto da sua compe tència?! ou haverá, no caso, manhos a insibuação, que deu os seus frutos?!

A malícia humana é muito industriosa, e os seus recuros não têm limites!
A experiência da vida ensina todo homem a não cobfiar, seja em quem fr-
Deus, é claro, merece confiança!. O homem é mistério!
Quuanto mais autoridade ou recursos humanos tiver por si, mais é de gttemer!!
Os alunos lá foram! Só dois faziam par: o João e a Margarida-

Cupido não dorme e faz sementeira nos peitos juvenis! Que lhe importam exames e negras apreesões=! É senhor e manda, não esperando jamamis o tempo conveiente!

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Manteigas
1970-07-24 Últimas aulas do ano lectivo.

Decorrem pesadas, ao jeito de um fardo., que se leva sem gosto, O relógio depulso consuulta-se amiúde, sinal evidente de que o tempo não passa..Quando se ama, é de ver os ponteiros gir arem velozes, lamentando-se em vão que tal aconteça!
Os nossos olhos vão-se furtivos, e, a cada mirada , é um golpe certeiro, que nos atinge no peito.
Em contrapartida, se algo aborrece,esse, fora nosso desejo que o fim não tardasse!
Boce jos frequentes que nem disfarce admitem já; contorções de corpo, que não acha repouso; esgares amiudados que infundem pavor! Enfim, um cortejo longo, que apavora sempre e deslustra avida.!

Eu próprio o senti, depois de observá-lo. Q ueria reter a boca, mas era em vão que o fazia!; inte rrogava o rlógio. pensando enganar-me!
O Machado então era em tudo o primeiro.. Até cheguei a pensar que m me levasse vantagem, no acto de bcejar! Explicá-lo não sei. Aluno impreparado, não era de esperar
atitude semelhante! Mas não! Seria o tabaco a pressar-he os registos?! O que sei, porque vi, é que os olhos inquietos corriam solícitos, pelo quadrante!
Bem se vê que o verbo querer não tem imperativo!

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Manteigas
1970-07-25 Feira do Santiago, na Covlhã.

Há tantas feiras, pelo ano adiante, que não merecem repao. Esta, porém,
quanto a mim, não é indiferente. A razão do que afirmo está bem patente , no que ela evoca, dos tempos idos: as Provas Orais, realizadas em Julho, quandu na cidade acompanhava os alunos..
O passeio da noite, após o jantar, era ponto assente que não se omitia!
Lá ia com eles, na mira dos carrinhos, que a feira de Julho trazia à cidade.
Que momentos suaves, em volta da pista, olhando os grupinhos, que sorriam ditosos- Cuipido travesso aproveitava lp logo, disparando à toa, nos jovens presentes . E eles, aturdidos, sem saberem ao certo, vagueavam com os olhos, inspirando amor.
Em volta se postavam meros especrdores, anotando, com malícia,o efeito nas almas. A sorrir, velhacamente. volvendo olhares, como alguém desiludido que a vida provara..
Mas os novos prosseguiam, qual imenso remoinho, sem ligarem a censuras nem graves reprimendas, Em vértice animado, expandiam seu amor, ansiando pela ventura, num futuro abençoado.
Oa carrinhos não esquecem, porque lembram a vida: esquecê-la não podem,que escraviza domina!
Satiago, não te esqueço, neste dia que é teu : r emoça os neus dias que a velhice molesta, já ronda a minha porta!.

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Manteigas
1970-07-26 Encontro amigo, nas Penhas Douradas

ra, na ocasião, pelas 15 horas, Os braços a escaldar, voltava pressuroso, da Lagoa de Recins, onde passara feliz umas horas agradáveis, na grata companhia de minha irmã e sobrinhos.
Amargas se tornaram, não haja dúvida,, pois o Sol intenso calara na epiderme que fiigurava pimenta!. Por esta razão, acelerava a marcha, com a mira esperançosa de suavizar um tanto aquela irritação, com um pouco de vaselina-


Eis senão quando sou to de surpresa , plois me tolhem o andar três meninas gentis que. à sombra amiga de árvore frondosa, gozavam as delícias de uma tarde amena. Houve de parar, seguindo-se então, prolongada troca de vaiadas impressões.

Não faltou, a propósito, um belo refresco, bem acompanhado. Recordámos também episódios das aulas, quando eram alunas e eu rofessor.
Folguei, de as ver com maneiras cativantes, lembrando-me o facto que a amizade sincera não morrera ainda
Efectivamente, continua a formar um esteio bem sólido, nas horas conturbadas. A Milu Serra, a Aninha e a Amelinha! Três romessas vivas , douradas, palpitantes Tr^r futuros lares,, em que a paz e a ventura vão. por certo morar!

Finalizaram, há pouco, o Curso de Magistério, com notas esplêndidas, que vão de 13 a 16, passando pelo 14!
As amargas decepções que polvilham a existência, também se afogam e abismam às vezes, rm pélago humanos,
onde reina a ventura.
Correu malhor o meu dia, pois verteram nele um pouco de bálsamo!.
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Manteigas
1970-07-27 Mais uma vez, uma boa Companhia!
Fiz o circuito Gouveia-Celorico; Guarda- Manteigas..

Este percurso desperta no meu espírita doces harmonias, que pronto arrebatam a minha alma sedenta, ficando no Céu Fizera-o em tempos, acompanhado sempre ( meu Deus, que deliro, só de o pensar!) da mais adorável e santa mulher que jamais encontrei -. minha santa mãe! É tão agradável reviver a alegria,repousando um tanto a pesada cabeça!

Quantos desenganos, cruéis e pungentes. vieram anichaar-se no peito amargurado, onde reinara somente ilusão e pacatez! Desilusões tremendas, pungentes decepções foi o pão amargo que o diabo amassou, para ferir-me a alma e fazê-la agonizar!

Tantos carinhos, no suave aconchego do lar saudoso, para logo, em seguida, tudo se alterar! Toda a alma chagada, sem ter um remanso. aonde acolher-e!
Voltar ao passado, irmanar-se com ele, sonhar uma ve mais... oh! como é belo e inexprimível, em palavras humanas! Lá fui eu, pois, grande enamorado, a olhar, recordando,,para avivar a saudade!
Uma vez na Guarda, fiz rumo ao Outeiro, procurando uma sombra, afim de comermos. Entre Pínzio e Gonçalbocas,, bem
ensombrados por velhos castanheiros, fizemos de sde logo, a vontade ao apetite. que já vinha aguilhoando.. A Gina então é que mais o sentia. O estòmago dela já recalcitrava, julgando tardia a hora esperada.
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Manteigas
1970-07-28 A morte de Salazar
Ocorreu ontem o seu passamento.. Esperava-se já.
Havia 18 meses, que a vida perigava. Apesar de tudo foi com mágoa intensa e consternação, que a nova me chegou. Q Que não morreu! Continua vivo, na memória de todos..

Somente agora é que ele penetrou , ve rdadeiramente nos umbrais da glória. É que os heróis não morrem jamais. A ele cabem, melhor que a ninguém,, no tempo de agora, as palavras do épico:" E aqueles que, por obras valorosas/ Se vão da lei da
morte libertando!
Não ttem família, (descendentes) é ver dade, mas afial a sua é maior que a de todos; a Pátria inteira que chora, desditosa, a perda irreparável de um chefe excelente!

Um povo em globo, que ele muito amou e estremeceu está agora de bruçado, em hora de dorsobre os restos mortais de quem se finou, sofrendo e lutando. Não casou!.Não teve lar.

A esposa adorada era a nação. Não gozou nada nem foi dissipador!: consumiu-se lentamente, pela grandeza e pelo bem-estar d e todos os Portugueses.
Se não surtiram, às vezes, o efeito desejado,, certas medidas, é porque nem sempre tinha a seu lado fiéis colaboradores..

Que fazer dum povo, emgrande atraso?! Foi precido disciplina, vigor e talento. Ele tudo fez, o herói imolado!. Foi homem resoluto, de uma só fé,, de um credo único, antes quebrar do que torcer".. Nesta hora amarga, ante a perda irreparável, é forçoso chorar!
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Manteigas
1970-07.29 Simões-Alfaiate

Isto lê-se na Guarda.. O seu nome já erra conhecido. ..Quando o mencionava, fazia-o com pasmo, vivo e notório, juntando logo tratar-se, a rigor, de um mestre insigne, em seu mister.
De longa data o sabia, entretanto, por não estar abonado, chegava-me atrás, não fosse eu arriscar modestas poupanças!
Desta vez, porém, quebrei os propósitos,, atirando-me de chofre.
Com efeito, inutilizar um corte de bela caxemira (pêlo de cabra, lá do Tibete) em mãos inábeis, seria para mim um desgosto sem igual. Não rondara já o metro os seus 500$00, sem lucro intermédio?! De facto, fora comprado, na fábrica Sotave. Recomendação é que não faltava!

ÉVenci, pois, a timidez: fiz das tripas coração!
Foi ontem a prova do tal sobretudo. Ademanes e trejeitos são de homem experiente, que nasceu para a arte! É que ela tem assento em profissões mecânicas!
Que seria um obreiro, canhestro e boçal?! No entanto, deixai, por um momento,que um sopro leve revolva o artefacto... e tudo mudará, como por encanto!

Estabeleceu-se, naquela cidade, onde trabalha, ha já longos anos,pois ali assentou definitivamente, em 1926. Formou dois filhos e lamenta, em extremo, haver-se ali gasto, embora o fizesse, a rogo instante de sua mãe.
Pedidos há que não se fazem ou então não devem atender-se!
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Manteigas
1970-07-30 A muralha de Almeida

Visitei-a agora, pela segunda vez., mas afirmo seguro que a imfressão gravada foi mais profunda: iria até dizer
'terrificante!'
Mercê, talvez, de maior cultura, idade e pensar, deixou-me na alma, rancor e desprezo. Bem sei, não desdigo, que estou julgando o caso, no triunal do século XX e que um juízo, deveras imparcial, em tais circunstâncias não pode ser perfeito.
Há que apreciá-lo,no tribunal do século XVIII. Apesar de tudo, a sensibilidade chega a irritar-se e o nosso peito estremece vibrando.
Lembro, nesta hora, de modo especial, as 'prisões subterrâneas ou casa-matas. Que horror de inferno! Seres humanos, criminosos embora, lançados, em vida,num abismo sem igual!
Ó meu Deus, que pensas dos homens?! Como são vis.
hediondos, asquerosos! Onde estão as entranhas, o coração e o peito?! Porque desce a crueldade a nível tão baixo?!
Ó desditosas vítimas, que braço de ferro vos arrancou da alma a semente da esperança, que Deus vos concedera?!

Falai, Jesuítas! Acusai Miguelstas! Foi sto, realmente, em noma de Deus e da Pátria amada?!

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Manteigas
1970-07-31 Almeida!

Fazcalafrios, só de imaginá-la! Como hei-de apagar, da minha alma vergada, este peso que a oprime?! Apagarei, da retina, queira eu embora, esta imagem sinistra da 'fábrica da morte'?! A mesma vilória, desmedrada e raquítica, ficou sempre abrigada, na exígua apertura da cinta granítica,!
Qual serpemte- dragão, estorcega e dilacera, devorando as entranhas e o peito ofegante! Com visos protectores, acarinha somente, para espostejar.

Que rios de dinheiro ali foram enterrados,, para fazer barreira ao que era impossível! Deter Napoleão, o general invencível e o génio da guerra! Causa pena e mete dó tanta crueldade! Esmagar um povo,humilde e táo pobre, sem luz nem liberdade! Foi ouvida a nação, para dizer que a sangrassem?!

Vinte e duas casa-matas, espaçosas, lôbregas e harto amplas, em que havia de tudo,, exceptuando a esperança!
As lajes de granito ressumbram humidade, espargindo escuridão, se é que não vertem, lágrimas tristes, ao longo da noite,Quem entrou para ali jáa ficou sepultado, alegando-se princípios que Deus não aprova.

Oh!Portadas de ferro e argolas assassinas.que diríeis vós, se pudésseis falar'?! Masmorras odiosas saídas secretas,, escadarias da morte, como eu vos detesto!,,

Que me dizes também, õ túnel odioso e deveras hediondo com 600 metos,, que levavas à jazida as vítimas infelizes?!
Só o poço da entada é que prestava serviço!Tudo o mais ali foi, na verdade, instrumento de morte!

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Vide-Entre-Vinhas
1970-08-01 Vinte e sete anos!

Remontando ao passado que a memória aviva,. quantas lembranças, deveras amargas agora me acabrunham!
Ano da graça - 1943! Finalizado que fora o Curso de Teologia,,, ordenaram-me presbítero, na capelinha do Paço Episcopal. Iniciaria depois um rumo diferente, com os bons augurios de velhos mestres.
A cerimónia realizou-se em breve, Veio seguidamente a primeira Missa, na aldeia serrana de Vide-Entre -Vinhas Isto,
afinal, ocorreu, no dia 4, em que as gentes da serra esfuziaram de alegria.
Voltando ao primeiro dia, no mês referido, efectuou-se, pois, a ordenação, com a própria singeleza de tudo quanto é grande: nenhum espavento nem pessoas gradas! O acto em si foi mais que belo, pois, na verdadeede, um ministro do Altíssimo é farol brilhante, a alumiar empre os caminhos de ste mundo!.

Ser outro Cristo! Perdoar pecados!! Transubstanciar o pão e o vinho! Levar pão e confiança a tantos desesperados como a famélicos! Grande papel! Nobre missão!.

Em mim, porém, que fui levado para a nobre tarefa,, desdourou-se o mister... goraram-se o planos... dissiparam-se igualmente as conjecturas! Terei eu culpa?! Diante de Deus, que tudo sabe, julgo ter razão! Não fui eu que ped! nem Deus me chamou!
O condicionalismo socio.económico dos primeiros anos é que esteve, realmente, na base de tudo. Em seguida, falsos princípios que hoje contesto! " Quem vem para o Seminário é para ser padre!" Quem sai do Seminário é logo traidor!"

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Vide-Entre-Vinhas
1970-o8-o2.
Reina agra o júbilo, entre os nossos meúdos.
Amanhã, verão decerto, a praia da Figieira, o que lhes faz macaquinhos no sótão escaldante..
Há dias atrás, no exame da Primária, perguntaram ao Carlitos: Que é uma estância balnear?

Coitado! Nunca vir nenhuma! Que havia de responder?!
Doravante, as coisas mudarão!, porque, na Figueira, observarão, ao vivo, episódios e paisagens, ocasionados ali pela digressão..
Fazem-se projectos, cómicos uns, in´sditos outros, Folgo
imensamente com as cenas infantis, presenciando satisfeito episódios inocentes, que me lembram o passado, em que era tão feliz!
Andam preparativos, em nossa habitação. Cada um dos presentes se esmera, a valer,, afim de granjear maior simpatia,,na mira afagante de conseguir os seus fins.. Deixemos então, que estees inocentes expandam suas almas,, pois não sabemos o que a vida lhes reserva!
Agora, são felizes no aconchego do lar, onde olhos carinhosos dardejam sobre eles. Satisfazem cabalmente aspirações e anseios, e a vida vai correndo, em brinquedos e folias!os. Mais tarde, porém, encontrarão no caminho, abrolhos e pedras que magoarão seus pés!

Desilusões e malogros, decepções,, kingratidão será, infelizmente , o cortejo medonho, em que vão desfilar!
Correrão sozinhos, à mercê da sorte, trilhando caminhos, em busca da paz! Coitados! Olhando, finalmente, o caminho andado, que dor tão grande, a ensombrar o horizonte!

Brincai, pois, inocentes,,que a vida sorri!, sem cuidados nem penas, à vista carinhosa de quem vos ama!

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Em Viagem
1970-08-03 Desta vez, à Figueira da Foz! Vou satisfeito!: levo comigo as pessoas que amo: irmã e sobrinhos. Dos seis que viajamos, apenas eu conheço a Figueira e a praia respectiva. Os cinco restantes desconhecem, afiinal, uma estância rara, das miais famosas que o mundo admira!

Vão partir ansiosos e cheios, todos eles, de curiosidade, uma vez que , nascidos em Angola,, desconhecem os meúdos o Portugal da metrópole. Aguardo com interesse o esfuziar de alegria, que vai desbordar em vivas exclamações, ao verem a baía que penetra em Buarcos.

O mais pequenino - o Isaías - .é quem exige maior veloidade. Não tolera, jamais que alguém ultrapasse e todo se enerva, quando isso acontece. Em contrapartida, se nota o contrário, é de vê-lo risonho, apoiando o meu acto e fazendo carícias!

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Figueira da Foz
1970.08-04
Cá estamos, por Deus, na praia almejada!
Como é grandiosa, soberba e fidalga,ostentando orgulhosa o brasão que a enobrece! Céu azul, imaculado! Extenso areal, a perder de vista! Águas mansinhas, a fazer negaças aos pequerruchos,!
Foi no passado! Quantos sonhos de império geraste criador, Oceano Atlântico! Aqui, desta praia, vejo-te imponente,
infundindo terror a ousados navegantes.
Foste cruel, bastíssimas vezes, mas perdeste o erreganho, ante a ousadia dum povo imortal, que desvendou teus íntimos segredos!
Ficaste vencido e, por ieste processo, receios e horrores,,, tudo se afastou! Espantalho da vida, converteram-te os Lusos em caminho de glória! É por isso que agora, vens num pronto, cordial e mansinho, beijar os nossos pés!
Eu te bendigo, Mar de humilhação, tormento e glória!,

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Figueira
1970-08-05 Travessa da Medalha

!Desemboco ali e fico deslumbrado! À minha frente, de senrola-se agora, a praia majestosa da Figueira da Foz, a qual não tem meças com outra qualquer, Percorro extasiado a enorme extensão e fico-me preso, não sabendo agora como é feita a ligação. entre o Maar e o Céu

Eis senão quando se me oferece à vista , ensombrado por um olmo,, um quadro singelo e quase bucólico: um senhor de meia idade e aspecto bondoso, espelhada no rosto a paixão do belo, fazia deslizar mágico pincel, sobre a tela receptiva, fazendo obra-prima, para acrescentar a muitas outras.

Olhava, constante, ao perto e ao longe,, devassando alhedo, os elementos belos qe o seu fino gosto descobria, num ápice.

Os veraneantes passavam juntinhol lançando curiosos,, olhares indiscretos, já sobre o pintor, já sobre o quadro. Também eu me associe admiro a arte e aprecio o belo, Tive-me ali,, não sei por quanto tempo, enleado e feliz, pois se tratava, efectivamente, de um amigo sincero - o Pafre Nunes Pereira, .cuja fama se estende a Portugal inteiro.

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Regresso da Figueira
1970-08- 06
Às sete horas, descerrei, inquirindo, o fecho da barraca e notei, com espanto, que chovia, na areia., E ra além de Buarcos, à fábrica de tijolo. Ante o facto inesperado, urgia, na verdade, tomar posição!. Largar para Manteigas e fazê-lo sem demora.!
Eis-me, pois, em marcha acelerada,a caminho da Figueira, rumando a Coimbra, para seguir depois, a estrada da Beira. Trivial como as outras,, decorreu a viagem, segundo o estilo. Afim de quebrar a monotonia, apenas S,Romão e a breve ttravessia do alto Sabugero.

No primeiro local, resolvo fazer a barba. Uma decepção, na barbearia! Não admira!É uma aldeia! Falta a limpeza, mas abunda a língua!a fruta esverdeada e a barba de milho!
No agreste sabugueiro transpiro abundante!: não consigo distinguir a rua principal das vias subalternas!,,!

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Manteigas
1970-08-07 Saber popular

Fazer-se anjinho!! Fazer-se burro. Fazer -se esperto. Me ter uma lança em África! Meter o bedelho em tudo! Ser o correio da terra. Ser perdido por compotas. Ser o brinquinho da casa. Ser o ai-Jesus .Ser o benjamim do lar. Sr como lírio entre abrolhos.Ser a pupila dos olhos.Querer a alguém como a Deus. Não me importa o que dirão.. Voz de burro não chega ao céu. TTrazer nas palminhas da mão. Querer a alguém como aos olhos da cara. Tem a forma do meu pé. Cair a matar. Parece até que foi feito para mim! És tu, meu filho, ou és um Anjo do Céu?!

Tudo o que é bom se vai depressa. Candeia que vai à ffrente alumia duas vezes. A luz não se põe debaixo do allqueire!.Ser a
luz e o sal da Terra. Os extremos tocam-se! Não querer barato nem caro (com alguém) Essa pe ssoa morreu para mim! O mal que lhe quero me caia a mim! Ser uma boa rês! Não cair em cesto roto! A vingança é o néctar dos deuses! Se te ferirem uma face, oferece a outra! Só na hora em que lhe corre! A voz do samgue é eloquente! Se ele me não corresse nas veias! Os amigos são como os corvos brancos! Irrita-se por dá cá aquela palha1

Andar de candeias às avessas! Navegar em mar d e rosas. Se queres conhecer o mundo todo olha para o teu povo. Se queres conhecer o teurpo, mata o teu porco.. Tirante a alma, tudo é carne! Mergulhar em lençóis de vinho. Cortar o mal pela raiz! Estava cheio até à raiz dos próprios cabelos! Estar cheio até à sarapa.

Estar a abarrotar! Ser como o diabo por dinheiro! O dinheiro é mau conselheiro! Quem quer peixe molha o rabo! Dois a um metem-lhe uma palha no cu!. Quem tem rabo tem medo! Quem deixa a porta aberta, é para não entalar o terminal do rabo. O indiscreto é como o cu: fala, fala , quando não é chamado! Estar co rabo a papejar! Não é muito lisonjjeiro! Arroto: peido mal pa- rado que se enganou no caminho!

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Manteigas
1970-08.-08
De novo me afogo, neste vale glaciar. Dirão, talvez, que é zona serrana, mas o denso formigueiro que se agita e revolve, em grande apertura, torna o caso lastimoso!.

No mês de Agost,o não ficava em Manteigas. Este ano, porém, como está munha irmã, as coisas mudaram! Com imenso gosto lhe faço companhia. A manhã de hoje está fresca em extremo, para o tempo corrente. Bem a propósito vem o provérbio: "Em Agosto, frio no rosto!"

Sempre é verdade que o Verão de Manteigas dura só um mês, não muito folgado!. Portanto, a rigor,quantas estações ha nesta região? Vivamos embora, numa zoa temperada, é certo e seguro não haver senão uma - o Inverno!.Desalentador, harto
opressivo e assaz tedioso!
Qual doença voraz vai ele tasquinhando, por modo voluptuoso, minha vida atribulada, que se encuerta, a olhos vista! Que longos danosos e constantes Invernos, sem conforto nem amor! Amortece-se aqui, de enjoo nauseante, msaquinhez e tédio!
Se havia gosto de viver neste mundo, tudo se altera, no Covão imenso, em que tudo é grande, mas aborrecido, fora do Verão, que mal se enxerga!

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Manteigas
1970-08-09 Viremos o disco
As rochas distribuem-se, por via de regra, em três categorias: magmáticas ( de magma - líquido espesso e quente quw existe, por norma, a grandes profundidades) ; sedimentares e metamórficas.
Magmáticas: granito, pórfiro e basalto; sedimentares; : grés e calcário; metamórfucas: mármoe e calcáro; me tamórficas: mármor e ardósia ( do xisto e do calcário.

As rochas podem ser de origem orgânica ou inorgânica.)
As rochas conhecem-se pela esrutura, pela cor e pela dureza. A lo quilómetros de profundidade, a pressão vai a 2000 graus, e
a temper atura sobe a 200. O fedspato, por alteração dá sempre argila.; o urânio dá chumbo e o calcário dá mármore mármore.

As rochas, em geral, alteram-se muito, no interior da terra, devido ao calor intenso e à pressão. As primeiras r ochas a formar -se são de natureza magmática: têm, por certo, mais de 2 biliões de anos.
Tipos de rochas: vasa dos vulcões; petróleo e gelo, lodo. grés e argila; calcário e gneiss,etc.
Com argila e calcário, moído e misturado, obtém-se o cimento, quw é utilizado com água e areia. Com ele, água e cascalho, obtém-se o betão, usado nas bar ragens, estradas e edif´cios,.

Cozendo em fornos de aspecto gigantescco a massa refe rida, obtemos o cimento, desde que a temperatura seja elevada a 1200 graus.
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Manteigas
1970-08-09 A sabedoria dos Povos

Ó diabo negro! Ó alma de mil diabos! Quem te dera o que falta às cabras mochas! Ah! seu cara de asno!Olha o pasado!
Não come pão de vida! Chovia que não era brincadeira! Olha o macaco reles!. Com 600,000 pipas! Chovia que Deus a dava!

Chovia que era um louvar a Deus! Não ter una 'escândula de ningém! Andar ao pão partido. Andar aos caídos. Estar à espola fita. vir num 'céu' homem.' Arre co ele!É pena 'pecate'. Aquilo é que é burro! Ter papo descansado. S er de raiva mansa! Ele sempre há cada um! Não se afoga em pouca água! O que ele precisava seu eu! Eram sopas de cavalo cansado! Ir abaixo de Braga.
Ver Braga por um canudo! Ir a Roma e não ver o Papa. Ficar como quem não mata porco. Andar com fato de ver aDeus. Dá-se como Deus com os Anjos. É uma jóia de homem!. Limpa a cara a isso! É o pai ingerido!. A mim não me enganas tu! É como azeite na candeia! Se estivesse melhor, não prestaria!. Em cantigas não vou eu! Malhos te partam! Ai, que demorgue! Oh corno manso! Estar bom, para fazer um rico pobre. É burro como porta! Se ele tem cara de asno! Quem se veste de ruim pano veste-se duas vezes no ano.

Quem seus inimigos poupa nas mãos lhes vai cair!
Quem mais alto sobe mais baixo vem cair. Malaja o Diego!

Cada um é que sabe as linhas com que sw cose! nõ perde o ano, por farto! A boca fala da abundâcia do coração!.Onde está o cadávrr, aí se juntam as águias, Onde está o tesouro, aí está o coração, O que abunda não faz mal!. Quem não aparece esquece, Dinheiro mal ganhado, água o deu, água o levou.


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Manteidas
1970-08-10
Quem não deve não teme. A pensar morreu um burro. Quem não chora não mama. Chuchar com a tropa. Fazer
pouco da mangação. Todos os conselhos ouvirás, mas o teu tomarás. Quem não tem barba não tem vergonha. Fechar-se em copas.Fazer cruzes na boca.Ficar a tocar harpa. Ser como viola em enterro. Lágrimas de crocodilo.. Lançar o barro à parede. Quem nunca jogou nem perdeu nem ganhou!

Comer gato por lebre.. Esta lebre está corrida.. Merenda comida, companhia desfeita. Levar couro e cabelo.. Isso leva água no bico.. Não ter papas na língua. O que é roubado não luz. Obra feita a machado.. Obra feita às três pancadas.O mal e o bem à face vem. Não há mal que sempre dure nem bem que sempre ature. Como canta o padre assim responde o sacristão.

Perder o seu tempo.. Gastar cera com ruim defunto. Mandar ao cais de baixo.. Sair fora dos eixos. Meter a viola no saco.

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Manteigas?
1970-08-11
Meter-se numa camisa de 11 varas.-Não saber da Missa metade. Ainda a procissão vai no meio. Ouvir sermão e Missa cantada.

Não há coisa mais bonita do que ir à Missa e achá-la dita. Tirar nabos do púcaro. Escrever direito, por linhas tortas. A rico não
devas e a pobre não prometas. Se não queres ser fera, não lhe vistas a pele. Quem te dera com o rabo dum gato morto!. Dormir como pedra em fundo de poço! A Deus não se engana! Deus não morre. Quem se faz a um cargo não tem competência para ele.
Pregar a padres, confessar freiras e vender fósforos são gttrês coisas que não valem nada. Na morte todos são iguais.O
que mais fala é o que mwnos sabe. Quem mais fala mais erra.
Errar é próprio do homem. Retractar-se é de poucos. Fugir é cobardia. A vida é luta.. O mais difíl na vida é vencer-.se alguém a si mesmo. Se queres corrigir, corrige-te primeiro!
Se queres que guardem o teu segredo, não o digas a ninguém.
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Manteigas
1970-08-12
Reze-lhe por alma : já não há remédio.!Quanto mais tem mais quer! Há males que vêm por bens! Quem cala consemte. Jogar com pau de dois bicos. Em boca fechada não entram moscas.. Quem do vinho é amigo de si próprio é inimigo.

Madruga e verás: trabalha e terás. Quem espera sempre alcança. Quem tem ofício não morre de fome. A quem servir a carapuça, que a enterre. Quando há fome, não há ruim pão.
Entre um e outro , venha o diabo e escolha.. Trabalhador bom não acha a ferranenta ruim. Devagar se vai ao longe.. Falar bem não custa. a ninguém. Não há gosto sem desgosto. Por um cravo se perde um cavalo.. Quem tem bom vizinho não teme arruído.
Paga o justo pelo pecador.. Quem tem boca não manda assoprar-. Pelo dedo, se conhece o gigante. De longas vias, longas mentiras.. Fruto proibido é o mais apetecido, Pobreza não é vileza. A perseverança tudo alcança. Pedra movediça não cris musgo. Até ao lavar dos cestos é vindima. Por fora, cordas de viola; por dentro, pão bolorento.

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Manteigas
1970-08~13
Cada coisa a seu tempo. Quem está bem deixe.se estar. Quem se mata morre mais cedo! Quem me dera o Céu por esmola. Ninguém diga que está bem. A morte é como o ladrão: vem na hora, em qye menos se espera. Para quem é, bacalhau basta. A galinha da minha vizinha é mais gorda que a minha.
Chuva meúda acalma a ventania. A serenidade acalma o furor.Nem todas as verdades se dizem. A terra aonde fores, faz como vires fazer. Fugir às sete partidas. Onde força há, direito se perde.. Chapa ganha, chapa gasta. Não poder com uma gata, pelo rabo! Gota a gota, o Mar se esgota

Mais vale sabr er guardar que ganhar. Quem guarda acha.
Achar testo para a sua panela. Fazer acreditar coisas impossíveis. Resolução tomada, não admite conselho. Dar uma facada no matrimónio. Cá e lá, más fadas há!

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Manteigas
1970-08-14
O homem deste século exige certezas.Somente acedita naquilo que vê, observa, a capricho, experimenta e sente. Fruto necessário daquela perfeição a que a técnica chegou!
Os próprios ateus apresentam, sem dúvida, homens modelares, na sua especialidade. A partir já do século XVI,
as chamadas Ciências experimentats, vêm tomando o passo às
Ciência s abstratas. Hoje, porém, muito mais do que nunca, se verifica tal facto..
A vida religiosa há-de constantemente reproduzir a Cristo, procurando vivê-l'O, e não ser meramente um conjunto de fórmulas, separadas da vida. Estas podem, não raro ,sufocar a piedade e, fazê-la afrouxar.

A nossa juventude está na berlinda: é ela que mais exige. Não podem os adultos ignorar este facto. lembrando-se disto::
representa ela 64% da população. em todo o mundo.: sabe mais que os adultos que julgam melhor; as revoluções de hoje é dela que saem..
Dêmos, então resposta e,em simultâneo, aproveitemos sempre esta força valiosa,.

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Manteigas
1970-08-15. Os novos querem Deus.

Exigem certezas, lealdade e confiança, acção e compreensão. As gerações idas, que eram de 30 anos, hoje são de 10 e, algumas vezes, até de 5. Atropelam-se em vertigem,
devido, claro está, aos meios de difusão.

A pedagogia de hoje descobriu, por certo, um facto relevante: a nossa juventude, ao contrário de outros tempos., não acumula somente.
Enquanto o faz, já vai actuando. É, na realidade, uma força poderosa,, uma vida exuberante e com ideal... uma consciência..Não a ignoremos. O mundo de amanhã a ela pertence. e mesmo agora já lhe está na mão, em grande parte.

Ela orienta-se pelo que vê: não decerto, pelo que lhe dizem. Além disso,, quer também responsabilidades, nos vários sectores: religião e política, governo, etc. Urge, para tanto,
educà-la em grupo, com esta finalidade,abrir-se melhor, perder um tanto de agressividade; colaborar também; ter acção
eficiente!
A acção da famíia, no campo educscional, cada vez é menor. Isto sucede, por várias razões: televisão e radio, jornais e revistas, cinema e companhias e mais ainda. Importa, sem dúvida ir-lhe ao encontro, tentando compreendê-la, dar-lhe importância, metê-la no coração!

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Manteigas
1970-08-16
Cinco anos vão passados, que tive um dissabor, em terra francesa! iFoi num dia como hoje e em mês igual, ao
viajar, satisfeito, rumo a Paris, num Taunus 17 M,
Datas como esta jamais se esquecem: é sempre alvoroçado que a recordo e medito!
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Assunção da Virgem- Mãe, festa jubilosa ( desculpe-se oo lapso, pois é a 15 de Agost), como eu te saúdo, na minha alma grata! Não anda ao acaso este globo térreo, em que agora me encontro, pois é guardado e também vigiado pela Providência do Senhor nosso Deus! Eventos circunstâncias, episódios ,
ocorrências, nada escapa ao olhar do Senhor!

Como ia, pois, olvidar aquele facto. precisamente na hora,em que rumo a Fátima?! Comigo vai também minha rmã
Agusta e os 4 pequenos, afim de conhecerem a Cova da Iria,
santificada pela presemça da Virgem.

Chegados ali, ficaram emocionados, pela santidade e grandeza do lugar. Rezámos o Terço pelas almas saudosas dos mortos queridos, não wequecendo os vivos que amamos.

Em seguida, visitámos a Basílica, a modesta Capelinha das Aparições, a azinheira do lado, bem como o Fontenário do Sagrado Coração Bebemos todos da água milagrosa e os nossos meúdos encheram ali pequenos garrafões que já levavam adrede.
A propósito ainda, relatámos factos, referentes a Fátima, ocorridos, já se vê durante as visitas que a Virgem nos fez Veio a pêlo o Milagtr do Sol, os pais amorosos da Jacinta e do Francisco - Marto e Olímpia, que eu ainda conheci, não omitindo o simpático Joãozinho, cuja história pessoal anda muito ligada à dos três pastorinhos,

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Lisboa
1970-08-17
Quem anima o grupo é, de facto, a Gina.Curiosa do que passa, vai lendo os dizeres e, como é de esperar,altera e deforma, provocando o riso

Ficaram gravadas algumas deturpações que vamos retindo, com desgosto seu. Uma delas é 'Leira'. em vez de Leiria. Ela disse-a uma vez e ouviu-a mais de cem!Agora, cabe a vez ao Mostero dos Jerónimos., que vamos visitar. A Gina e o Quim estão efervescentes, gerando habilmente na imaginação, coisas mirabolantes.
Quantas vezes já, se haviam referido a este monumento! Não vissem eles o da Batalha, em 16 do corrente, na longa viagem para Lizboa! " Quando vamos aos Jerónimos?!"
Dissera eu ao Carlitos bem como à Guida que ambos os monumentos são admiráveis, cada um no seu género, tomando em conta a sua finalidade.

Os mais pequenos ouviam, mas aquilo, afinal, era música celeste! O que se impunha agora era ver de facto,, contemplar em presença aquelas formas estilizadas e assegurar-se, por meio dos olhos, da palpitante e bela realidade. Como o dia chegou, vamos por isso, à rua dos Fanqueiros . O meio condutor, rumo a Belém, há-de ser o electrico.

O nosso Isaías fica delirante, com tal processo. Lá no Chitembo, onde havia nascido, nunca vira tal coisa! Meia hora depois, eis-nos já em frente da majestosa obra-prima, que deleita os ohos e arrebata corações.
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Lisboa
1970-0818
Cabe agora a vez ao Mosteiro dos Jejrónimos, que vamos visita. A Gina e o Quim estão efervescentes, gerando habilmente, na imaginação, coisas mirabolantes.,
Quantas vezes já,! se haviam referido a este Mosteiro! Não vissem eles o da Batalha, 18 do corrente, na viagem para Lisboa!
"Quando vami'os aso Jrronomos"
Dissera e u ao Carlitos bem como à Guida que ambos os monumentos são admiráveis,, cada um no seu género, tomando em conta a sua finalidade.

Os mais pequenos ouviam, mas aquilo, para eles era música celeste! O que se impunha agora ersa ver de facto, contemplar, em presença, aquelas forma s e silizada e assegurar-se, por meio dos olhos,, da palpitante e bela realidade!.

Como o dia chedou, vamos por isso. à rua dos Fanqueiros
asseguar-nos dos factos. O meio condutor, à rua dos Fanqueiros, há-de ser o eléctrco. O nosso Isaías fica delirante,
com tal processo, pois lá no Chitembo, onde havia nascido, nunca vira tal cisa.!
Meia hora depois, eis-nos jjá em frente da majestosa obra-prima que deleita o olhos e arrebata, por igual, o nosso coração! . , .,. Só o formoso pórtico, logo à entrada! Que grande maravilha de fé e saber,, religião e patriotismo! O cunho manuelino, com base renascentiata avulta e exorna a fábrica sublime!
De todo o conjunto, esmagador de grandeza, salientam- se ao máximo , o claustro e o templo. ,. .

Que obras prodigiosas e que fina subtileza, praticadas na rocha! As colunas e os túmulos, os mágicos lavores e todos os remates apresentam-se ali de grandeza sem par-
Ao fundo do templo. silenciosos, estáticos: o agente prodigioso da grande acção marítima -- Vasco da Gama -- e seu famoso cantor -- Luís de Camões.

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Mante igas
1970-08-19 Visão retrospectiva

Anteontem, foi a Batalha. Que hábeis rendilhados... que
epopeia sublime, esccrita na rocha e grava ali, para os séculos sem fim! Monumento doméstico, fala aos Portugueses, em voz
altissonante, e concretiza o amor, votado à Pátria, no grito imortal que nos deu Aljubarrota e o mundo a civilizar.

O sangue generoso dos bravos de então, que bateram o pé à soberba castelhana, ergueu este assombro, que desafia o tempo e fala ao mundo inteiro só de eternidade. As suas flechas esguias sobem no espaço, convidando as almas a pensar no Além
Não fiquemos à porta! Entra-se ali como num templo!
A formosa Capela do egrégio fundador, as Capelas imperfeitas, a Sala do Capítulo, o templo de maravilha e o Caustro Real são
jóias peregrias de fina qualidade.
Afonso Domingues falara verdade, ao expressar, em palavras memoráveis:" A abóbada não caiu... a abóbada não cairá!".
Lá está de pé, desafiando o tempo e as leis da gravidade!
Alexandre Herculano vincou bem fundo o génio
do Arquitecto como também a sua fé viva e o amor acrisolado à
Pátria- Mãe! A formosa Novela, inserida pelo autor nas Lendas e Narrativas,é um belo pregão à arte consumada a que Afonso Domingues deu grande expressão.

O gótico, ali. é a bem dizer, de uma riqueza, assaz prodigiosa: arcos botantes, colunas delgadas, vaporosas, elegantes; janelas rasgadas e em grande profusão! Abunda igualmente o arco ogival
Que mimos de sonho o gótico nos deu! A remota Idade- Média é assombrosa. meditativa e harto cristã, nas belas Catedrais, que assombram a mente! Mais que a pena e o livro
é a pedra dura penhor de eternidade.

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Lisboa
1970-08-20 Continuação

São 18 horas, em tarde amena de Agosto.
Sozinho e doente, medito exasperado, num quarto velho da Pensão Marinho.. Qie faço eu aqui?! Quem foi que me atirou
para a vida que levo?! Por que razão não tenho alguém que me ajude e socorra, repartindo comigo o bom e o mau e prestando serviços que os estranhos não sabem ou não querem fazer?!

Escolhesse eu o caminho ou o tivesse realmente como via de expiação! Mas quem pensou em tal?! Sou um caso palpitante de violação execrável da personalidade!!
A origem provinciana, as limitações de tipo económico,
a forte pressão de cunho familar e também seminarístico, tudo
isso e muito mais, operou esta coisa: um ser frustrado que se
estorce e debate, sem saber, afinal, quem é que o lançou nem
descobrir, por modo algum, o que vai suceder-lhe!

É de facto lastimoso que o pobre ser humano vegete qual arbusto, sem que os otros se apercebam de que há dor e agonia debaixo de seus pés.
O homem, nesta vida, é chamado por Deus a construir e divinizar o mundo envolvente, colaborando assim no plano criador e fazendo-o com gosto.
Eu, porém, nenhum prazer sinto naquilo que faço. Bem ao invés, é asco e enjoo o que alimenta, dia a dia. o meu peito em
ruínas
Mas por que é que não grito bastmte mais alto?! Por que não
esgrimo, à direita e à esquerda,, para ver respeitados meus sacros direitos de pessoa livre?"

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Manteigas
1970-08-21
Por que maneira o homem se realiza?
Satisfazendo, em pleno ,aspirações legítimas, sentindo nisso vivo prazer e, mediante os factos, conseguir a vida eterna.
Qual é o objecto de suas aspirações? Tudo vai cifrar-se muma só palavra - felicidade A este alvo, pois, é que tudo se encaminha, embora sejam diversas e muito diferentes as vias de acesso
A via real é sempre o amor, que pode ter por objecto: Deus, a família, o próximo. As várias derivações que levam a tal fimi são, pois, o amor a Deus, o seu Evamgelho, a paz e a liiberdade, a personalidade, acção e consciência,, o pensamento,, a bondade e a caridade, o amor humano e assim o conjugal, a verdade e a justiça, a virtude e o bem.
Entretanto, desde logo se impõe que seja livre a escolha: não forjada por alguém... muito menos imposta!. A " pesca das almas, por meios suspeitos e sujeição do próprio coração",é processo indecoroso e, por isso, repugnante, injusto e contestável.
Faça~se luz, em todos os espíritos, apresemtem-se lealmente os prós e os contras, enobreça-se a verdade e a sua beleza. pondererem-se igualme resultados e senões, mas sempre cuidado! Não se vá mais além, escondendo facetas,
atenuando aspectos, escurecendo obstáculos, avultando passagens!. É uma forma rica de charlatanismo, que Dus reprova, a consciêcia abomina e a sociedade verbera!
Deixemos ao homem a liberdade na escolha! Uma scolha assim, bem amadurecida, harto consciente,, desejada e amada! Se Deus assin quer por que não querem os homens?!

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Man teigas
1970-08-22 Amolador de Tesouras

Sereno e plácido, atravessa diligente as ruas da cidade, alheado e estranho. A roda grande e os velhos apetrechos - eis o mundo querido, aquilo que lhe importa:
Vestuário e calçado, caprichos da moda, costumes venerandos e sinais dos tempos não contam para ele!

Venham, sim, as moedas. que garantem o sustento!
A sua pedra, harto reluzente, que gira pressurosa, realiza maravilhas em fios embotados.
Feita a experiência, já cortambem, aumentando o brilho, enquanto ele sorri e quase se desvanece! Ensimesmado e feliz
experimemta num trapo, enquanto o seu olhar interroga o cliente. A tesoura, de momento, já corta e desliza: de objecto
imporrtuno, volvera-se, de repente,em coisa prestável

Por minha parte, contemplo, emudecido, mantendo-me absorto e quase alheado Observo, um por um, os seus trastes já poídos. Alguns, dentre eles são repelentes e de tal exiguidade, que não creio serem úteis. A verdade, porém. é que eles servem todos e fazem o seu mundo.

No meio de tudo, avulta ali um corno,, já um tanto luzente, em cujo interior se oculta o que não sei! Abeiro-me um pouco,
ansioso, inquiridor,, mas nada consgo! Tal objecto ali provoca hilaridade, mas é considerado na tarefa a que aludo!
Lá deixo, por fim, aquele homem singular!

Meditei e concluí: para ser feliz, e matar a ambição é viver cada um no sau mundo limitado!
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Lisboa
1970-08-23. Visita colectiva ao Jardim zoológico

Havia muito já que os nossos meúdos ansiavam a fundo por este dia. Ver os animais, aves e batráquios afigurava--se logo um belo episódio, na vida infantil. O Isaías já trazia há muito os 50 centavos, afim de presenciar as habilidades do
curioso elefante.
-- Mamã,como se põe o dinheiro?
Esta pergunta efa já forçosa e obtinha resposta vezes sem conto! A mesma Gina até sonhava acordada.!
"Quando é que vamos ao Jardim Zoológico?"
Qual mrtelo permanente vinha a mesma pergunta, feita pelos quatroo
Como é bela esta iidade que rejubila de pouco, vivendo absorvida por tais ninharias! que aos adultos não divertem!

O dia suspirado chegou, por fim e, vendo-se no local, era incalcullável o júbilo de todos. Até eu que o visitara, naPáscoa,
senti bem feliz, da sua felicidade! Os seus olhitos, pequenos e brilhantes, eram prova real de alegria, sem peias!

Encontravam-se, à data, no reino dos sonhos.... a terra prometida... o éden maravilhoso da sus predilecção.
Postos assim, correm ansiosos,, de xona em zona, frementes de júbilo, emseus corações!

Por fim, surgem então os hipopótamos, fazendo-se acompanhar de curioso bebé, só com dois anos. Aquelas massas informes prendem desde logo a sua atenção.

Como tudo acaba, chega, por fim, a hora da saída, pondo
assim temo a um dia inesquecível.

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Lisboa
1970-08-24
Praça do Chile, dizia o eléctrico. Num impulso louco,
atiro-me para ele, não fosse conto que se pusesse em marcha!
Uns de pé, outros sentados. lá vai diligente, parando aqui, hesitando além. Felizmente, há lugar para mim. aproveito-o jubiloso e ponho-me a olhar, através da janela.
Vejo, sem interesse aquilo que, tantas vezes se apresentara já.
A um forte solavanco, o meu ombro direito é premido com força.. Olhando logo atento, que vejo eu? Uma preta robusta,
de criança ao colo.. Ao puxar o dinheiro, perdera o equilíbrio.

Num momento veloz, enche-se ali a minha cabeça de
várias ocorrências: a sua cor negra, a criança de peito, , as
matanças em África,, ódios e malquerenças , a fraternidade.
Resolvi logo, apesar de tudo, ceder-lhe o lugar. E nquanto o faziia, nnotei com agrado, que mais alguém se estava ensaiando , para fazer o mesmo.

Plenamente satisfeito, logo meditei no que pode o amor.
e em quanto ele é diferente do ódio escaldante.
Encantou-me o sucedido e, embora não fosseeu, rejubilei no meu peito.
Quão diferete xeria o mundo, se houvesse dntendimento e todos se amassem,, como filhos genuínos do mesmo pai!
Acabaria a guerra, finalizando assim a odiosa malquerença.
Inveja e ódio isso não havia, nem a ambição teria já campo.
Era mais gostoso viver neste mundo e o próprio msl já podia suportar-se. Aquela frase evangélica "Amai-vos uns aos outros" seria portentosa, a fazer transformações
Poe que não há, de facto, compreensão e amor aos irmãos?! Não é Deus o Pai de todos, na família universal?!

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Lisboa
1970-o8-25
Dia amargo e tristonho, por ser véspera já de amarga separação! E le evoca decerto momentos felizes de tempos idos! No entanto, a realidade resente é angustidora!

Amanhã, parte o Vera Cruz e com ele vai também coração e alma. Os esteios fortes que me prendem à vida são por ele arrancados em extremos alt os de incompreensão.

Como é pesada a nossa existência, quando tolhe a liberdade!Somos fantoches: passoas é que não!
De ixamos d e ser o que desejamos. Forças há que manietam, obrigando-nos a ser o que não queremos.

Que me prende aqui, para eu não ir?! Será nada? Será tudo?Não sei o que é! Ninharias? Bagatelas,torturando a vida que tornam insuortável! Benefícios da Caixa? Futura aposentação?! Es t e é o nó vital! que se fez em mwu viver!

Aqui fico solitário, desterrado, inconsoláve"... Exilado neste ermo,, aguardo anelante o momento ditoso. Chegará ele a tempo de realizar o meu sonho?! Correr oceanos e mares, em demanda pressurosa de quem amo, com verdade?! Esta amarra que me prende é tão forte e premente, que não poddo
resistir-lhe. A verdade, porém, é que esse futuro não me pertence!
Deus somente o alcança e chega a decifrar, penetrando
seus arcanos. Aguardar é meu papel, serenando a toda a hora,,
confisdo no porvir que Deus tem na sua mão. É a vida que o exige: as conveniências tambám
Lutar é minha sina. sofrer o meu destino.

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Lisboa
1970-08-26
É no Cais da Rocha. Em frente de mim, enxergo . a custo embora, o vulto considerável dum navio portuguès.
Conheço já o nome e sinto, aqui no peito uma força brutal
que me leva para ele e dele me afasta. " Vera Cruz!"

Como és desumano, duro e cruel, pois escondes no seio as pessoas que eu amo! Verdadeira Cruz, tormento infernal que estorcegas os corpos, vergando as almas! O meu olhar, embaciado e triste, mal consegue divisar-te! És qual fantasma que apavora sem tréguas,,crucificando sem dó!

Que direi de ti e que pode merecer -me o teu vulto execrável?!Jamais te bendirei A minha boca gelada soltará sobre ti palavras de louvor?! Que mentiras forjaste!! Que promessas fizeste, para enganar os que eram meus?! Sedutor e
caviloso, sorriste, por certo. mas todos já sabem que é danoso teu engano!
Hei-de ainda punir o teu olhar de magia... verberar acerbamente as promessas falaciosas! Pois se tu me roubaste,
furtando à luz a luz dos meus olhos! Nem consegues, por fim,
intimidar-me agora, que tenho aqui no peito a ferida a sangrar!

Protesto e reprovo, rejeito e condeno!
Que é que faz quem é roubado?! Grita e actua, arremessando-se logo contra a causa maligna do seu dano emergente.

Foi um sonho, afinal, em que tu me lançaste?!
Agora, estou só, Arrancaste, impiedoso, a raiz mais forte, em que eu me apoiava. Sozinho, despojado, choro a gemer, sem a voz ter eco! Em vão me lamento e de balde clamo: Gina e Carlitos, Guida e Quim; Maria Agusta, querida irmã!
Se o silêncio é resposta foi ele que eu ouvi!

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Lisboa
1970-08-27
Vinte para as dez! Pela minha janela. olho deslumbrado e pergunto a meus botões; porquê tanta azáfama?! Movimento ascendente, correria descendente! A rua de Santa Justa, aquela onde moro, é transversal! Anda tudo em roda viva como sendo animados por força invisível!.
Que é que procuram? A que alvo miram? Afigura-se isto um xadrez complicado, onde inúmeras figuras se vão deslocando à maneira de autómatos!Não sei o que as leva! Ignoro o que as move!, chegando a pensar, na minha ingenuidade, tratar-se de bonecos, animados ali por motor invisível.
Pois não avançam, para logo retroceder?! Corta este à direita, para volver à esquerda! Século das luzes e da rapidez, alguém lhe chamou já!
Profundamente embrenhado em tais pensamentos, vejo
algo estranho, no interior do meu próprio quarto, Atendo mais um pouco e distingo qualquer coisa, semelhante, a rigor, à vela dum barquito. Estranho caso este, que faz contraste ao que vai, na rua!
Sem pressa enrvante,sim com persistência, a pequena vela agita-se e avança.
Quem a leva assim, com empenhp tão grande? Que móbll a impele que não logro descobrir?!i Insecto bem minúsculo o vai puxando,persistindo e teimando..Avança primeiro e recua depois, segue à direita e ruma à esquerda, sobe decidido e volta a descer. O mesmo que lá fora!.
Agora, dei no alvo!
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Lisboa
1970-08-28
Afinal de contas, o que eu chamava antes 'vela'de um barquito era, realmente, um pedacito da minha própria pele! pele. Coisa bem estranha! Umpequeno insecto. ainda em vida minha,, deleita-se imenso, destruindo já, com avidez, uma parte do meu ser
Aferrou-se a ela e, por fas e por nefas, vencendo obstáculos,seguidamente, foi não sei para onde, orgulhando-se, a valer, com este despojo! A brisa mansa da tarde roçava, ao de leve, na presa cobiçada
Tal facto molesto era suficiente, para mudar-lhe prestes a direcção intentada! Mas a formiguinha é que não desistia!.
Solícita e pronta, começava de novo a tarefa porfiada.

A lição de aferro e, em simultâneo, de paciência no trabalho, foi magistral! Não passou despercebida, como é natural, mas senti-me horrorizado. O caro leitor ou simpática leitora ficarão surpreedidos, ao tomar conhecimento do facto em causa.

A minha pele já pasto de insectos! Aos 52 anos, sou manjar opíparo que deleita assim pequenos insectos?! Como ´é isso?! Não sei que lhes diga nem atino agora com a resposta a dar, mas julgo que foi assim: há dias atrás, estive na praia e, como resultado a pele renovou-se!

De nada valeu a pomada que apliquei, já um pouco tadia!
Com a pele delicada, por haver já muito que não via sol, arrisquei-me pois à substituição. Foi, na verdade o que sucedeu. Vai caindo aos pocos, e as formigas providentes fazem dela manjar,
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Lisboa
1970-08 -29
Oito horas da manhã. Suspeitando que chovia,
aproximei-me hesitante, abrindo receoso as portas da janela.
Afinal, era certo.. Que horrível surpresa e magna aflição! Mal acreditara numa coisa semelhante, ouvindo embora, a espaços, o embater discreto, no peitorill da janela.

Não há dúvida nenhuma! Ela aí está, para regalo de alguns e castigo de outros! Olho angustiado para a Rua travessa de Santa Justa e parece-me então que os demónios a varreram. Onde a animação que lhe era peculiar?!

Só algum veículo entesta à direita ou ruma à esquerda!
Os peões animados que emprestavam, à zona o seu quê de original, atraente e sugestivo, tinham sido ejaculados, não sei para onde!
A Rua de Santa Justa é, ao presente, uma artéria prosaica e sem interesse! Quão diferente ela se apresenta, se a comparo à de ontem! Galãs e peralvilhos, elegantes e dengo- sas, lanzudos e mini-saias, efeminados e amachadas. aonde fostes levar pretensões e exotismo?! Pisa- flores e carecas ,
abauladas ou já cilíndriicas, dizei-me à puridade quem foi que vos raptou!
Deixastes assim a Rua solitária, não querendo emprestar-lhe movimento nem cor? Não vedes cla
ramente que ela, sem vós, é anódina e frouxa?! Embora eu, sinceramente, não morra de amores pela vossa presença, o certo é que éreis a vida, para não izer a alma, na Rua de Santa Justa!, agora solitária!

Voltai, apesar de tudo, porque eu não suporto o circundante. Que a chuva se retire, por indiscreta e molesta, e que a vossa presença alegre, de novo, a rua que prefiro!

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Lisboa
1970-08-30
Que vazio na alma e tédio no peito! Pasa o tempo moroso,, como sendo, a rigor, um cortejo fúnebre! Deixai-me a impressão de que ele não avança, mas antes recua!

Sim, não avança, ainda que fosse o horrendo espectáculo.
formado agora por mil adversidades, qual delas a maior!
Per gunto-de momento: que faço eu ou devia fazer?! A resposta é silêncio, na minha alma, agora inconsolável r quase agonizante.
Estou, realmente, fora do meu lugar. Por esta razão, não desperta a existência nenhum interesse

Quem me pôs então assim, para eu não er glória nem sentir alívio?! Não fui eu, por certo!Isso não! Alguém estranho me colheu imaturo, impedindo assim que fosse eu, na verdade,
a escolher o meu ptóprio caminho!
:
A minha vida é uma´frustração, constante e repelida!. Fora daquele meio que eu aambicionava, escoou-se-m o tempo que levou o melhor fela! Para quê?! Agarrado a preconceitos e velhas tradições, que rejeito e postergo, agonizo estrebuchando, ante o enorme pasmo de quantos me rodeiam.

Eu não tive culpa!Sou produto natural, resultao imaturo de velha ideologia... jogue te fatal de forças poderoas que actuaram sobre mim!, Haverá discernimento, aos 25 anos, em regime fechado , com policiamento?!
De sumanizado, enveredei então por um caminho errado, via
pedregosa que outrem escolheu!

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Lisboa
1970-08-31

Mauriac. agonizante, acaba de receber uma visita amiga: o
Arcebispo de Paris. Homens como este haviam de furtar-se às garras da morte, continuando seu destino de só fazer bem.
entornando luz, nos espíritos sedentos. No entanto, Deus, que tudo faz bem, não quis assim. para nos mostrar que somos iguais e que a todos ama, de igual maneira.
Ninguém pode furtar -se a esta lei geral, pois tem de sair pela porta negra.

Pagamos tributo à morte indesejada.Por mais nobilitantes que sejam acaso os nossos pergaminhos, não valem de nada. Vão
sábios, pois, vão ignorante,, grandes e pequenos,ricos e pobres, velhos e novos, nobres e plebeus.

Como Deus é grande, rico, justo e santo! Não somos todos igualmente pecadores?! Que é qe nos distingue, em face uns dos outros? O mal não é distinção, e a virtude é, por vezes, tão rara e desluzida, que mal chegaria, para balançar, devidamente,o aspecto negativo. Ninguem se orgulha de não passar, no fim ,pelo grande portão!

Só a imortalidade que é possível a muitos, e as acções gloriosas distinguem os homens.
Dexa, Mauriac, esta arena calcada, onde sempre lutaste e tantas lidas empreedeste, pelo bem da Humanidade, em preito a Deus que foi a tua estrela.

Assemelha-te na morte a obscuros operarios, que não podem igualar-te na glória incomparável que no Céu te espera.Que Deus te acompanhe na longa viagem e sê ditoso

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Lisboa
1970-09-01

Já finalizou o mês de Agosto,mas não o meu tédio. Eu sei muito bem que misérias e ascos da vida presente servem. a rigor, para modelar o homem novo, o homem do Evangelho a quem serviu de protótipo Nosso Senhor Jesus Cristo.
É u que dá lenitivo e apoio bem forte, no qual me firmo. De outro modo. já teria sossobrado. Se nada mais houvesse, para além da morte, e alguém, na Terra, pudesse garanti-lo. não teria dúvida em acabar, mas eu creio firme e sei, na verdade, que o nosso Redentor está vivo e palpitante; que apõs esta vida, outra
começará, mais llonga e inalterável.

Será o prémio do bem, que houver feito na Terra ou então o castigo dos malefícios que houver praticado. Estão bem vivas na minha alma, as ideias basilares da existència humana; o nosso bom Deus, a imortalidade, alma e faculdaddes, a Providênca, o gozo eterno!

Para assegurar tão raros dons, vale bem a pena tolerar os males da vida presente., sofrendo-os paciente e tomando-os por moeda, afim de comprar a felicidade eterna..

É esta a minha fé, mas vivo continuamentr rodeado de trevas e
mergulho assim no meu desconforto!, É isto que me prostr e cria desalento.Nada terreno mw vem compansar e trilho um caminho que se apresenta dúbio

Se um Annnjo do Céu me dessa palavra. porfiando e garantindo que Deus o queria, então quedava-me, assaz orgulhoso, de presar ao Senhor sentida homenagem. Mas apoiado na dúvida que me espicaça a toda a hora, ceio sincero que uma senda mais fácil ia lever-me seguro ao Deua que me criou!
Que os homens não oprimam os que chamam seus irmãos!

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Lisboa
1970-09-02
Que vai trazer-nos o mês de Setembro que ontem começou)? Encargos, sim, preocupações e cuidados em barda!-
Isso não falta!! Mas a nossa vida é feita só disto?! Acaso o homem é joguete fatal de forças ocultas, que a viram e reviram, em todos os sentidos?! Andará esta máquina, à mercê ?!do acaso e, sendo livre e tão conscente, ficará subordinada à força da matéria?
Que forças ocultas manobram o ser que se estatela no chão, vencido, aniquilado?! Apenas desaires, que prestes o invalidam?! Anseios estagnados?! Asas cortadas, para não voar, sentindo embora que o espaço o alicia?! Pobre criatura!

O simples animal. sem estes anseios, é mais feliz. Tu, porém,
criatura racional, , chamado por Deus a um destino mais alto, ´+
É -te dado sofrer, para atingires a meta!. A dor para ti,~A dor, para ti ,é uma chamada... o sofrimento, um apelo!

É voz que soa forte, no íntimo do peito, dizendo afinal que a vida é breve e que estamos, no exílio.
Aceita, pois, resignado e paciente, os espinhos da vida, como vindos do Alto, para assim aplanares os caminhos da existência., Eles desprendem-te do mundo aliciante,fazendo erguer os teus olhos em ânsia, para etérias regiões.

Além disso, constituem moeda , por meio da qual obterás, sem dúvida,rico património.. Não te deixws, pois, acabrunhar e vencer pela angústia mor tífera nem ficar prostrado pelo desânimo. Passada que seja a borrasca tremenda, começa, desd e logo, o dia ansiado
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Lisboa
1970-09-03

Pela Rua de S. Bento, a partir do Rato,, caminhava eu para o Conde Barão. Ia pressuroso:i e deveras atento.
Ignorava, em parte. o local dos armazéns. Eis senão quando, ao dobrar de uma esquina, se depara uma coisa que chama a atenção.
Sentado num banquinho,, tosco e já poído, estava um ceguinho, de cabeça prndente. Sustentava a caixa, de fenda ao centro, e
uma vara de encaixe, a denotar a sua desgraça. Interessou-me o quadro.
Em contraste flagrante com outros seus irmãos, chamava, desde logo a atenção dos forasteiros. Os outros ceguinhos são harto ruidosos e, algumas vezes, bastane importunos. Viola ou guitarra, concertina ou rabeca e até acordeão acusam logo a presença.

De vez em quando, trazem cirenéu que anda sempre fino como um coral.. Naquele, porém, um abandono total... um silêncio de túmulo!
Nisto, chega um pretinho, que puxa da carteira. Devassando o interior, tira uma moeda, que introdu,z, paciente, na ranhura da caixa.
Comoveu-me este facto e dei-me a pensar. O ceguinho a dormir, envolto em mil ruídos... Quem sabe? Talvez a sonhar com um mundo melhor?! À volta, só trevas e no seu interior, possivelmente, ondas de luz! O pretinho jovem, de tez obs- curecida e alma branquinha era o tipo da bondade, a estilização da própria clemência, o símbolo vivo de uma idade bela. que dá e conforta!,
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lISBOA
1970-O9-04
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Saldos! Mágica palavra que põe alvoroço, em todas as almas! No fim de tudo, é a luta pela vida, o cálculo oportuno, a ânsia viva de ir mais além!! As gentes ondeiam, através das ruas, para se atropelarem, um pouco msis além. E esta onda prossegue,avança e recua, morrendo somente, por noite avançada.
Reduções tentadoras... casos de pasmar! Há dísticos engenhosos, euquetas sugestivas; televisões que eram de 15
contos, vendidas por 6! Um casaco interessante, de um conto e duzentos, vendido agora por cem escudos!

É, realmente, de perder a cabeça! e comprar tudo isto! Importa lá que a moda passe?! Já se não usa? Tanto mais engraçado,se for coisa aseada! Acompanho as turbas e admiro-me com elas! Enquanto passo na rua,,espreitando os obectos, em que leio as etiquetas, há olhos ansiosos, cravados em mim, dando a impressão de querer devorar-me!

Seguem meus passos, estudam os movimentos,pesquisam-me os recursos: qual mola sem peias, abeiram-de mim, para interrogar-me, e eu voo mais célere, de saldo em saldo. comparando sempre e tirando ilações.
Há olhos rancorosos,, palavras de amargura,, comentários azedos.
Entretanto, a onda avoluma-se, o fim da estação aproxima-se também e a luta ferranha, a que a vida obriga, acelera os movimentos, avivando-se na cor.
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Lisboa
1970-09-05
"Hoje anda a roda!"

Tanto ouvi as palavras e vi a legenda,que a minha cabeça ficou a rodar! Por outro lado, enquanto deslizava, não raro
sucedia mandá-los, interiormente, a um lugar distante, próximo de Braga.
Não se pode aturar um berreiro assim! Afigura-se logo verdadeiro pandemónio, em que as figuras são escabreadas!
Apesar de tudo, resolvi dominar-me, na mira deslumbrante de ser contemplado pela sorte grande! ,

Por via de regra, não costumo jogar e. qundo o faço, tenho por
norma libertar a fantasia. Por isso, não tenho o prazer que a miotos felizardos suaviza a existêncis, Não foi mal de todo!. Acertei casualmente na classe dos milhares!, E parece que foi tudo! Resultado prático? Igual a zer!

Para obstar, de vez. a um azar que me persegue, neste campo de acção,,lembri-me, na altura, de comprar cautelas, preferindo a todos aleijados e corcundas!, Há bil tereisido, mas julgo que nem assim!

Pelo que já vi,, embora por alto, estarão branquinhas como a neve dos montes!! ´E uma pureza que deslumbra a mente! Nem os curcundas nem os aleijsos me podem valer!
Bem queria desfazer este duro enguiço e cortar a má sina, àqueles infelizes! O certo, porém, é que nem eles nem eu lucrámos o bastante , que nos tirasse de apuros!

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Lisboa
1970-09-06 Padreca!

Tal saudação foi-me dirigida, logo de manhã. Como aperitivo, forjado no inferno, tenho para mim que não houvesse melhor!
Isto, assim, à queima-roupa, no século das luxes, e das velocidades,, quando toda a gente se julga importante, a começar por mim,, parece desvairo!

Consegui dominar-me, nem sei porquê.. O que devia fazer, nessa hora matinal, era desfechar-lhe inesquecível murro, na tola cabeça. que ficasse a rodar, por 30 minutos. Aprenderia a lição?
É natural que sim! Quase tenho pena de não havê-lo feito
Bem sei que é difícil e um tanto doloroso amansar touros bravos, principalmente, quando já entroncados. Eu, porém, sei como se faz, para bom êxito! O receio canino que havia de tomá-lo faria maravilhas naquele pobre asno!

Em que é o sujeito maior do que eu, para incomodar-me?! Que é que lhe fiz, para dar coices?! Pedi alguma coisa àquele figurão?!
Ah! se lhe deitava as luvas e o mostrava à Polícia, como fiz uma vez, lá na Covlh!ã Assim é que é!! Quando ladram os rafeiros, atirar-lhes uma côdia que seja dura e proveitosa!
De que serve para eles um silèncio virtuoso?! Mais se entusiasmam, agindo forte
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Lisboa
1970-09-07

Esta noite foi quase insuportável. De facto, mal cheguei a dormir e todo o meu tempo levei às voltas e revira-voltas! Pegar no sono, com este calor, não é possível. Muito à beirinha dos 40 centígrados, só dentro de água! De outra maneira, não vejo saída!
Por mais que tentasse, era somente limpar o suor, que logo ressurgia como por encanto! Cheguei até a supor tratar-se ali de fonte perene, donde ele brotava incessantemente!. Quão longas e penosas são estas noites, veladas assim!
Na miséria de um quarto, por 27$50, que podia esperar-se?! Vem a propósito lembrar agora que já estamos no final do século XX!
Demais, inteiramente só, procuro arrimo ou consolação e responde-me o silêncio angustiante, importuno e gelado, que
trespassa a alma!.Ah, que noites estas em que os breves segundos parecem tão lentos, graves e pesados!
Horas de amargura, com Deus por testemunha, vividas e passadas em frio desamparo, enquanto alguém, diligente e hábil, vai já espreitando a hora da minha morte, para dar-se a festins, com sobejos minguados!
Amo o trabalho e quem o executa, mas detesto calaceiros e
polttrões vigaristas,, que mais não fazem senão prejudicar!
Senhor meu Pai, desforra-me lá, no teu reino glorioso,de tanta maldade e falta de pejo
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Lisboa
1970-09-08

Quem precisa, precisa sempre!; quem dá não pode dar sempre. Quem vai à guerra dá e leva. Quem dá aos pobres empresta a Deus,Quem amargura os pais jamais conta com ventura! Quem
mais alto sobe mais baixo vem cair. Quem está de pé veja não caia!
A Deusnão se engana!. Tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica ao portal. Pum!, aqui detro e cheiro lá fora! Março, marçagão! De manh~, Inverno e à tarde, Verão! Em Abril, quima o carro e o carril. Em Junho, foice em punho! Quem malha, em A gooso, Chover na boda! já malha com desgosto!

Se queres inimigo, empresta o teu e pide-o. Os extremos tocam-se. Fazer perder a cabeça. Aqui é que a porca torce o rabo!Pôr nos cornos da Lua! Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro!. Em ca da poleiro, só um galo! Dar às de quatro! Estou cheio até à s arape! Quem o seu inimugo poupa nas mãos llhe vai cair. Tomar carrilho, Viver para aprender!
De grão a grão, passada de cão. O grão gosta de ver ir o dono para cas a. Honra e proveito não cabem num saco estreito. O que tu querias sei eu! Quem comeu a carne que coma os ossos!
Para quem tem fome não há ruim pão! Não passes o risco! Meter as mãos pelos olhos dentro. Enfiar a carapuça Ser muito proveitoso. Andar com fato de ver a Deus. Cair na esparrelt!
Andar já saturado! Ri com os que riem e chora com os que choram,
A rico não devas e a pobre não prometas!. Muito e bem não o faz ningém. Candeia que vai à frente alumia duas vezes!.
Atirar com os atafais! Ter dinheiro como porcaria.!

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Lisboa
1970- 09-09 ........Um Periquito deveras animado.

Na Barão de Sabrosa, 313, 2ºDireito, ali paredes meias com a prima Aurora, reside, há anos, um casal do Algarve: Marquinhas e Álvaro. Não têm filhos e vivem do trabalho. Não
frequentam a igreija nem estão casados, segundo as suas leis,Apesar de tudo, não parecem maus e dão-se à maravilha com os meus primos. Destes, o mais acarinhado é o Zezinho, de 4 anos apenas.
Tem car ta branca, nesta moradia. Requisitado, a toda a hora, já para mesa, já por derivativo do próprio coração, rendido e sôfrego, o petiz lá vai para os braços amigos dos bons vizinhos.
Sem ele não passam. Afeiçoaram-se tanto, que o meúdo inocente já faz boa parte do seu muno íntimo.Para se divertirem, serve um periquito, que faz a vida leve à boa Marquinhas
É hábil e meigo, correspondendo aos muitos desvelos, de que a todo o momento é alvo e centro. De tudo quanto faz,, o que mais o impõe são as frases proferidas, com bastante nitidez..
Entre elas todas, avultam as seguintes: Ele é muito bonito. Anda, cá, meu queridinho! Dá-me um beijinho! Anda cá tu.
É um regalo sem par ouvir-lhe estes mimos,, que ele reproduz, sem os sentir
Pendente d a gaiola tem um guizinho, que é fonte de inspiração,
Agarra-se a ele e eis que vem logo, como por encanto. o fraseado aludido.
O coração humano tem necessidades que, por modo nenhum, podemos desdenhar ou desconhecer. Isto é na verdade, o seu alimento, Se lho tirais, ele pasmar ´

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Libboa
1970-9-10
Vinte e três horas e trhta minutos. Ontem já, aguardando na rua que me abrissem a porta 2o5,, abeirou-de mim um vulto de mulher,que logo despertou a minha atenção. Era alta, esguia, de feições regulares,, denunciando no topo a neve dos sessenta.
Na minha ingenuidade, imaginei, a princípio, que viesse talvez por informações ou quisesse dar entrada na Pensão Marinho.

Em breve, porém, desfiz a conjactura, pois os seus dizeres foram prova concludente. Com maneiras afáveis e ar de intimidade, iniccia a intervenção com estas palavras: " O senhor é que me deu ontem um belo cigarro! Muito obhrigadinha!Aih que bom que ele era! Ainda agora me sabe! O senhor parara mim é um santo!"

Neste momento, abeirou-se ainda mais e tocou-me nas mãos..
Em vão tento eu afastar-me dela! Supera as dificuldades com arte demoníaca. Contenho-me uns momentos, não sabendo, ao certo que pensar do caso. Demente? Mulher da rua? Quem o sabia?! Espreito, de novo, para o interior, mas nada havia que pudesse libertar-me! O guarda nocturno, por sua vez, também não surgiia.
Para desnorteá-la, falo-lhe em IInglês,Julgando me deixasse!.
Tudo, porém, nulo! Insisto ainda, mas ele prossegue, inalterável, e até sorridente: "Meta-me aqui este dinheirinho! Não é muito, não, que já bebi uma cerveja! Uma ou mais!"
De novo me refugio na língua inglesa. I don'understand!.
Levantando os olhos, furtivamente, continua em parêntese:
Filho da p.!
Num repente, faz-se risonha, mexendo-me no peito.
Nist, abre-se a porta e eu voo para dentro!

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Lisboa
1970-08-11...Psicologia da Criança.

3 Insinuar-se em alguém, com fim interesseiro, tal é a razão
de suas intenções. Com alvo determinado, põe logo em acção todo o arsenal, sem tomar em conta pesoou medida.. Se for preciso, , vai resoluta contra os anseios, que, por momentos, ficam sopeados. Será talvez uma gulodice, um intuito querido,

um plano lisonjeiro, Isto e muito mais.
Se elimino o interesse, nas acções humanas, extingue-se em breve a iniciativa. Que move o Santo, o menos interesseiro,?
Sentir prazer em amar a Deus.amar a Deus, pois o faz ditoso..

Este móbil de toda a hora , o lidar constante e deveras porfioso
são motivados pelo interesse de sempre agradar e obter recompensa!
Sei muito bem que o interesse é nobre e harto defensável. Tem o nosso Deus por objecto directo. Seja como for, ninguém pode afirmar que o Santo em causa proceda na vida , sem interesse!
É de notaar ainda que o amor a Deus, sendo acrisolado,, origina sempre as maiores d elícias que há, neste mundo.

Toda a vida humana tem por causa o interesse e por fim o prazer. A atitude da criança, indo contra seu querer, afim de alcançar o que apetece, demonstra bem claro ser raiz de todo o acto o chamado 'interesse'.
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Lisboa
1970-09-12...... Egoísmo a Rodos

A viida moderna é já regalada , pois o homem de hoje logra o que deseja, com pequeno esforço. Ganha que baste, levam breve os precisos diários a sua casa e não se baaaixa a ninguém. Sugestionado já, por este viver, pensa, na verdade, que todos o adoram, incluindo o próprio Deus.
É o que se chama, em boa linguagem "ser burro ao quadrado".

Com efeito, necessitamos, a toda a hora, que oa outros nos ajudem e que Deus nos ame. civilização, com seus triunfos,
desvairou o ser humano,, enchendo-o de orgulho. Não admira, pois, que preenciemos dadas atitudes, que são reprováveis.
Foi ali acima, às portas de Santo Antão. Um cavalheiro astacionou o carro, deixando-o parado, alguns segundos, junto da curva.
Neste comenos, surge um camião, que tenta avançar, não tomando em conta o dito obstáculo. Quase se colou ao pequeno veículo, mas foi em vão. Travam-se de razões, mas ninguém ajuda. Lembro então eu que é fácil resolver, puxando todos um pouco: levanta-se a traseira,, pondo-a no passeio.

Afinal, mexo-me eu agora?! Foi, exactamente, o que todos fizeram! Pedir auxílio não deve ser preciso, mas neste caso, nem sequer pedindo!.
Saí revoltado,, pois dó e compaixão já não sentem hoje os pobres mortais!
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Lisboa
1970-08-13

Passou por mim, de manhã e tentei fixá-lo, com zlgo de interesse. A mim não ligou nem sequer lhe mereci a menor atenção
Porquê tall contraste?! Curiosidade em mim ? Desprezo nele? Não é esse o caso. Trata-de de um anão, Bem apessoado, na sua exiguidade,, veste a rigor e usa na cabeça , o penteado clássico.
De sapato engraxado e olho nos carros que sobem a rua,,não apercebe de que eu o miro, insistentemente!
Ao cruzar-se com alguém, fica abaixo do meio, o que me leva a
calcular-lhe 75 centímetros Depois, nunca mais o avistei, porque ele atravessou, em direcção contrária.

Fiquei pensativo, entrando a devanear e julgando a sós como seria a existência daquele pequeno ser. Gostaria de obter pormenores abundantes, em resposta a pormenores que surgiram então. Será casado? Palpita-me que não!

Caso afirmativo, quantos filhos tem? Os descendentes conservarão, de facto, a sua estatura? Em Religião, que pensará ele?
Preocupá-lo-á o pensamento da morte?!Pensará como eu na vida eterna? Qual será, naverdade, a sua grande paixão?
Alimentará também algum ideal?!

Ainda a propõsito de convivência,, qual será para ele a mais grata de todas? A personalidade será bem definia e caractrerizada. O problema sexual terá nele cabimento? Ou será, por ventura, uma espécie de ser neutro? Insensível e apático?
Que profissão exerce? A entidade qye serve apreciará o trabalho? Quanto ganhará, para sobreviver?
Esttas perguntas e outras mais vieram ao de cima,junto às Arcadas do famoso Palácio de Antão de Almada.

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Lisboa
1970-08-14

Depois de amanhã, perfaz-se um mês que cheguei a Lisboa.
Até 25 do mês passado tudo correu bem, pois estava minha irmã e, juntamente, os nossos pequenos, Com suas traquinices, e caprichos infantis,, o que é próprio da idade, criavam ainda assim um ambiente acolhedor, em que sentia reviver a fundo toda a minha alma.
Agora, porém. desconhecido e só,, é apenas o vácuo a encher-me o peito... o tédio constante a dominar-me!. Ignoro até para que sirvo eu e não acho realmente, justificação, para a minha existência.
Não tenho o que desejo... faltam ainda sonhos de interesse, a que a+llique também as potencialidades.. Sou um homem falhado, numa vida sem rumo, actividade vaga,, que não tem objectivo, morrendo sobre si.. No entanto, pesam nos meus ombros encargos onerosos, a que eu, na verdade, tenho de responder.
Não será isto verdadeira extosão? e até um contra-senso?!
Quem me dera já bem longe de Lisboa, e de mim também! Estes ruídos aturdem a cabeça; estes gases sufocam a garganta e, do mesmo passo entoxicam os pulmões; este movimento cria-me vertigens.

Para onde caminha tudo quanto vejo, como impelido por uma força poderosa que se furta a meus olhos?! Uns vão, outros vêm; um corre à direira; logo outro´`a esquerda; este é que avança, recuando aquele.
Eu, meditabundo, solitário entre gentes, ansioso por um cantinho, sossegado e calmo,, deilito-me aqui, na minha impotência!
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Lisboa
1970--08-15

Zezinho e Álvaro. Este algarvio, embora casado, não teve filhos
junto à mulher e ao tal periquito, decorrem os seus dias monotonamente..Para além dos carinhos da esposa .Marquinhas e do palrar frequente da avezinha, falta algo mais que lhe sacie o coração. Está bem patente que a vida anímica tem exigências a que não pode fugir-se e que, por outro lado, não basta, realmente, a vida sexual, com excessos e aventuras.

A planta, em geral, tem por fim dar fruto, e os frutos do homem são, na realidade, os filhos queridos do seu amor., haverá barreira que possa travá-la? A natureza, com força incontrastável, galopa sobre tudo, assim que vença as amarrras e paralize todos os obstáculos.
Como solução para o seu problema,. aproveitou o Álvaro as graças e encantos do Zezinho Prazeres,, que mora, paredes meias.
Anda ele agora, pelos 4 anos e é muito esperto. Acarinhado pelo vizinho, foge para ele., sorri-lhe fascina-o. O Álvaro, então ,
afeiçoou-se, a valer, e já não é capaz de prescidir do meúdo.

Ao ghegar a casa, é por quem pergunta. Mal disposto que ande, se aparece o meúdo, vem de pronto, a alegria. D´-lhe de comer, sendp preciso, assoa-o também a seu próprio lenço e dispensa-lhe carinhos que s´a filhos se dão.

Se dorme a sexta, vai antes por ele,; se traz chocolates, castanhas ou nozes, são para o 'menino' e, se este não surge, anda tudo pelos ares!, na casa deserta..
Numa palavra, o Zezinho Prazeres é o sol da moradia.

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Lisboa
1970-09-16

"Vamos embora! Quem quer bilhetes?!

Descida ali a Rua do Carmo, fazendo caras à direita, encontra-se um rapaz,, bastante diminuído, em corpo e alma.. Sentado no chão, trava o combate que a vida lhe impõe : granjear o pão,
à custa de suor.
Quem tem saúde lluta com denodo, sentindo no íntimo grsade alegria. Mas aquele?! O rosto macilento, os olhos encovados, a
postura dum vencido, sem esperança nem sonbra de alento, braços e pernas bastante mal cobertos de pele descorada, era a imagem da morte, com um sopro de vida! Esta, embora débil,
porfiava em manter-se!
Aproximo-me um pouco e que noto eu?! Uma desgraça nunca vem só!
Ao tirar do peito, já sem alento nem visos de esperança, aquela frase esteriotipada, abria enorme boca, fazendo, ao mesmo tempo visagens demoníacas e babando-se todo! Os olhos dele,
amortecidos e tristes, giravam lentamente, com esgares medonhos!
As cautelas molhadas recebiam mais saliva e eram
manuseadas pelas mãos do infeliz, com grande frenesi Detive-me ali como preso de feitiço. Por mais que fizesse, não havia arrancar!.
Muita gente que passava condoía-se também, comprando~lhe jogo. Novo problema: tirar a cautela, desligando-a das outras que se espalhavam no chão. Recebido o dinheiro, aproximava-o dos olhos,. para inteirar-se de que estava certo.
Infeliz rapaz!! Chorei por ti! Ignoro, realmente, se alguém mais ali o fez também.
Que Deus na eternidade te conceda em grandeza, prémio igual à miséria, em que vives, neste mundo.

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Lisboa
1970-09-17........Santa Eufêmia

Este nome de feitiço ressoa nos m us ouvidos, falando-me de tempos, em que eu era bem feliz ! Doces hamonias que fazem sonhar me verte no peito, desligando-me da vida. O descuidoso
passado, em que fui tão ditoso quem foi que mo levou, para não voltar?!
Oh! quem me dera reavê-lo, para então me banhar em seus doces eflúvios e, assim, adormentar a dor que me punge! Santa
Eufêmia de Celorico da Beira, dia belo e vivido, mil vezes sonhado, que me lançavas no seio tanta paz e ventura!

Que sonhos deleitosos, à volta deste nome e das várias ilusões que gerava em minha alma! Era, na verdade, um dia sem igual, . Quanto não daria, para vivê-lo em cheio, no doce remanso do lar tão querido!para o sonho - realidade.

" Se fores obediente e te portares bem,, trago-te um assobio!"
Era assim a voz terna de alguém que eu muito amava e a more levou! Essa voz dissipou-se e, após isso, tudo o mais se esvaiu, na minha alma saudosa! Assobios e realejos,, flautas e costilhos,, bonecos e bengalas, carrocel e carrinhos , rebuçados e amêndoas, quem veio cercear-vos a aura divina que tinheis para mim?
Foi o tempo, na verdade, que degriu vossa face?! Ou fui eu que mudei e deixei de vos querer?!

Aih! fogo de artifício, a riscar belamente o céu do castelo, que os meus olhos, deslumbrados, contemplavam da serra?!
E tudo o vento levou, com fúria destruidora, deixando-me a braços com a pura realidade!

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Lisboa
1970-09-18

Passa tudo aos pares e eu caminho só. por vereda solitária que alguém me traçou! E sse alguém não foi Deus: era homem como eu. falível e pequeno, como é todo homem. Apontou-me o caminho, sem falar de outro modo que não fossem grandezas ou vitórias retumbantes! Confundiu com a sua a vontade do Senhor, nivelando com a terra aquilo que é do Céu.

Fechou os meus olhos, só ppara não ver o que importava observar, afim de que eu, estando obcecado, não pudesse escolher.
Era crédulo então, pois via nos homens o Senhor do Universo, mas eles são anões , em presença do Gigante! Não pensei que se enganavam, podendo enganar-me,ao dizer que partisse,
embora sem companhia.

O homem é gregário e precisa dum lar. onde repouse a cabeça e tenha conforto; onde sinta que é, de facto alguém e domine como rei; onde possa escutar doces vozes de filhinhos; onde veja um braço amigo, pronto sempre a defendê-lo e a cingir-lhe, protector, o busto encurvado pelos anos da vida.

É palavra da Escritura: " Não é bom que o homem esteja só!" Logo veio a companheira, doce amiga, Eva-mãe.
Pois se Deus criara o homem, bem sabia como era: ao traçar-lhes o caminho, juntou logo dois, afim de se ajudarem. Amor humano, resistente apoio lançado por Deus, em nossos corações !
Tu não te opões ao amor divino, que é base segura, para te realizares. Mulher casada ou ainda solteira, é esposa de Deus.
O mesmo sucede, no tocante ao homem, sem que nada importe o seu estado civil, Nunca Deus tem inveja deste amor que criou. Tudo lhe pertence:casados e solteiros.

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Lisboa
1970-09-19

Vinte e três horas e trinta minutos. Acabo de chegar a este quarto nu, que nada me diz e sempre se apresenta de as.pecto carregado. É gelado e mudo como é, realmente, a pedra que o forma. Aqui, na antiga Rua, que chamam dos Correeiros,, venho eu passar longas noites a fio sem alma a quem lembre nem sorriso que enfeitice.. Falta, realmente , o desvelo de alguém, as carícias qe inebriam os nomes que são alento, os vagidos que enlouquecem! Mas isso que dá vigor e infunde animação, escasseia no local, onde apenas fazem eco os meus tristes ais.
Eco não fazem, por não achar peito, onde vão repercutir-se. Ficam sufocados, no peito dorido, que vai agonizando. em fundos estertores.

Como é doloroso chegar eu aqui, não surgindo alguém que me espere em alvorço! É doloroso abeirar-me do repouso, sem um coração que bata por mim! Se entro nas casas, ninguém me espera lá nem deseja que eu venha! E à partida?!

No cemitério. ali em Benfica,, ouvi hoje uma voz, dolente e sufocada: " Adeus, querido pai, até à eternidade!" Era tão veemente, penetrante e dolorida, que logo se gravou no meu coração!
Quando eu partir, alguém sofrerá?! Será como agra a chegada a este quarto. Ouvirei o silêncio a quebrar a mudez que há-de envolver-me.,
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Lisboa
41970-09-20..........Gaguez.
Esta deficiência nota-se, por vezes, já nas crianças , por volta dos 4 anos.

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